Não é somente o
Ex-Grande Amor da Minha Vida: algumas amigas (e ex-amigas), adoram grude e amor
ostensivo.
Fazer cenas,
escândalos em público por ciúmes descabidos, exibir o amor em outdoors, mostrar
e fotografar intimidades de presentes que só dizem respeito a duas pessoas,
como a tecer aquele ‘amor de dar inveja’, ao qual só faltam as pétalas de rosa
caindo do helicóptero.
Não acho
exatamente feio tudo isso. Quando eu não amava, achava que era assim que
deveria ser. Eu não sabia que era uma forma doentia de lidar com sentimentos.
Achava o máximo quem tinha um amado que presenteava ostensivamente. Hoje, sei
que não é assim.
As pessoas estão
cada vez mais sós, ainda que casadas, ainda que enturmadas – só falta a coragem
de assumir.
Há coisas que eu
também escondo de mim mesma, para a minha proteção. Mas no mais geral, penso e
discuto sobre a morte, que um dia virá me buscar; sobre perdas, decepções,
velhice, términos...Tipo de coisas que é melhor nem pensar, mas que convém pensar.
Escolhi não ter
filhos e desde criança nunca vi barato em ser mãe. Nem brincando de boneca
tinha aquele fascínio que a cultura impõe ou desperta nas moças habilitadas. Há muita honestidade em minha escolha.
Nunca vi
tristeza em me enxergar sozinha. Acho a solidão excitante. Estar só e estar
consigo. Quando abdico de estar sozinha, é porque encontrei uma companhia muita
boa. Até com o meu poeta é assim: a dose da presença.
Lembrei dessas
coisas porque outra amiga veio discutir nossos Ex-Grandes Amores e a postura
deles, sufocante!
Acho feio e
assustador alguém que passa o dia inteiro importunando quem supostamente é
objeto de seu amor, com mensagem, com telefonemas, como se a pessoa não
dirigisse, não fosse ao banheiro, não tivesse o direito de ter atividades suas,
pessoais. Uma coisa de que nunca deveríamos prescindir é do cuidado com quem a
gente inclui em nossa vida.
Esses referidos
ex tinham históricos de entrar na sala do médico, dentista e ginecologista na
consulta que era nossa. Nunca aceitei isso. Nunca aceitaria isso.
Um deles,
inclusive, quis entrar comigo na sala da Psicanalista – algo impensável. Se tem
alguma mente doente que ache que isso aí é amor e cuidado, deveria ir se tratar.
Essas são mentes
perigosas e doentes, de gente sem noção, que quer ser única e absoluta na vida
do Outro.
São vampiros que
sugam o ar e bebem a vida do indivíduo e ainda são capazes de querer um perfil
compartilhado no Facebook, num ponto
de fusão que nada tem de nobre ou de saudável.
Muitas pessoas
acham que relacionamento estável é isso. Certamente que não sabem que não há
garantias...
Lembrei das “Mil
e uma noites”, que antes de ser uma história de fascínio pela narrativa, é uma
história de amor doente. Lembram? Quando o sultão descobre que a primeira
esposa o traiu com um serviçal, mata a coitada e decide que, a partir dali, ele
terá uma esposa por dia. No dia seguinte às núpcias, o carrasco matará aquela
esposa. É o jeito que ele tem de se garantir contra a traição.
Vejam bem que
doentio!
O sultão já não
vê outro meio senão matar as esposas logo após o primeiro dia de sexo.
Até que
Sherazade o incita, com suas histórias (a pretexto de contar histórias para a
irmã dela, instalada no palácio, como se fosse um último pedido, porque ela
sabe que vai morrer). Mas ele se deixa levar, porque se encanta com as
histórias, que se prolongam pelas mil e uma noites.. e o resto todos nós sabemos.
Amor de segurança
máxima, com cerca, alarme e ronda constante...Deus me livre!
Segurança é
isso? Reforçar a vigilância com medo da perda? É isso?
Bom, se alguém
nos sufoca, na esperança de se tornar nossa vida, pobre de nós: já estamos
mortos.
É muito bom ter
alguém com quem a gente deseja compartilhar todos os momentos da vida, mas se
for toda a nossa vida, somos nós que estamos doentes e prescindimos de viver.
Tem muita gente
assim no planeta. Tem gente assim bem perto de nós. Tem gente que é assim com a
mãe, com o filho e com a amiga também; que não sejamos nós a ser assim.
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