Tem dias em que eu
gostaria apenas de ficar assistindo desenho animado, em paz, para descansar
meus ossos e minha alma. É que estou deveras cansada por ter aceito, após muita
chantagem emocional, a correção, revisão e normalização de um livro de um amigo.
Livro de quase 400 páginas, com um começo técnico e descritivo, com uma
diagramação chata, que me desgasta só de pensar em retomar a tarefa.
Entretanto, eu sou
assim: qualquer obrigação tira a minha liberdade. Para me libertar, preciso
cumprir o que me cabe e, por isso, não sou de protelar...o que não quer dizer que
eu seja ágil.
De meus próprios
livros, seguem os engavetamentos e arquivamentos. Não tenho ego suficiente para
ser escritora. Nem sequer tenho os requisitos mínimos, como uma depressão para
favorecer meu marketing pessoal, por exemplo; nem ego grande, para me sentir
brilhante inatacável, ímpar e superior. Aí, ao lado de Todas as mulheres se chamam Maria, fica, agora, A mulher daqueles homens.
Costumo me perguntar
sobre a validade desses meus livros. Se eu resistiria a alguém me apontar uma
influência não percebida por mim, de outros escritores (claro e óbvio); se eu
saberia responder porque escolhi dois títulos em que as mulheres despontam claramente; se eu teria a paciência para a presunção de vinculações
ideológicas e classificatórias, acerca de literatura feminina, valor testemunhal
ou deveres de causas...
Creio que o livro é
para mim.
Penso nos maus
livros, que nunca abro. Nos livros de poemas dos outros, de que só se salvam
dois ou três, dentre tantos...
Penso que meus livros
são parte de minhas neuroses – e que talvez todos os livros também o sejam.
Penso de meus livros
o que penso, em parte, deste blog: eu não promovo, não digo que ele existe, não
convido meus amigos, não contabilizo público e abraço sem mágoas a liberdade
que advém do relativo anonimato – sabendo que muita gente visita por bisbilhotice,
outros, por acidentes; e muitos, apenas para capturar imagens ou assuntos
específicos.
Nunca publiquei
minha tese (nem meus livros: seguem arrumados, feitos e engavetados, inacessíveis até aos maiores amigos) e até hoje me espanto com a repercussão de certos artigos meus, em
revistas Qualis A. Naturalmente, vivo publicando em outras revistas e periódicos científicos e não nego minha satisfação com relação aos meus textos, aos meus temas.
Eu nunca citei aqui
meu nome completo, mas reconheço que a escrita científica me dá maior segurança;
basta ter lógica, coerência, boas ideias e uma escrita que siga as regras
gerais do bom entendimento, amparada em significativa referência bibliográfica.
Já a escrita literária
é um campo minado – e eu quero mais é minha paz.
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