A maternidade nunca foi uma dúvida para mim: desde os 13 anos eu já sabia, de forma consolidada, que não queria ser mãe. Desde antes, na infância, eu sabia, mas atravessei a vida esperando ver se algo em mim mudaria, se não era questão de fase. Nunca foi. Era convicção.
Há um lado de nossa identidade que é o que é e nada mudará, exceto, claro, por coerção, ameaça, força externa. É similar a querer forçar um gay a deixar de sê-lo: vai mudar o comportamento, mas não a condição – Logo, a perseguição social; o terrorismo moral, as ameaças de castigos, a exclusão, a violência física e psíquica não conseguirão senão o efeito repressor, contenedor, mas não a conversão.
Fico feliz por ser quem eu sou, apesar de todas as repressões.
Todo dia, cada um de nós luta (como eu
luto!) para ter a paz de fazer imperar escolhas minhas para a minha própria
vida. Esses que nos cerceiam em nossas escolhas de vida ou configuração de
nossa personalidade nem sempre são elementos sociais externos. Podem ser desde
nossos pais até os amigos mais próximos, que gostariam que fôssemos como eles
gostariam, que pensássemos como eles pensam, que agíssemos como eles acham
certo, que correspondêssemos a modelos de seus respectivos agrados.
É a lição mais tola e mais difícil da
existência: saber que a sua vida é sua. Sua! Isso pressupõe, também, na hora
das escolhas, observar quais dentre elas são definitivas. Não caia no golpe do ‘esta
é a escolha mais importante da sua vida!”. Importante é qualquer escolha cujas
consequências sejam impactantes e irreversíveis – eis um critério: o que é ou
não irreversível, porque um matrimônio pode ser desfeito, mas uma paternidade e
uma maternidade, não; Se você quiser mudar de profissão; de país; de parceiro
amoroso, tudo pode dar certo e tudo pode dar errado. E se der errado, tem como
voltar atrás. Mas, se você mudar de sexo; se você fizer uma intervenção
cirúrgica; se você doar um órgão, se você tiver um filho, é decisão de vida,
para a vida toda. Por conta disso, é sempre bom examinar se suas decisões são
suas ou se são apenas escolhas pautadas em certo atendimento de expectativas
externas, porque eu sei o quanto é difícil remar contra a maré, enfrentar
olhares repressores; encarar gente disposta a confrontar escolhas íntimas que
são de foro particular.
Nunca devemos esquecer isso: o que eu
posso mudar, reverter, alterar ou alternar, se minhas escolhas derem errado? E se eu fizer
conforme me indicam, que ganhos eu terei? E o EU, se a vida é MINHA, é a primeira pessoa de qualquer verbo.
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