Louquética

Incontinência verbal

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Mortos Ao vivo


Viver é sempre uma surpresa, mesmo que os dias não nos traga grandes novidades.
Sou uma pessoa alegre, o que não significa que sou feliz todos os dias, nem que não me faltem problemas.
Hoje é dia dos Finados e eu sempre brinquei com meus amigos apagados, aqueles que cheiram a naftalina, que nunca querem sair, ou, se querem, é mais para ter o que exibir no Facebook do que propriamente para aproveitar a vida; aqueles outros, que querem viajar para o mundo ver e não para ver o mundo, graças a Deus, são poucos. Mas é interessante isso de quem tem uma infelicidade intrínseca crônica...Ah, para esses, não tem tempo bom.
Pessoas desse tipo estão tristes mesmo que tudo dê certo e que nada lhes falte; não sabem agradecer por nada que têm, nem reconhecer o que há de melhor me si: vivem sempre suas faltas, convertem algumas em inveja e todas em depressão.
Há coisas, tendência e hábitos que são uma morte. Por isso, todos os dias tento corrigir meus ciúmes. Hoje, já me entendo bem com ele, pois que está aí algo que detonava meu humor.
Sinceramente, se me olho e reconheço que meu desejos não giram exclusivamente em torno de um homem, quem sou eu para exigir que ele deseje apenas a mim? E não seria uma mentira? E se a fidelidade for proporcional à vigilância, ela existe? E se eu me preocupar em vigiar e o outro desenvolver verdadeiras técnicas de disfarce da infidelidade, isso seria ser fiel?
Não, os meus olhos percorrem corpos; sonham contatos, imaginam, desejam. Sou humana e sou normal. Os olhos dele também são humanos.
Decerto que acho ele lindo, lindo, lindo o bastante para concentrar meus olhos deslumbrados e fixar meus sentidos, outros há que os meus olhos buscam.
Sou tranquila: olho disfarçadamente. E sei quem eu quero. Minha fidelidade depende, também, de minha satisfação – seja com o homem com quem estou, seja a de meus instintos.
Não sou tolerante com os ciumentos: acho feio. Não vejo graça em escândalos, em supostas brigas de amor...Já aprontei, outrora, por vingança e ódio da desfaçatez do cara, mas não repetiria isso jamais.
Quantas vezes pensei que amei, mas era apenas histeria doentia? Mas eu não sabia. Hoje eu sei que só amei duas vezes. Se o resto foi amor, duvido: me parecem arestas de uma tendência doentia. Ora foram experiências profundas, ora foram frutos de meus desesperos, tipo eu e FJ. E que bom que tudo se transforma.
Perdi a capacidade de sair com certas amigas: nem mais convido, porque não gosto de andar com gente morta, que vai à festa morrer de sono, querer voltar cedo ou se encher de álcool.
Gosto de gente com fogo no espírito. Gente que gosta de sol, de música e de movimento. Não gosto de arrastar mortos atrás de mim, nem de gente que sai junto e não tem fairplay, que viaja para brigar, que nunca tem flexibilidade. Deus me livre! Por isso, saio cada vez mais só; ou com pares repetidos, daqueles que agitam e têm uma luz de boate na aura.
Deus abençoe aos mortos e os tenha em santa paz.
Os que, para mim, morreram, que o Pai afaste sempre de mim, em igual santa paz.
Os que são vivos-mortos, que nossos caminhos nunca se cruzem, porque não sou múmia, não sou contemplativa, sou viva, me movimento e não me entendo bem com esse tipo de ser, antagônico ao meu jeito. Deixa cada um no seu jazigo, no sepulcro e suas estabilidades mal escolhidas...Ali jazem.


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