Louquética

Incontinência verbal

domingo, 10 de junho de 2018

Pão e prece


Acho que, geralmente, as religiões conduzem a um torpor, a uma certa cegueira...Talvez por oferecerem o preço do acolhimento, talvez por que sejamos nós a nos deslumbrar com descobertas, consolos, explicações.
Não há religião perfeita, mas há aquela que é ‘perfeita para você’, porque se ajusta ao seu pensamento, às suas necessidades, ao seu momento.
A porção mais válida de nossas vidas provavelmente está nas experiências pesadas que nos conduzem às crises.
Há os que preferem desviar o pensamento, ignorar, tomar álcool ou Rivotril. Eu, que aprendi que os problemas não acabam se a gente fugir deles, aguento e sigo.
Meu poeta não estava preparado para me ver em crise. Provavelmente, subestima minha reação às angústias da vida...ou me considera fútil...Sei que ele não é único. As pessoas não me dão o direito a ter crises...quase que me mandam tomar um chá e deitar, até passar...A seu tempo, meu pai me dava dinheiro para a crise passar; meu ex-namorado, me mandava ir ao shopping. Donde concluo que eles pouco sabem ou sobre crises ou sobre mim..ou, talvez, sobre suas próprias angústias.
Crise nem sempre é setorizada: uma parte puxa à outra. Primeira parte: Sou espírita. Muito me dói observar nossos defeitos, ainda mais quando eles nos saltam à cara.
Pode ser que os defeitos sejam da unidade que frequento, mais do que da doutrina, em si, mas tal como qualquer entidade voltada à religião, encontrei muito machismo explícito, especialmente praticado pelas mulheres.
Há uma relação intergeracional conflituosa, porque as mulheres mais velhas são ainda mais machistas, ainda mais de pensamento ortodoxo politicamente falando...Acham que a Ditadura jamais existiu no Brasil; que o PT é comunista e que tivemos um governo comunista; acham que Sérgio Moro é um bom moço, moralizador da Pátria...Acham que mulher tem que ser mulher em seu papel tradicional socialmente marcado.
Se fosse para traçar um perfil geral, eu nem sei como poderíamos falar em evolução em meio a mentes tão retrógradas, às declarações de alívio ao perceberem a improbabilidade de terem filhos gays... Poxa, foi uma decepção e tanto ver isso de maneira tão explícita. Ali há muito preconceito. Ali, mulher não tem vez.
Sigo gostando de ser espírita – o que não anula a crise.
Gosto da prece, da concentração necessária para estar em prece - e a prece é o pão precioso da introspecção real.
Gosto de ter fé raciocinada, de encontrar resposta para coisas aparentemente absurdas – das quais, entender a licantropia e as razões de alguns crerem tanto em Lobisomem; dentre outros fenômenos captados do senso comum, mas que têm uma lógica interna, causas, explicações racionais...
Sou assim mesmo: se gosto de algo ou de alguém, isso ocorre na totalidade. Não sei gostar e achar que é perfeito. Amizades, amores, ídolos...enfim.
As outras partes da crise se relacionam com escolhas, com minhas inconstâncias, com fatores humanos que a gente julga que vão sumir após a adolescência...
Mas esta sou eu.
Este é o meu caso. O meu. Cada um que viva seus pareceres, suas opiniões e suas crises, porque são particulares, pessoas e personalizados. O meu é o meu, que ninguém mexa nele.

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