Louquética

Incontinência verbal

sábado, 1 de outubro de 2016

Futuro do presente


Há pouco eu falava a respeito de uma declaração de uma amiga a um canal de TV, em que ela dizia que no trabalho artesanal do bordado, se ela se propõe a fazer um trabalho para presentear alguém, está dando de si. Por isso, não vale fazer comercialmente, nem ter visão do tempo comum, do prazo...É lazer, é higiene mental e é um gesto amoroso.
Ela é minha amiga Déa, doutora e professora do ensino superior. Mas, na tela, a tarja a identifica como ‘bordadeira’, porque ali, no contexto, ela era. Não era espaço para hierarquizar e esfregar  na tela títulos acadêmicos, anexando-os à função de que se fala. Não é depreciativo nem humilhante ser bordadeira.
Entendi perfeitamente e me identifiquei.
Você pensa numa pessoa e projeta um bordado, um presente para ela. Há uma elaboração mental e afetiva nisso. Sou assim para comprar presentes. Também para recebe-los. Com muito orgulho e amor, guardo coisas confeccionadas para mim.
Isso de personalizar um presente, para mim, é mais que dar uma cara a ele.
Projeto sempre o que dar de presente. Penso na pessoa a quem darei. Certamente que me dou junto, porque não sou de dar presentes para ‘cumprir tabela’: eu penso na pessoa, no que ficaria bem para ela, cogito, elaboro...Nunca daria porcaria a ninguém – e aqui não falo de preços, mas de qualidade afetiva no que escolho.
Já dei presente sem alma a gente sem alma, gente que se importava mais com o status da marca do que com o valor agregado do peso simbólico emocional que ali eu punha. Muita gente, das quais o meu pai.
Presenteio por amor. Não sinto a falta monetária do dinheiro investido. Não é este o caso. O presente é quase um totem que diz o quanto me importo com aquela pessoa. Tivesse eu muito dinheiro, talvez desse coisas proporcionais às minhas posses, mas afetivamente nunca seria mais do que é agora.
Já penso no presente para meu maior amigo. Maior, não melhor. Todos são melhores, pois são melhores que eu em muitos aspectos e não os vejo com essas diferenças entre si, não faço hierarquia de afetos. O ‘maior’ é porque vivemos muitas coisas juntos. Segredos, crises, alegrias...E a amizade tem tempo demais, proporcional às vivências conjuntas, inúmeras.
Sem fazer média, cada amigo tem especificidades.
O mais difícil e presentear namorados, ficantes e afins. Terei problemas em presentear meu poeta favorito, que aliás, vem incorporado meu discurso e meu pensamento, sem se dar por isso. E ainda bem que ele disse que me acha bruxa...um pouco mais bruxa que as outras mulheres: pensa que manipulo elementos, atuo e ajo sobre o destino das coisas, manipulando, também, a consciência dele. Imagine...
Estou feliz por quatro coisas: consegui falar e ser ouvida e entendida pelo cara de Salvador, eterno insistente, aquele com quem fiquei no carnaval, que entendeu que não ficaremos nunca mais e que eu não estou interessada; o mesmo se aplicando ao idiota do GP, que ainda teve que me ouvir dizer que ‘não me falta nada’, ou seja, ‘’não te quero mesmo’; também o ‘Zé Bonitinho’ tomou um bem entendido fora (fala sério: rebanho de homem descompreendido, que não se toca de que não quero nada com eles) e, acima de tudo, rompi a amizade e excluí do Facebook e da vida uma amiga forçada, de quem eu era amiga por obrigação moral e paciente piedade, depois de 23 anos de opressão, intercalada por distâncias geográficas esporádicas.
Escrevo sobre isso porque se eu pudesse diria a cada um que tem um amigo mala, uma relação obrigatória: chute o balde. Rompa!
Eu deixei de frequentar lugares, de estudar no cento espírita neste ano, para não aturar a referida mala, para não dar carona e aturar 15 minutos de tortura, com assuntos ridículo e perguntas do tipo FUVEST, em que ela avaliava meu conhecimento sobre Literatura e cultura geral.
Pessoa terrível, vingativa e descontrolada esta de quem falo. Não aconselho ninguém a esperar 23 anos para se livrar de gente assim.
Não se demore no que não te faz feliz (emprego, namoro, amizade, país, curso): apenas elabore e projete a ruptura que pretende. Pode levar tempo, mas antes levar tempo e se efetivar, a romper num átimo e voltar atrás.

Voltando ao caso, adoro presentear meus amigos. É minha forma de agradecer a Deus por cada um deles, que são meus presentes maiores nesta existência.

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