Louquética

Incontinência verbal

sábado, 22 de outubro de 2016

É fogo!


Eu não sei por que me metem em histórias alheias à minha história, mas o tempo me ensinou a calar a boca. Para isso temos ouvidos. Ouço e me calo.
Já vão três vezes seguidas em que terceiros me procuram para comentar coisas a respeito de gente que nem mais é minha amiga...Posso deduzir que querem que o recado chegue ou que a notícia se espalhe. Comigo não cola: não comento. O que chega aos ouvidos, morre nos ouvidos.
Ainda no tocante ao concurso, minha amiga passou em primeiro ugar. Passou e não sossegou, pois que reconhece que esta vitória foi patenteada pela simpatia étnica da presidente da banca, nossa ex-professora e que havia gente muito melhor qualificada ali.
Sim. Na verdade, nem ela, nem eu merecíamos a vitória. Mas entendo o cálculo moral que a presidente fez, face ao fato de nosso país ser como é.
Minha amiga é muito competente e inteligente, foi premiada por seu trabalho acadêmico de mestrado. Mas os demais pareceram burgueses em busca de emprego. E em maioria, era isso mesmo.
Então, me perguntei se nas situações limite deve-se dar o prêmio a quem merece ou a quem precisa. Esse tema me traz certa angústia, porque eu não gostaria de ser (novamente) subtraída em meus direitos por questões de simpatia ideológica ou de qualquer ordem.
Mas entendo que, para o contexto, foi a melhor decisão, sim.
Nem sempre a justiça é, por assim dizer, justa.
Nem minha amiga acreditou no desfecho do processo. E sente muito pelas manchas morais advindas da referida simpatia da presidente claramente tendenciosa. Agora, é comemorar o prêmio e não reproduzir o que a gente condena.
Deus me livre disso.
Deus me livre de reclamar da injustiça e praticar deliberadamente a injustiça.
Bem, sou inquieta e hoje tomei uma cutucada de um amigo maravilhoso: perguntando a mim acerca dos amigos que estavam no exterior, respondi. Respondi a ele e a mim mesma, em paralelo. É que pedi exoneração três vezes, de empregos estáveis, públicos. Porque também não sou feliz ao preço da estabilidade. Esta estabilidade que cheira a naftalina, que faz você repetir seus dias num serviço que se incorpora às chatices da existência, em que as pessoas vão ficando e fazendo a contagem regressiva para a aposentadoria.
Um dia, uma médium me perguntou qual era o meu talento. Eu não sabia. Ela disse que era a busca.
Daí que, ao responder ao meu amigo, eu disse que meus amigos estavam de volta ao Brasil, cada qual em paz, no seu emprego estável. Mas meu amigo me perguntou: "E é isso que você quer? Paz?"...
Ele me conhece demais, sabe que a paz é uma pasmaceira sem graça, que a gente quer paz porque quer descanso e que quando eu falo em estar em paz é sempre uma abstração, do estar quieta, mas não na quietude do sepulcro.
Quando eu digo que tenho fogo no espírito, digo além da visão óbvia e engraçadinha: eu não sei ficar quieta, 'esperando, parada, pregada na pedra do porto". Eu, ao contrário, 'quero correr mundo, correr perigo'. As estabilidades que eu gosto é da rotina boa, à base de disciplina, tipo: saber que vou à academia, ao centro espírita, que vou ler, que vou sair, tudo com horário e planejamento, porque não vivo sem planejamento, organização e método. Admito. Odeio coisas aos 44 do segundo tempo; odeio efeito-surpresa. Sou uma pessoa 'e se...", ou seja, sempre tenho um plano B e mil planos preventivos e antevisão sobre o que fazer caso algo saia do eixo.
Mas eu gosto de praia e de festa. Gosto de ser desafiada e de ter o que fazer. Não sei mofar, quietinha, sob a ação do tempo.
Tenho medo da velhice por isso: quando minha mobilidade ficar reduzida, como vou me virar, se o fogo é no espírito e não somente no corpo?
Coisa que queima meu juízo é pensar nisso.

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