Tomei um susto
dolorido com a morte de Júlio Ávila, do blog Eu existo – eu estou vivo.
Ocorreu em 14 de
outubro do ano passado. Graças a Deus, eu soube há poucos dias – isso por que
estranhei o tempo de ausência da escrita dele no blog.
Como ele
atravessasse uma depressão verdadeira, até dei por respondida a ausência que,
nem por isso, deixava de me incomodar. Sei que por intuição ou por bom anjo
guardião protetor, só fui ver a vida dele no Facebook na semana passada.
Faço aniversário em
12 de abril. Ele era do dia 11 de abril. Éramos arianos, críticos, fãs de Fernando Pessoa, de Bukowski e do Radiohead,
se é que alguém pode entender a complexidade das coisas que justificam isso.
Foi por causa de Creep que ele me encontrou. Ou por causa
da epígrafe aqui do blog, quem sabe... Sei que aprendi muito com ele,
especialmente pela generosidade que ele tinha em entender nossas diferenças
culturais.
Um dia, no Messenger, após um argumento mal criado
meu, que insinuava o lugar dele de ‘colonizador’, mui sabiamente ele me
esfregou elegantemente à cara: “Mara, não estamos no tempo da colonização”. Ele
era português, morador da Ilha Terceira (Biscoitos)...
Em 2010, eu ia a Portugal, por conta de meu
doutorado, que sendo aqui na UFBA (segundo o atual ministro da Educação,
Universidade Federal da Balbúrdia), tinha convênio para bolsa-sanduíche no
Porto. Era a oportunidade de ver meu amigo presencialmente. Depois, pelas perseguições
internas que sofri na UFBA, acima de tudo, injustas, encurtei meu doutorado e
acabei a tese três meses antes do previsto.
Acho que a gente se
conhecia há pelo menos nove anos. E se fez diferença dividir um café ou
partilhar um abraço, amizade e companheirismo foram uma constante. Ele era uma
pessoa de verdade.
Li as últimas
postagens dele, falando da depressão e vi o vídeo postado por ele, com um
narrador mostrando modos de se fazer um nó de carrasco, próprio para suicídio,
para enforcamentos.
Vi as mensagens de
despedida dos familiares no Facebook e, confesso, fiquei tão mal, que senti asfixia, Por
vários dias fiquei como que asmática, reaprendendo a respirar.
Hoje, finalmente,
voltei à página dele no Facebook. Li
tudo quanto eu pude para poder entender, saber e aceitar.
Fiquei surpresa com
o carinho e presença da família dele. Não imaginava serem tantos os irmãos, nem
tão presentes e amorosos os pais. Vê-se que a solidão é, também, uma ilha
interna.
Nunca fui de
julgamentos sobre o viver ou querer deixar de viver de ninguém. Viver nunca foi
fácil: é desafio; é o que nos diz a Odisseia,
ao nos mostrar a vida como jornada e como batalha. Mas, reitero, devemos ser
teimosos – se a felicidade não é deste mundo, a gente a traz para cá, pelo
menos para dentro de nós.
Alguns amigos meus
driblaram seus impulsos suicidas casando e tendo filhos, de modo a se desviarem
de suas próprias existências e focalizar outras. Acho um bom recurso.
Outros preferem um
vício, qualquer desvio do peso de existir está valendo. Há os raros que são
mais nobres e vivem para os outros, em trabalhos voluntários, em causas
coletivas... E sempre me perguntam sobre isso de encarar a vida sem umas doses
de nada, quanto e como acho coragem.
Como espírita sei da
transitoriedade de tudo, mas isso não diminui a dor - entre quem crê e quem não
crê; entre reencarnacionistas ou materialistas; entre católicos e protestantes;
ateus ou budistas, tanto faz: dor é dor. Mudam apenas o escudo e a máscara.
Também aprendi com
um amigo meu, Osmando, que a Terra tem muita coisa boa. Ele me mostrou que os
espíritos têm saudades das coisas daqui. Assim também nós apreciamos coisas que
há aqui – sim, mais próximos estamos de um estereótipo de Inferno que de um
Paraíso (dois extremos, aliás, que não existem para o espírita – e se é difícil
viver sem Deus, para muitos é bem pior viver sem a crença punitiva em um
Demônio que lhes bote freio aos impulsos mais primitivos e baixos).
Bom, mas, enfim,
escrevo isto aqui como se pudesse ser lido por Júlio, como despedida para ele –
decerto, sei que minhas orações chegarão.
Acho que nunca eu
declarei aqui com tamanha seriedade aquilo que vou repetir agora: cuide de sua
vida!
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