Louquética

Incontinência verbal

sábado, 17 de fevereiro de 2018

Carnaval: versão 2018


O carnaval foi ótimo: fiquei em paz em minha casa. E olha que eu gosto de carnaval!
Também não fui à praia, porque faltou sol suficiente para isso e ímpeto guerreiro para enfrentar possíveis lotações e engarrafamentos.
Não senti falta.
Sem dor-de-cotovelo ou falsos discursos para encobrir durezas financeiras.
O carnaval de rua em Salvador já não existe: ou você paga um camarote ou vai apenas colocar a vida em risco, a saúde também; e passar as privações dos apertos de precisar de banheiros onde não há banheiros; passar um bom período de fome, porque a comida disponível não é segura ou de fácil acesso; sofrer com qualquer meio de transporte no caos que é a festa.
Nem falei de violência.
Nem falei de falta de educação coletiva típica de multidões, nem contatos forçados com corpos suados e ofensivos ao nariz.
Quando em turma, tudo é contornável. Aliás, os amigos são o melhor da festa.
Adoro fantasias. Adoro ver a turma feliz, bebendo, dando vexame, cantando, fazendo coreografias, fazendo piadas, pegando gente...
Melhor é sair da festa e pegar a praia com a turma...ou ficar na piscina, com cara de sono, enrolando a preguiça sob o sol.
Mas a turma anda com o humor encolhido e a alegria meio encalhada – vida pessoal que vai tornando o povo sisudo ou careta, fugitivos do circuito.
Mas, juro que curti ficar em casa, sair para perto, para coisas triviais...ou para coisas mais especiais de quem sabe fazer uma boa festa a dois.
De quebra, passei minha terça-feira com meu poeta. Foi nosso terceiro carnaval conjunto, mas o primeiro em que ficamos juntos. Adorei.
Não senti falta da festa, apenas estranhei como um prazer pode ser substituído por outro e como mudei.
Reconheço que em alguns carnavais eu fui por um prazer gratuito de ir. Em outros, eu fui em busca – doida por fotos, diversão, pegação, esquecimento de amores, dissolução temporária de angústias. Irei em outros carnavais, se a vontade vier.
Por falar em carnaval, que troço louco é esse povo confundindo tudo, em favor do politicamente correto. Gente, a pessoa não pode se fantasiar de índio, porque é apropriação cultural; não pode usar turbante, se não for da cultura que adote turbante...
Já estou vendo o Conselho Federal de Enfermagem processando as sexshop por venderem fantasias de enfermeira; A união Nacional do Estudantes processando a quem gosta de se fantasiar de colegial e, em breve, descendentes dos fenícios estarão processando todos nós que adotamos o alfabeto advindo da escrita cuneiforme, porque aí, sim, é apropriação cultural mesmo.
Pensando num grupo de what’app composto por gente de raciocínio similar a este, o povo quer trocar uma ditadura por outra.
Retiraram o poder imaginativo da ficção. Agora, não se pode mais trazer um sujeito lírico feminino se o autor não for mulher (extensivo a qualquer sexo ou gênero); não se pode falar de nada, interpretar nada, sem o respaldo da pertença.
Coitado de Chico Buarque! Coitado de Jorge Amado! Coitado de Machado de Assis! Coitada da Arte, vigiada tanto por moralistas, quanto por defensores de minorias.
Gostam muito do engodo: teoricamente defendem e aceitam tudo, desde que a igualdade da minoria não passe pela sua própria cozinha.
Dizem que gosto não existe, que é uma convenção da burguesia. Mas sabem muito bem o que escolhem para usar, comer, ouvir, ler ou transar. A hipocrisia está em todo canto mesmo!


2 comentários:

  1. As vezes é melhor curtir em casa tranquilo, sem se preocupar com nada, festas assim são divertido de sair com amigos tudo na boa, essas sociedade vivendo no politicamente correto chegar ser um saco certos momentos, percebo que em carnaval cada ano muda o tema da discussão sobre o que é permitido ou não.

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  2. A liberdade individual também significa o direito de 'não ir com as outras'. Nem sempre a gente tem vontade de seguir a maioria. Então, se há um feriado, cada um faça e viva suas escolhas - seja de festas, fantasias, ideologias ou do que mais for.

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