Louquética

Incontinência verbal

quinta-feira, 2 de junho de 2022

Reprogramar rotas

 




Ainda não saí da pandemia, apesar do afrouxamento das medidas sanitárias. Não me sinto segura me metendo em aglomerações, dando beijos no rosto de gente conhecida, pulando e vibrando em eventos sociais ou em lojas e estabelecimentos que aboliram o álcool. As amigas já se mobilizam atrás de viagens em grupo pelo Brasil. Desconverso. Quero ver o que pensarei em setembro...Mas, fora isso, a vida segue o fluxo.

Meu atual affair, para quem faço memes usando obras de arte como Template, reclama que eu deveria estar escrevendo e publicando meus livros. Este é um ponto a que sempre volto porque as pessoas, de fato, confundem os fluxos. Eu não acho que a autoria seja uma vaidade. Para mim, é responsabilidade. 

Se eu exerço a posição de crítico literário, investigo e aponto acertos e erros. Da mesma forma como o faço em minha condição de leitora, a exigência para comigo mesma é bem maior. Logo, eu acho que escrever é para quem se garante. Portanto, esse ‘se garantir’ é saber o que se está fazendo, ultrapassar a marca da mediocridade e apresentar um livro como se fosse um pedaço de si mesmo, no sentido de ter noção de que reunir palavras não é fazer literatura.

Larguei mesmo meu quase atual psicanalista por conta de coisas já citadas no post anterior (veio ele exaltar o fato de que leu livros de Augusto Cury; citou um título de outra autoria de teor semelhante no ramo da autoajuda duvidosa, numa clara demonstração de falta de critério de leituras, me fazendo duvidar da real intimidade dele com Freud e Lacan, não obstante viver metendo religião e Jesus em ramos totalmente alheios à lógica cristã de culpas e de delírios salvacionistas). Paro e penso: há algo de errado no mundo; e esse algo deve ser eu, por que não é possível uma coisa dessas!

Abro esse parêntese para frisar minha insatisfação com a postura dele, a citar a condição de capelão, o cargo na Igreja; a dar claras provas de personalidade sedutora, ocupada em exibir pretensas qualidades e exaltar à própria presumida Inteligência... E as perguntas ‘ de bolso’, que parecem coisa de Youtuber a catar likes. E eu, sem saber como manobrar o fim das sessões, ainda fui lá uma outra vez, totalizando três, com minhas desculpas parciais o mais educadas possíveis. Imagine, chegar para o analista e declarar: “Não quero mais sessões com você. Não gostei.” É preciso sensibilidade para evitar criar traumas. Os meus, ele não ajudou a resolver.

É muito difícil terminar relações, de qualquer tipo. Uma dessas aí é bem sensível, porque constitui um pacto comercial progressivo. Ao contrário do que se dá entre outros profissionais, que a gente sempre pode trocar sem dar explicações – psicanalistas são portadores de nossas intimidades e é o tempo que vai desenrolando o novelo deste tipo de relacionamento. Não dá para simplesmente sumir, nem inventar desculpas inverossímeis.

Esquisito: para quê a gente se demora em situações que não nos fazem felizes? Sem ganho secundário, nada justifica...a não ser o vício em repetições. Reprogramar rotas, às vezes, implica passar pelo mesmo lugar; às vezes implica tomar outras direções.

Voltando ao meu affair, também me pergunto o que quero com ele, o que quero dele. Há dias em que gostar basta; dias em que a companhia inteligente dele me provém de muito do que me falta...e há dias em que eu reconheço que aguardo indícios fortes e claros do que ele sente por mim. Há dias em que falho muito, como um sinal instável de wi-fi...


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