Como costumo
dizer, as coisas mais simples e mais óbvias nos passam despercebidas, mas é lá
que estão as melhores respostas. Assim foi que eu prestei atenção numa fala do
Leandro Karnal, numa das palestras dele, e fiquei intrigada.
Dizia ele que as
pessoas que ouvem vozes, só ouvem comandos para matar, atirar, destruir, se
suicidar...E que ninguém ouve vozes dizendo “vá lavar suas roupas”, “vá
aprender inglês”, “vá ler romances”. Não era subestima com relação aos
esquizofrênicos, não. Era uma constatação sagaz.
Tá aí: fiquei pensando
nisso, nessa coerência maravilhosa que ele traz.
Eu, que tenho
amigas que ouvem ou já ouviram vozes, que nem sei contar quantos amigos
suicidas tenho (e se tenho é porque fracassaram nas tentativas de morrer ou
aprenderam a administrar a angústia de viver), que igualmente tenho um rebanho de
amigos (homens) gays em constante crise de identidade sexual, trancados em
armários blindados de segurança máxima, só posso me alegrar em constatar,
mediante a observação do citado historiador, que essas pessoas podem ser
orientadas a ouvir vozes melhores e melhorar a si mesmas.
Quem disse que
viver é fácil?
Mas o povo quer
resolver a vida com Rivotril, com Ritalina, com Risperidona, com vodka...
A vida nunca se
resolve por completo. Porém, podemos construir um ponto de estabilidade e
seguir em frente.
A segunda coisa
óbvia que descobri nesta semana, foi na academia, ao encontrar um amigo
queixoso do amor mal terminado com um namorado.
Por contexto
geral, ele observou que as pessoas não terminavam suas relações ruins porque
não aguentavam conviver com a tristeza que vem após o término.
Ele se referiu a
outro amigo infeliz no amor, que preferiu manter o casamento com um rapaz que
ele não amava mais, alegando que não suportava a tristeza da separação. Logo, concluímos
que é assim mesmo: as pessoas preferem um relacionamento ruim à tristeza do
término.
Não somos
adeptos de carregar dores. O problema é que a dor existe.
Um amiga também
chorosa por ter terminado com a namorada dela, escreveu mil laudas para
externar a dor da separação. Até esse ponto, desceu muito baixo, interferiu na
vida da ex, rastejou, tentou de tudo... E também disso eu concluí que as
pessoas realmente acreditam que possa haver amor eterno.
Amor duradouro
há. Amor eterno, jamais. Isso é coisa construída pela filosofia, pela
literatura, pelo cinema, pela cultura em geral...Não daria para haver esse amor
infinito.
As relações podem continuar, mas amor, amor sempre acaba.
Como diz uma
outra amiga, a gente briga com pai, com mãe, com irmãos, com os filhos, com os
seres mais amados, quanto mais com os que veem como adjuntos?
Somos covardes,
isso sim..
As pessoas ficam
se agredindo, desfazendo um do outro, brigando em público, sem reconhecer que
se tornaram inimigas, que não se amam. Trocam ofensas num dia e presentes nas
datas comemorativas, para tentar remendar o que não tem conserto. Tantos sinais
e, ainda assim, as pessoas esperam os hematomas afetivos desaparecerem para
fazer de conta que a relação sobreviveu. Ora, sobreviveu com a ajuda de
aparelhos, artificialmente
Terminar, ficar
só por tempo indeterminado, procurar outra pessoa e reiniciar outro ciclo é
bastante cansativo e incerto.
Viver a eterna
pressão dos ciúmes, a vigilância, a desconfiança, as inseguranças, é para quem
aguenta a carga.
Meu primo
hipócrita, aquele respeitável pai de família que gastava uma boa grana com
prostitutas, admitiu que o casamento ele é um porre, mas que dá a ele
estabilidade emocional.
Esse caso é bem
engraçado, porque ela, a esposa, também enjoou dele, mas nunca terminaria o
casamento porque não seria bem vista na família.
Todo mundo tem
problema. Tenho muitos. Parte do que exponho, já vivi ou acompanhei quem viveu.
Contei da minha
covardia em terminar uma relação ruim; o que mudou foi que eu passei a ver
isso. Daí que vi e resolvi, mas levou tempo.
Tem um lado
muito bom na conquista dessa paz: resolver um problema é acabar com o problema.
O remédio alivia o sintoma. Os amantes aliviam os sintomas. A cura é um
processo, mas não é para preguiçosos.
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