Louquética

Incontinência verbal

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Dos dias turvos


Por que nem todo dia nós somos felizes, nem todo dia há o que comemorar. Hoje, por exemplo, estou bem triste, aquela tristeza que pega a vida inteira, em todos os aspectos, embora, na verdade, eu só tenha dois problemas.
Acho que isso é tipo aquelas dores que a gente tem numa parte do corpo, mas que se irradia para outras.
A dor também irradia sobre minha relação com o meu pai. Eu queria mesmo saber se eu o perdoei ou se me engano, porque sempre a mágoa volta. É uma mágoa assim tipo algo perto da decepção.
Para entender a mim mesma, me coloco no lugar dos que me amam e não são correspondidos e que, por isso, têm atitudes de ódio contra mim: como se eu fosse obrigada a amar, como se eu devesse amar por gratidão e reconhecimento a certas qualidades, como se eu, necessariamente tivesse escolha consciente e deliberada, como se eu escolhesse um amor tal como se eu entrasse no supermercado e escolhesse o melhor produto.
Até que eu queria. Assim, não amava gente errada, não me gastava em relações destrutivas e tóxicas, como outrora.
No caso, sou filha única. Meu pai acha um desgosto eu ter estudado tanto, pois que fiquei imprestável para casamento. Para ele, os livros tomaram o lugar dos filhos (netos) e a orgulhosa pertença a mim mesma, isto é, o celibato, me deixou desprotegida, sem um homem, sem um amor.
Meu pai acha que eu nunca deveria ter deixado de ser militar. Que a vida é isso: a gente perde prazeres, perde tempo, mas ganha dinheiro. O mais importante é ganhar dinheiro. Segundo meu pai, toda a insatisfação cala frente ao fato de que no fim do mês o Estado me pagaria. Estabilidade é isso: tem tédios, mas tem segurança...como os casamentos...ou nem sempre.
Eu, assim como os meus mal-amados, acho que merecia ser amada. Mas meu pai nem sabe se estou viva ou morta. Às vezes, ele traz as angústias dele para conversarem comigo: ele sabe que eu sou compreensiva e tem em alta conta minha clareza com a vida.
Hoje, também, perdi num concurso importante. Importante para mim, porque era onde eu queria, no que eu queria. Não tenho vergonha de fracassar, nem invento palavras consoladoras: perdi por bem pouco. Perdi. Perdi tempo, dinheiro, sonhos e um bocado de disposição.
Não faço concurso por experiência. Faço para passar. Experiência com alto custo, com inscrição a R$ 200,00 e mais R$ 80,00 em postagens, documentos e xérox, fora os preços de hospedagem, alimentação e transporte, eu não quero. Não gasto tanto por uma experiência. Tem gente que é cara de pau, faz, perde e fica com cara de gostoso dizendo que concorreu por experiência. Ora, tem formas mais honestas de perdoar a si mesmo.
Bom, essa sou eu. Sou meio radical, íntegra nas emoções. Se amo, amo...Mas no dia em que digo ‘nunca mais’, sempre temo, porque ergue-se, ali, um muro na fronteira do orgulho e da honradez pessoal, pois que é minha palavra. E muita mais é um tempo tão longo quanto o para sempre. Ou um é o mesmo que o outro. Sei que eu disse ‘nunca mais’, anteontem. E sei muito bem o que eu disse.
Minha amiga, hoje, derramou razão sobre mim: falou que um affair de tempos atrás deixou uma chamada no Skype, à qual ela não deu retorno. E me disse: “Ele é baixinho, tem uma boca horrível, é todo feio...como eu pude me dizer apaixonada por ele? Onde eu estava com a cabeça? O que foi aquilo? Bem que você me disse!”.
Eu disse que não era paixão nem poderia ser, porque nem houve tempo. Nunca vi o “sultão carinhoso’ e, portanto, nunca o critiquei fisicamente. Mas olha o que dá quando a Bela Adormecida acorda?
Acordou do pesadelo e não reconheceu a si mesma de outrora.
A gente deveria ouvir mais os conselhos dos amigos e seus pareceres.
Nem estou nessa mesma condição, mas aprendi a não querer mais certos flertes. Deixa para lá. Deu muito trabalho esquecer Vini, fazer F., G.P. e FJ me deixarem em paz...Sai caro, emocionalmente falando, investir em se livrar de gente que a gente não quer.
É, como a tristeza está aqui, vou levá-la a um passeio amanhã, vamos ficar a sós, vamos nos entender...Quando ela quiser ir embora, eu vá. Nesse caso, é uma visita esperada. Mas é uma visita: vai embora. Nem preciso espantá-la a vassouradas;


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