Um dia, após uma
pessoa amada e querida ter sido induzida a acreditar numa fofoca construída em
meu prejuízo e, finalmente, me perdoar pelo que eu não disse, aprendi com ela,
que afirmou: “Mara, eu amo a minha filha e a gente briga. Pessoas que se amam,
brigam!” e ali eu entendi que amores de qualquer espécie não são linha retas,
que amor tem crise; que a gente pode cometer hipocrisia sem ser hipócrita,
assim como pode cometer burrices sem ser burro: é evento, contexto, ocasião. O
que determinaria ser isto ou aquilo seria a frequência e a predominância.
Nunca consegui
perdoar a mulher, colega de trabalho, que semeou o veneno gratuitamente, apenas
para ver secar o fruto de uma amizade também dividida com ela. Não perdoo, não
esqueço, mas não tenho nenhum interesse em ver tal pessoa mal. Juro: as
sementes do ódio não fazem ramos em meu coração.
Dos poucos e
eventuais sentimentos maus que tenho, todos são atrelados a motivos concretos e
se resumem a revoltas por injustiças sofridas. Odiar alguém que nunca me fez
mal ou armar maldades para quem nunca me fez nada, jamais. Acho isso criminoso.
Puxei o assunto
porque o momento em que vivemos é de puro ódio. Estive vendo umas distorções
sobre a liberdade individual e o direito de ir e vir, neste país que se não
sabe o que é democracia, jamais poderia saber o que é ditadura; assim como não
sabe o que é comunismo e muito menos capitalismo, apesar de viver nele.
Qualquer juízo
simplório sabe: você tem a liberdade individual, por exemplo, de não querer
tomar vacinas. Ora, se você não quer, não comparece, a escolha é sua, o
problema é seu.
Contudo, se a vacina
se torna obrigatória por lei, você não perde seu direito individual:
simplesmente, são postos na balança o seu direito de não querer tomar vacina
versus o direito de uma maioria de não se contaminar por sua causa.
E, neste caso,
dir-se-á, quem garante que você necessariamente está doente? E quem garante que
não está ou não estará? Assim, o direito individual cede espaço ao direito da
maioria, como aquela máxima expressa em para-choques de caminhão, que assinala:
“seu direito termina onde começa o direito do outro”. E assim é para viver em
sociedade (em clubes, condomínios, templos, bancos, escolas, instituições e até
em família).
Uns doidos distorcem
isso. Em uns casos, é ignorância; em outros, mau caráter mesmo.
Onde essas coisas
todas até aqui tratadas se casam? Na ideia idiota de que uns amam o Brasil e
outros torcem contra. Como se torcida determinasse resultado de jogo!
Talvez digam isso
para desviar a responsabilidade de quem realmente determina os rumos da
partida. Eu considero todo e qualquer governo presidencial como um técnico de
futebol, em gestão passageira. Cada mandato, um campeonato.
Mas, cá estamos,
perdendo de lavada e vendendo loucuras. Tudo é aprendizado e sei que um dia
aprenderemos.
O Rio de Janeiro não
aprendeu ainda. Eternos maus governadores, todos com o pé na cela. O Brasil
todo é frágil, vota mal mesmo, mas o Rio é um caso escandaloso em que já se vão
quatro, cinco ou seis governadores que firmam ficha na polícia. Não acho que a
corrupção seja um problema de políticos corruptos. Quem os coloca lá? Por que
sempre voltam? Aí, de novo, a população precisa fazer conta para constatar que
a elite não forma nem dez por cento da demografia nacional; que a classe média,
se muito for, dará uns vinte e cinco por cento...dirão, também dos supostos
poderes destas classes sobre os pobres...nunca acreditei nisso. Dificilmente um
pobre sabe que é pobre, porque a consciência de classe se turva, seja pelas religiões,
seja pelo poder de consumo, o que faz com que os que se julgam ‘ricos pela
graça de Deus’ não se reconheçam como pobres; assim como qualquer outro
brasileiro que tenha uns poucos bens ignore sua condição econômica, o que se
prolonga aos que não detém meios de produção, mas ganham salários bons – e salários
bons segundo o padrão brasileiro é muito questionável.
Análises sociológicas
dão pouca massa para esse bolo.
Sei é que o povo não
se vê agraciado pelo distanciamento social, por exemplo, e viaja na ideologia
do patronato,
Também crio minhas
aporias: se as pessoas não estão em confinamento domiciliar, cujos baixos
índices são alardeados no país inteiro e se estas pessoas reclamam do
fechamento do comércio, para onde elas vão, se está tudo fechado? E se não está
fechado, porque reclamam do fechamento?
Coisas do Brasil,
meu país perdidinho.
Vamos ver daqui a
dois anos e meio, que escolha tirânica faremos para a presidência. Depois da
quarentena instalada, o que tenho aprendido é a esperar.
Prognósticos nós não
temos, porque não dá para saber sobre o que até os especialistas no ramo
desconhecem. Sei, porém, que está sendo muito difícil o período atual e que a
vida não voltará a ser a mesma.
Na bola de cristal
das ilusões de meu coração, em setembro haverá um bom sol de primavera, com o
país acordando em rotina adaptada à pandemia...ainda tristes, iremos retomar a
vida ou o que sobrar dela.
Nunca imaginei um
2020 tão pesado. Nunca imaginei que assistiria a uma pandemia e à barbárie da
extrema da política, nem o esboço revelador de que a política é a face direita
do povo, espelho em ângulo parcial.
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