Louquética

Incontinência verbal

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

O velho jogo


Li o texto dela e senti tanta dor. Senti dor por ela, tão nova, que nem deveria saber o que é decepção mas já expressa seu pavor por notar que as pessoas não se unem, não se casam por amor, mas por adequação e fatores que primam pelo ajustamento, lucro, interesse ou negócio.
Não era para ela saber disso ainda. As pessoas precisam de ilusões que as façam viver num mundo melhor que só existe nas melhores ilusões.
Não era para ela saber que as pessoas se casam por medo de morrerem sozinhas; ou porque quererem pôr na gaiola o pássaro mais bonito que encontraram, mediante certidões e algemas sociais.
Tão nova, e já sabe o que é traição!
Tão nova, e já viu que o amor nem sempre vence...
Isso é coisa para bem depois dos 29.
Eu também queria saber se ela percebe o quanto todos sofrem na roda das hipocrisias.
Uma coisa é você saber que os parceiros infiéis são pouco mais de noventa por cento.
Outra coisa é saber as artimanhas, a vida dupla, o cara que está sempre com você até às 22h30min e finge ir dormir porque no dia seguinte trabalha; mas que todos sabemos que vai ao encontro de outras, que arrasa na internet, está nos bate-papos, no Tinder, no What's app, sempre com um chip a mais para tocar essa vida dupla, num trabalho minucioso para parecer fiel.
Eu já odiei esses aí, tão hipócritas e fingidos. Hoje eu vejo que sofrem sem perceber, porque vivem na mentira, precisam esconder tudo, viver no sobressalto, temer, interpretar, se esconder...Se camuflar e camuflar seus desejos.
Como pode alguém achar que o Outro só deseja a si? E quem a gente pensa que é, para ter ciúme de alguém, como se a pessoa só pudesse desejar a gente? E por que temer tanto perder o Outro e ter nos seres desejados verdadeiros rivais, já que o verdadeiro rival é o desejo?
Ela, assim como eu, preferiu a sinceridade.
Vai ficar sozinha por longo tempo, como eu fiquei...Como devo voltar a ficar em breve, porque fiz outras escolhas e outras descobertas e meu relacionamento com o poeta já está ficando enfadonho para mim. E não vou assumir namoro nenhum, porque nunca assumo mesmo. Gosto dele, mas tem uma chateação, um script, um roteiro nos nossos encontros que, se não fosse por eu gostar tanto de sexo, já teria virado a mesa.
Odeio previsibilidade do tipo a que me refiro.
Consequência, metodologia, roteiro e planejamento, é bom e eu pratico...Mas, essa coisa encenada, chata, como receita de bolo, ai, isso me mata!
Mas, voltando ao caso, coitada da moça. Era cedo demais para ver o mundo sem máscaras.
Em tempo, eu também gostaria de pedir desculpas a  mim mesma, a V., ao planeta, porque se ele não me queria, tudo bem, o erro foi dele ao me procurar, ao propor e depois cair fora. Entretanto, se passei a gostar dele por algo que ele acionou e despertou, errei muito ao querer que ele me correspondesse.
Oh, gente, deixe em paz quem você ama, caso essa pessoa não ame você,
O melhor que tal pessoa pode lhe dar é a sinceridade. Se não nos ama, não adianta forçar a barra, fazer de tudo, correr atrás...Isso é receita para a infelicidade. Eu responsabilizei muito V. pelo que eu sentia  por ele, e isso foi errado. É como querer obrigar alguém a se converter à nossa Religião, a ser torcedor de nosso time; a integrar nosso partido...Forçar, cobrar, exigir...E sentimentos não agem na razão direta da própria razão objetiva. Isso seria corroborar as mais duras decepções que minha jovem amiga teve.

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