Louquética

Incontinência verbal

domingo, 12 de maio de 2019

Alianças




Se Hoje me perguntassem o que eu acho que deva ser um amor próspero ou feliz, eu diria que um bom amor tem que sobrevive a ele.
Amor leva tempo e, em alguns casos, leva à ideia da perda de tempo. Corrigi isso numa amiga, hoje. Ela se declarou curada de recaídas por um homem por quem ela literalmente enlouqueceu (sim, Rivotril, clínica e demais tratamentos). Até gravidez ela forjou (um clássico do desespero) e lançou mão de todos os recursos disponíveis para prendê-lo a si. A julgar pelos recursos, já era a sanidade indo embora (e não critico por mal: ao meu tempo também fiz meus esforços para manter um relacionamento. Por sorte, percebi que aquilo não poderia ser amor, de forma alguma).
Disse eu à amiga, que não haveria porque se arrepender, pois que naquele momento ela estava como estava. Parabéns pela superação saudável.
Todos os dias há quem faça isso. De ambos os lados. Aquele que não quer manter a relação torna-se refém das armadilhas para adiar o fim. Do contrário, por que razão cartomantes, magos e similares  perderiam tempo com o clássico: “Trago a pessoa amada em três dias”?
O que eu digo é o contrário: pense em você, na sua agonia, na angústia e no seu desprazer em ser forçada ou forçado a permanecer com que você não quer estar!
Temos ego, sim. Ele, diante de uma ameaça de término, se ofende. 
Classicamente, nosso ego diz ao ser amado: “Quem você pensa que é, para poder viver sem mim? Como você pode não querer viver com uma pessoa maravilhosa como eu?”. Em alguns casos, o ego vira violência – se não dá em morte, dá em difamação, perseguição, mágoa e pragas.
Então, um amor próspero é também aquele que acaba bem. Não é indolor: separações doem, mesmo quando a iniciativa é nossa – é um outro caminho e os perigos normais junto aos imprevisíveis.
Geralmente, quem ama tem pressa e isso não é nada bom.
Para amar e para desamar, tudo é processual.
Particularmente, crio um certo enfado quando o amor acaba. Fujo um pouco, invento compromisso, viagens imaginárias...procuro criar o processamento para o bom entendedor. Antes, bastava pedir um tempo e o outro sacava que era o tiro de advertência. É como dar notícia ruim com eufemismo, aos poucos...
Até que o outro nos diga: ‘você mudou’ e entenda que você mudou para  muito longe, já anda emocionalmente distante.
Tem quem deixe para ser feliz nos intervalos – mantém casamento, namoro e é bastante feliz sempre que está sozinho ou sozinha... até tiram a aliança, em sinal de alforria. Há quem tire ao dormir, para ter a liberdade enquanto sonham.
Parâmetro bom: se essa ausência causou saudades...ou se deu alívio.
Muitas amigas minhas cataram na internet seus respectivos maridos. Por que queriam ter maridos a qualquer preço...Depois de obtido o troféu matrimonial, declararam o quanto era bom ser solteira.
Isso não ocorre por mal: querem companheiros, alguém com que contar, um esteio...mas, às vezes só conseguem o marido.
Hoje se apresentou a mim um candidato. Bastante apressado, deixou bem claro que ama estar casado, tanto que casou por duas vezes e que me achou bonita e inteligente, bem adequada aos sonhos dele.
Desesperou-se sobremaneira quando apresentei meus impeditivos, não somente porque namoro O poeta, como por meu pavor por casamento. E ainda disse isso tal a personagem de Chicó, no Auto da compadecida:
“- Casamento? Casamento é muito bom. Já fui a muitos. Adoro festas!”. Eu disse mesmo.
E eu sou a favor do casamento dos outros. Muito a favor.
A minha amiga louca para casar pela segunda vez oficialmente; e pela terceira, extraoficialmente, diz que não quer morrer sozinha. Penso em avisar que quem cuida da gente na velhice são enfermeiros e cuidadores profissionais e, ao morrer, estaremos sós, mesmo que morramos acompanhados. Não há essa garantia. Está aí algo que o amor não dá: garantias. Se acabar, só outro.


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