Viver é sempre uma
surpresa, mesmo que os dias não nos traga grandes novidades.
Sou uma pessoa alegre,
o que não significa que sou feliz todos os dias, nem que não me faltem
problemas.
Hoje é dia dos
Finados e eu sempre brinquei com meus amigos apagados, aqueles que cheiram a
naftalina, que nunca querem sair, ou, se querem, é mais para ter o que exibir
no Facebook do que propriamente para aproveitar a vida; aqueles outros, que
querem viajar para o mundo ver e não para ver o mundo, graças a Deus, são
poucos. Mas é interessante isso de quem tem uma infelicidade intrínseca
crônica...Ah, para esses, não tem tempo bom.
Pessoas desse tipo
estão tristes mesmo que tudo dê certo e que nada lhes falte; não sabem
agradecer por nada que têm, nem reconhecer o que há de melhor me si: vivem
sempre suas faltas, convertem algumas em inveja e todas em depressão.
Há coisas, tendência e hábitos que são uma morte. Por isso, todos os dias tento
corrigir meus ciúmes. Hoje, já me entendo bem com ele, pois que está aí algo
que detonava meu humor.
Sinceramente, se me
olho e reconheço que meu desejos não giram exclusivamente em torno de um homem,
quem sou eu para exigir que ele deseje apenas a mim? E não seria uma mentira? E
se a fidelidade for proporcional à vigilância, ela existe? E se eu me preocupar
em vigiar e o outro desenvolver verdadeiras técnicas de disfarce da infidelidade,
isso seria ser fiel?
Não, os meus olhos
percorrem corpos; sonham contatos, imaginam, desejam. Sou humana e sou normal.
Os olhos dele também são humanos.
Decerto que acho ele
lindo, lindo, lindo o bastante para concentrar meus olhos deslumbrados e fixar
meus sentidos, outros há que os meus olhos buscam.
Sou tranquila: olho
disfarçadamente. E sei quem eu quero. Minha fidelidade depende, também, de
minha satisfação – seja com o homem com quem estou, seja a de meus instintos.
Não sou tolerante
com os ciumentos: acho feio. Não vejo graça em escândalos, em supostas brigas
de amor...Já aprontei, outrora, por vingança e ódio da desfaçatez do cara, mas
não repetiria isso jamais.
Quantas vezes pensei
que amei, mas era apenas histeria doentia? Mas eu não sabia. Hoje eu sei que só
amei duas vezes. Se o resto foi amor, duvido: me parecem arestas de uma
tendência doentia. Ora foram experiências profundas, ora foram frutos de meus
desesperos, tipo eu e FJ. E que bom que tudo se transforma.
Perdi a capacidade
de sair com certas amigas: nem mais convido, porque não gosto de andar com
gente morta, que vai à festa morrer de sono, querer voltar cedo ou se encher de
álcool.
Gosto de gente com
fogo no espírito. Gente que gosta de sol, de música e de movimento. Não gosto
de arrastar mortos atrás de mim, nem de gente que sai junto e não tem fairplay,
que viaja para brigar, que nunca tem flexibilidade. Deus me livre! Por isso, saio
cada vez mais só; ou com pares repetidos, daqueles que agitam e têm uma luz de
boate na aura.
Deus abençoe aos
mortos e os tenha em santa paz.
Os que, para mim,
morreram, que o Pai afaste sempre de mim, em igual santa paz.
Os que são
vivos-mortos, que nossos caminhos nunca se cruzem, porque não sou múmia, não
sou contemplativa, sou viva, me movimento e não me entendo bem com esse tipo de
ser, antagônico ao meu jeito. Deixa cada um no seu jazigo, no sepulcro e suas
estabilidades mal escolhidas...Ali jazem.
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