Louquética

Incontinência verbal

sexta-feira, 22 de junho de 2018

Todo tempo




Bom, também não sou preparada para o envelhecimento de meus alunos e ex-alunos.
Quando eles estão na faixa dos 20 e nós, professores, na faixa dos 30 anos, dá para administrar com normalidade a vida. 
Aí eles passam aos 30 e uns; e chegam mais perto de nós, de um modo que as linhas demarcatórias das idades já não são nítidas.
Não fui preparada para isso.
Para mim, serão eternas crianças. Por isso, dói ver os que envelheceram, contrariando nossa clara diferença...Meus alunos, outrora cabeludos, com penteados exóticos, descambam para a calvice...
O tempo, mais generoso com as mulheres, desenham perfis maduros, contorna olhos com rugas e põe cansaço em fisionomias que já foram leves, pueris...
Preocupações outras, que não mais o ingresso no mercado de trabalho ou o destino nas pós-graduações, mas o peso dos divórcios, das separações, das perdas sérias, dos conflitos interiores intensificados pela mão pesada das responsabilidades com a família...
E, sim, aqueles que modificaram a cara, mas não a situação, de modo a se tornarem crianças irresponsáveis, dependentes, que marcaram passo no tempo sem sair do lugar, como sob uma brisa fria de naftalina e do pó dos sepulcros dos sonhos renunciados.
Neste ponto, queria que o tempo só passasse para mim.
Mas, é isso: tudo passa e nós passamos.

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