Se tem uma dor
que incomoda incessantemente, é a de notar que aquele amigo, pessoa próxima ou
parente ao qual dedicamos amor e confiança, expressa inveja de nós.
Há quem goste de
ser invejado. Eu, não. Acho a inveja uma afronta ao meu merecimento.
Meu poeta e
ficante desfez uma amizade, recentemente, por isso. A inveja do amigo dele
ficou bastante explícita. Eu entendi. Talvez o cara nem tenha percebido que a
máscara caiu – digo que senti muito, porque um amigo é sempre alguém de quem a
gente gosta. Desfazer uma amizade não é um ato prazeroso. A gente simplesmente
não bloqueia, exclui e tira a pessoa de nossa história – ficam as marcas, ficam
até as boas lembranças, mas, por outro lado, fica, em primeiro plano, o fator
gerador da inimizade.
Nem sempre
deixar de ser amigo significa passar a ser inimigo. Pode acontecer, claro.
Contudo, respondendo por mim e por meu par, pode ser apenas a anulação daquela
pessoa.
Há pessoas que
eu gosto, tenho por amigas, mas não tenho confiança
Meu caso
particular de enfrentamento de inveja foi doloroso: minha amiga, a quem eu
costumava dar sapatos, bolsas e perfumes muitas vezes sem um único uso, viu meu
guarda-roupa, meus perfumes, minhas roupas...Sentou em minha cama e chorou.
Chorou de inveja e verbalizou sobre as escolhas que ela fez. Isso tem um tempo!
Falou da má
escolha por parceiros e por ter tido filhos, disse que meu tesouro era minha
liberdade e que tudo que eu tinha era, antes de tudo, porque eu não tinha
filhos.
Vamos traduzir:
era inveja de minha vida, da vida que eu tinha, uma vida que pertencia a mim e
que me permitia bater a porta e sair pelo mundo; ou trancar a porta e ficar no
meu mundo particular, de minha casa.
Já tive
episódios de inveja, coisas esparsas, sempre no plano de admirar quem tem família
culta e educada, com a qual se pode trocar ideias; mas me serviria, igualmente,
uma família pobre e analfabeta que reconhecesse o valor do estudo.
Os amores bem
correspondidos, quem não inveja? A beleza, a riqueza, a inteligência, a
felicidade...Mas não é a inveja de querer tomar o que é do outro, nem de
maldizer o merecimento a pessoa ou de atacar moralmente quem tem o que não
temos.
Quando a gente é
invejado, perde muito. Perde a paz e perde a confiança nos outros, logo de
cara.
Tem mais medo de
mal olhado e teme gente interesseira. Fora que constantemente se é vítima de
maledicência e armações – quantos não morrer por serem invejados por gente
doentia? Entendo muito disso, porque convivi com madrasta e sei o que passei.
Ando magoada com
uma amiga que foi morar longe: todas as vezes em que mantive contato, ela foi fria
e distante, monossilábica e antipática, a tal ponto que cogitei influência de
terceiros.
Não procuro
mais. Acabou o contato, para mim. E sinto muito, porque eu gosto dela de
verdade, desejo o bem, gosto gratuitamente mesmo, sem querer empréstimos, favores
ou benefícios. Todavia, acho muito escrota a atitude dela, de uma frieza sem
causas. Amizades tem isso também: a gente precisa se tocar quando o outro dá
claros sinais de desimportância ao nosso contato. Neste caso, acionei o ‘foda-se’
e nunca mais quero saber nada sobre ela, nem vou perguntar...E se nenhuma
circunstância favorecer um encontro, nunca mais a verei – e numa boa, que seja
feliz e foda-se! Tenho mais o que fazer.
Isso também é
parte da autoestima: não pense que autoestima é estar bonitinho, se achar
bonitinho do jeito que se é. Autoestima é ter estima por si. Se você tem um
bichinho de estimação, sabe que há ali uma relação entre o amor e o cuidado.
Logo, se você se ama, se cuida – por dentro e por fora. Isso inclui se
preservar da maus tratos, de relações que fazem mal, inclui não fugir da
balança e fazer sacrifícios pela saúde e pela preservação de si, inclui não se
deixar pisotear pelos outros e agir com a devida prudência para estar bem e se
melhorar. Inclui aquilo de que você se livra por não te fazer bem – seja um
vício, um hábito ou uma amizade.
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