Louquética

Incontinência verbal

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Insegurança máxima


Não é somente o Ex-Grande Amor da Minha Vida: algumas amigas (e ex-amigas), adoram grude e amor ostensivo.
Fazer cenas, escândalos em público por ciúmes descabidos, exibir o amor em outdoors, mostrar e fotografar intimidades de presentes que só dizem respeito a duas pessoas, como a tecer aquele ‘amor de dar inveja’, ao qual só faltam as pétalas de rosa caindo do helicóptero.
Não acho exatamente feio tudo isso. Quando eu não amava, achava que era assim que deveria ser. Eu não sabia que era uma forma doentia de lidar com sentimentos. Achava o máximo quem tinha um amado que presenteava ostensivamente. Hoje, sei que não é assim.
As pessoas estão cada vez mais sós, ainda que casadas, ainda que enturmadas – só falta a coragem de assumir.
Há coisas que eu também escondo de mim mesma, para a minha proteção. Mas no mais geral, penso e discuto sobre a morte, que um dia virá me buscar; sobre perdas, decepções, velhice, términos...Tipo de coisas que é melhor nem pensar, mas que convém pensar.
Escolhi não ter filhos e desde criança nunca vi barato em ser mãe. Nem brincando de boneca tinha aquele fascínio que a cultura impõe ou desperta nas moças habilitadas. Há muita honestidade em minha escolha.
Nunca vi tristeza em me enxergar sozinha. Acho a solidão excitante. Estar só e estar consigo. Quando abdico de estar sozinha, é porque encontrei uma companhia muita boa. Até com o meu poeta é assim: a dose da presença.
Lembrei dessas coisas porque outra amiga veio discutir nossos Ex-Grandes Amores e a postura deles, sufocante!
Acho feio e assustador alguém que passa o dia inteiro importunando quem supostamente é objeto de seu amor, com mensagem, com telefonemas, como se a pessoa não dirigisse, não fosse ao banheiro, não tivesse o direito de ter atividades suas, pessoais. Uma coisa de que nunca deveríamos prescindir é do cuidado com quem a gente inclui em nossa vida.
Esses referidos ex tinham históricos de entrar na sala do médico, dentista e ginecologista na consulta que era nossa. Nunca aceitei isso. Nunca aceitaria isso.
Um deles, inclusive, quis entrar comigo na sala da Psicanalista – algo impensável. Se tem alguma mente doente que ache que isso aí é amor e cuidado, deveria ir se tratar.
Essas são mentes perigosas e doentes, de gente sem noção, que quer ser única e absoluta na vida do Outro.
São vampiros que sugam o ar e bebem a vida do indivíduo e ainda são capazes de querer um perfil compartilhado no Facebook, num ponto de fusão que nada tem de nobre ou de saudável.
Muitas pessoas acham que relacionamento estável é isso. Certamente que não sabem que não há garantias...
Lembrei das “Mil e uma noites”, que antes de ser uma história de fascínio pela narrativa, é uma história de amor doente. Lembram? Quando o sultão descobre que a primeira esposa o traiu com um serviçal, mata a coitada e decide que, a partir dali, ele terá uma esposa por dia. No dia seguinte às núpcias, o carrasco matará aquela esposa. É o jeito que ele tem de se garantir contra a traição.
Vejam bem que doentio!
O sultão já não vê outro meio senão matar as esposas logo após o primeiro dia de sexo.
Até que Sherazade o incita, com suas histórias (a pretexto de contar histórias para a irmã dela, instalada no palácio, como se fosse um último pedido, porque ela sabe que vai morrer). Mas ele se deixa levar, porque se encanta com as histórias, que se prolongam pelas mil e uma noites.. e o resto todos nós sabemos.
Amor de segurança máxima, com cerca, alarme e ronda constante...Deus me livre!
Segurança é isso? Reforçar a vigilância com medo da perda? É isso?
Bom, se alguém nos sufoca, na esperança de se tornar nossa vida, pobre de nós: já estamos mortos.
É muito bom ter alguém com quem a gente deseja compartilhar todos os momentos da vida, mas se for toda a nossa vida, somos nós que estamos doentes e prescindimos de viver.
Tem muita gente assim no planeta. Tem gente assim bem perto de nós. Tem gente que é assim com a mãe, com o filho e com a amiga também; que não sejamos nós a ser assim.


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