Donald Trump foi, há
pouco, condenado, em um dos poucos processos movidos contra ele. Esbravejou
contra o veredito e contra o juiz. Eu só não acredito que possa haver tanta gente
a idolatrar um sujeito desses – e falo dos fãs mundialmente localizados.
Entendo que chegamos
a um tempo em que todo mundo quer prosperidade, apostando em bets, acreditando que terão rendimentos de
jogador de futebol famoso, sonhando que o ‘trabalhe enquanto eles dormem’ ou
que um Deus compensador e justiceiro fará com o que é seu chegue em forma de
fortuna. Entendo até quando passamos a declarar termos um ‘sonho de consumo’ que
incluía o que não estava à venda e o que sequer tem preço. Entendo, sou humana,
frequento shopping, me entulho de coisas que não usarei com frequência e sou
daquelas pessoas cheias de roupas novas que, contraditoriamente, sai sempre com
a roupa velha, por acreditar que aquela roupa me cai bem e me deixa mais segura.
Não me coloco como melhor do que aqueles de quem falo. Sou um deles, num mesmo
tempo, sob mesmas influências. De diferente somente o olhar, porque eu não me
identifico com milionários toscos e desumanos, nem com uma aberração como
Trump, por exemplo.
Objetivamente,
momento brasileiro me desencanta. Acabou o presidencialismo. “O rei, reina. O
parlamento governa.” Nossos militares (brasileiros) golpistas e vândalos, tal
como os torturadores e assassinos do período da ditadura, desde muito foram
anistiados. O sonho de correção da ordem, o sonho de justiça desceu a ladeira
correndo, dobrou à Direita.
O povo dobrou-se à
Direita, à Extrema Direita. O Brasil é uma democracia teocrática e, com sorte
por pelo menos ainda ser democracia. Aqui, qualquer canalha que fale em Deus é
eleito e tratado como o Próprio.
Somos um país de
muitas igrejas e poucas escolas; e de escolas que funcionam como igreja, onde
falta a fé na iniciativa individual na construção do conhecimento, ou seja,
acham que basta dar escola, prover professores e a educação se fará. Não, não
há milagres na área: ou o aluno participa ativamente do processo de
conhecimento ou o resultado é zero. Gostamos da lei do menor esforço, de sentar
e esperar... Esperar messias, salvadores, quem quer que seja que lute por nós.
Gostamos de magia
também: de força do pensamento, de orações e simpatias, de coach e de
constelação familiar, gostamos muito de respostas prontas e de guias. Olhando
de perto, a falta de maturidade é imensa.
Fica fácil seduzir
as massas aqui: basta quebrar coisas, gritar e ameaçar, mostrando a força
truculenta do homem com H, porque afinal estamos desolados com a justiça e alguém
precisa demonstrar coragem. Gostamos dos mais fortes, como convém a um país que
é “Gigante pela própria natureza”.
A política é um
campo em que somos despreparados enquanto povo. A gente apenas briga e se
divide, como bons analfabetos políticos, conforme ensinou Bertold Brecht. Não
gostamos de argumentos, nem de análises: a gente elege por simpatia.
Também caiu o Projeto
de Emenda à Constituição que criminalizava a disseminação de notícias falsas. Claro,
né? Se a verdade aparecer, fica difícil vencer uma eleição – e o povo foi
aprendendo que mentir e ofender é liberdade de expressão.
Na hora da eleição,
a verdade pouco importa. Não temos aqui consciência de classe, o trabalhador se
acha empresário, empreendedor e patrão; o pobre não sabe que é pobre, se sente
classe média e assim vota em favor dos milionários – os mesmos que exploram os
trabalhadores.
Interessante é ver
os pobres distópicos falando dos supostos socialistas de Iphone. Quem gera
riqueza é o trabalhador. O Iphone é feito por trabalhadores. Vício velho, aliás:
país que tem trabalho escravo nas páginas de sua história deveria saber que se
é o escravo quem trabalha, o que faz o branco? E se a classe senhorial é trabalhadora,
para quê foi preciso escravizar o semelhante? Bem, deixa para lá, não se dê ao
trabalho...
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