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Incontinência verbal

domingo, 9 de janeiro de 2022

Reeducação de financeira não é mágica

 


Vamos falar desse calo moral pessoal que é a Economia.

Você não precisa entender Teoria Econômica, nem saber sobre indexadores, nem sobre mais nada: economia, a gente ‘nasce sabendo’.

Podemos nos confundir com preço e com valor, com capital e com dinheiro, mas desde cedo a gente sabe o que é comprar e tem uma vaga ideia do que seja gasto, pagamento e dinheiro.

Saindo dessas abstrações de infância, vamos lá: desde que você possua alguma renda, mesmo que flutuante (ou seja, sem recebimentos fixos de um salário, um provento qualquer), ao colocar a mão em dinheiro é necessário ter o domínio sobre ele.

Difícil fazer as despesas caberem no dinheiro que se tem? Dificuldade que todo mundo tem.

Um grande amigo meu, que ganha bem, estava se queixando dolorosamente, isto é, sofrendo de verdade, por ter prestações de um empréstimo consignado, no valor de R$ 2.300,00 mensais, a serem pagos em 60 meses!

Se o empréstimo foi algo emergencial, imprescindível, necessário, não importa. Antes de contrair o empréstimo, deve-se avaliar o impacto financeiro da prestação. Este, entretanto, é um calabouço, porque a pessoa que divide tudo em prestações minúsculas e parcela no cartão, se afunda sem sentir, iludida pelo baixo impacto da prestação irrelevante. Mas, voltando ao meu amigo: propus a ele que se fosse conveniente quitar antecipadamente a dívida, ele deveria parar onde está. O exemplo que eu dou serve para qualquer ser humano atolado em dívidas – exceto com agiota, que aí, nem sua vida lhe pertence mais e essa, sim, é uma operação financeira de alto risco. Vamos lá: para parar o circuito do endividamento, primeiramente é necessário ter uma ideia sobre os gastos fixos.

A seguir, observar os gastos paralelos - que passam a não ter prioridade.

Os supérfluos todos precisam ser eliminados.

As coisas, os preços, aumentam mais que os seus ganhos. Logo, se você gasta 500 reais no supermercado mensalmente; no mês seguinte, com a inflação real, vai gastar de 550 a 600 para os mesmos itens. Portanto, não faça a loucura de substituir produtos: se você confia numa marca, sabe da qualidade e da rentabilidade da mercadoria, compre menos, compre um volume menor, mas saiba que de nada adianta usar um sabão em pó barato e que não lava; nem a comida barata que é sem sabor...isso vai levar não somente à insatisfação, como também a um gasto de mais produto ruim a fim de que ele dê o resultado do bom produto. Portanto, a Economia pode ir por aí.

Você tem carro? Ótimo! Você precisa mesmo usar seu carro para se deslocar por um quilômetro ou dois? Pense em desgaste de peças, estacionamento e trânsito e, se puder, vá a pé.

Não corte seu lazer. É tipo dieta: não precisa cortar, eliminar alimentos, basta diminuir a porção.

Há outros cuidados com a vida que podem ser adaptados, dosados. Cada um pense em suas respectivas realidades – isso inclui a parte fixa, tipo contas da casa.

O que sobrar, seja um real ou um milhão, deverá ser deixado sob reserva. Não precisa ser tudo: no primeiro mês, guarde aquilo que uma vez reservado não será sacado de modo algum. Pode não ser o melhor investimento, mas a poupança inicialmente ajuda muito. Depositou lá, esqueça!

Nos meses seguintes, force a barra e aumente o valor do depósito, seja quanto for.

Se lhe sobrar tempo, faça hora extra, serviço extra, seja o que for também. Inclusive, seu dinheiro de férias deve ser depositado, em pelo menos setenta e cinco por cento do valor líquido, em suas reservas.

A ideia é gastar menos e guardar mais, a longo prazo.

Não tire os prazeres de sua vida, mas tenha responsabilidade com seus ganhos e com seus gastos.

Vamos à outra parte da conversa com meu amigo, que também serve para qualquer um: depois de muita planilha com a vida, cálculos inclusive com os aumentos de salário que virão, caso ele realmente antecipe o pagamento do empréstimo, quitando tudo, dei aquele banho de água fria nele. Propus: se você pode pagar, ainda que sofrendo, uma prestação de R$ 2.300,00, agora você vai guardar R$ 1500,00 todo mês, no mínimo, por 36 meses. Aqui abriu-se o precedente para investir em ações mesmo, em lances pequenos. Meu amigo entendeu, mas ficou irado comigo, achando que não iria conseguir, que eu propunha um absurdo.

Conclusão: é preciso que cada um de nós tenha compromisso financeiro consigo mesmo. Se você paga uma instituição bancária, aprenda a pagar a si mesmo, guardando. No caso de meu amigo, a meta é ter o suficiente para dar entrada numa casa própria. Vejam bem: a pessoa se compromete por cinco anos com um banco, mas não se compromete consigo mesmo em guardar...

É treinamento, condicionamento, a recuperação financeira e a poupança. Ninguém reclama de existir reeducação alimentar, mas berra contra reeducação financeira.

Deixe seu dinheiro ganhar musculatura, não se meta em altos riscos; não gaste tudo o que tem e veja a diferença: ao incorporar o hábito de poupar, a gente fica mais seguro e mais tranquilo. Fica a dica!


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