Por que nem todo dia nós somos felizes, nem todo
dia há o que comemorar. Hoje, por exemplo, estou bem triste, aquela tristeza
que pega a vida inteira, em todos os aspectos, embora, na verdade, eu só tenha
dois problemas.
Acho que isso é tipo aquelas dores que a gente tem
numa parte do corpo, mas que se irradia para outras.
A dor também irradia sobre minha relação com o meu
pai. Eu queria mesmo saber se eu o perdoei ou se me engano, porque sempre a
mágoa volta. É uma mágoa assim tipo algo perto da decepção.
Para entender a mim mesma, me coloco no lugar dos
que me amam e não são correspondidos e que, por isso, têm atitudes de ódio
contra mim: como se eu fosse obrigada a amar, como se eu devesse amar por
gratidão e reconhecimento a certas qualidades, como se eu, necessariamente
tivesse escolha consciente e deliberada, como se eu escolhesse um amor tal como
se eu entrasse no supermercado e escolhesse o melhor produto.
Até que eu queria. Assim, não amava gente errada,
não me gastava em relações destrutivas e tóxicas, como outrora.
No caso, sou filha única. Meu pai acha um desgosto
eu ter estudado tanto, pois que fiquei imprestável para casamento. Para ele, os
livros tomaram o lugar dos filhos (netos) e a orgulhosa pertença a mim mesma,
isto é, o celibato, me deixou desprotegida, sem um homem, sem um amor.
Meu pai acha que eu nunca deveria ter deixado de
ser militar. Que a vida é isso: a gente perde prazeres, perde tempo, mas ganha
dinheiro. O mais importante é ganhar dinheiro. Segundo meu pai, toda a
insatisfação cala frente ao fato de que no fim do mês o Estado me pagaria.
Estabilidade é isso: tem tédios, mas tem segurança...como os casamentos...ou
nem sempre.
Eu, assim como os meus mal-amados, acho que merecia
ser amada. Mas meu pai nem sabe se estou viva ou morta. Às vezes, ele traz as
angústias dele para conversarem comigo: ele sabe que eu sou compreensiva e tem
em alta conta minha clareza com a vida.
Hoje, também, perdi num concurso importante. Importante
para mim, porque era onde eu queria, no que eu queria. Não tenho vergonha de
fracassar, nem invento palavras consoladoras: perdi por bem pouco. Perdi. Perdi
tempo, dinheiro, sonhos e um bocado de disposição.
Não faço concurso por experiência. Faço para
passar. Experiência com alto custo, com inscrição a R$ 200,00 e mais R$ 80,00 em
postagens, documentos e xérox, fora os preços de hospedagem, alimentação e
transporte, eu não quero. Não gasto tanto por uma experiência. Tem gente que é
cara de pau, faz, perde e fica com cara de gostoso dizendo que concorreu por
experiência. Ora, tem formas mais honestas de perdoar a si mesmo.
Bom, essa sou eu. Sou meio radical, íntegra nas
emoções. Se amo, amo...Mas no dia em que digo ‘nunca mais’, sempre temo, porque
ergue-se, ali, um muro na fronteira do orgulho e da honradez pessoal, pois que
é minha palavra. E muita mais é um tempo tão longo quanto o para sempre. Ou um
é o mesmo que o outro. Sei que eu disse ‘nunca mais’, anteontem. E sei muito
bem o que eu disse.
Minha amiga, hoje, derramou razão sobre mim: falou
que um affair de tempos atrás deixou uma chamada no Skype, à qual ela não deu
retorno. E me disse: “Ele é baixinho, tem uma boca horrível, é todo feio...como
eu pude me dizer apaixonada por ele? Onde eu estava com a cabeça? O que foi
aquilo? Bem que você me disse!”.
Eu disse que não era paixão nem poderia ser, porque
nem houve tempo. Nunca vi o “sultão carinhoso’ e, portanto, nunca o critiquei
fisicamente. Mas olha o que dá quando a Bela Adormecida acorda?
Acordou do pesadelo e não reconheceu a si mesma de
outrora.
A gente deveria ouvir mais os conselhos dos amigos
e seus pareceres.
Nem estou nessa mesma condição, mas aprendi a não
querer mais certos flertes. Deixa para lá. Deu muito trabalho esquecer Vini,
fazer F., G.P. e FJ me deixarem em paz...Sai caro, emocionalmente falando,
investir em se livrar de gente que a gente não quer.
É, como a tristeza está aqui, vou levá-la a um
passeio amanhã, vamos ficar a sós, vamos nos entender...Quando ela quiser ir
embora, eu vá. Nesse caso, é uma visita esperada. Mas é uma visita: vai embora.
Nem preciso espantá-la a vassouradas;
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