Louquética

Incontinência verbal

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Contos de qualquer canto


Ela se queixou comigo, dizendo que não quer mais ser romântica. E eu doida para dizer que não temos tal poder de decisão: a gente simplesmente é porque veio a se tornar. O mais, seria casca, falsidade para aparecer socialmente como durona ou realista.
Não quero esconder de mim que tenho expectativas. Tenho que ter, mesmo que estas venham a se tornar frustrações: onde estariam meus estímulos? Como viver sem sonhos? Deus me livre!Isso, sim, seria um amor sem futuro. E se o futuro se faz de vários dia-a-dia, vamos projetando o melhor possível. Aliás, acho isso de conter as expectativas (ou exterminá-las), um contrasenso de nossa época: Ora, se dizem tanto que o pensamento positivo é importante, que ele é o primeiro passo para concretizar as coisas boas, por que frustrar o desejo de esperar o melhor, de ter expectativas?
Mas a citada amiga tem dois problemas graves: joga a própria vida para ser resolvida por outrem, joga para os homens a responsabilidade de preencher tudo que lhe falta - e é um tudo mesmo, já que ela vive com os pais e um irmão drogado, num subúrbio de Salvador, não tem emprego nem estrutura alguma familiar ou social. Deste modo, está sempre errando: literalmente, conhece o cara hoje e na mesma semana vai morar na casa dele.
O passo seguinte é esperar um mês ou dois ( o máximo foram três meses) e tudo acabar da pior forma possível.
O problema decai para outro fator altamente preocupante: ela nunca termina aquilo que começa.
Ora, até desistir presume um trabalho; presume olhar para trás e ver o tempo perdido, por exemplo; ou o tempo que transcorre em que nada saia do lugar, uma vez que a pessoa, ao declinar de concluir o que começou, não vai apresentar nenhuma contribuição nova para si mesma, ou seja, nada fará em benefício de alguma mudança.
E assim a vida segue, com duas graduações começadas e nunca concluídas, no eterno retorno para o lar intranquilo e hostil, para as nulidades e futilidades dela, que talvez não note que chegará aos 30 anos sem nada. E esse nada não se reporta ao meramente material: é aquele nada que nos mostra que nem sequer a segurança interior, o fortalecimento psíquico, a maturidade, a amplificação da capacidade de escolha ou mesmo a melhora do poder de escolha, nada, nada veio.
Digo a ela o que eu diria a qualquer um: está no fundo do poço? Faça um concurso. Crie disciplina e estude duas horas por dia. Se não tem dinheiro, peça isenção de taxa; se não tem livros, vá às bibliotecas públicas, leia e PDF numa Lan house; veja uma vídeo-aula, crie as condições favoráveis à sua aprovação. E não tenha vergonha de começar de baixo: faça concurso para auxiliar de serviços gerais, se esta for a alternativa possível. Passou? use seu salário e vá se preparando para ser secretária ou seja lá o que for e de patamar a patamar, com humildade para dar o primeiro passo, corra atrás do cargo que você quer e merece. Inerte é que nada vai contribuir para mudar.
Digo par ela exatamente isso: A sua vida é sua. Você é quem tem que cuidar. Cuide! Todos os demais seres são coadjuvantes, participação especial, figurantes...Mas a sua vida é sua. Ajuda sempre é bem vinda; carinho, apoio, opiniões, auxílios emocionais, esteios psicológicos, maravilha! Mas a responsabilidade sobre sua vida nunca poderá ser terceirizada.
E creio que é por tudo isso que ela boceja, com preguiça de viver.

sábado, 18 de julho de 2015

Nus


Mas tem gente besta, que não se despe dos preconceitos, que não deixa a alma nua para compreender o que não entende, para descobrir o que não conhece e que compõe a patrulha da vigilância sexual da vida alheia.
Tanta coisa pornograficamente feia na vida do país, tanto estupro ideológico por que passamos ao sermos forçados a pensar como a maioria e a incorporar e formatar o politicamente correto de cada dia...Mas as pessoas, ainda assim, só atentam para a nudez do corpo...Desagasalhados, nus e pobres no íntimo de suas ortodoxias.

O soberano poder do não


E tendo falado sobre tolerância, devo acrescentar que, de fato, ninguém é obrigado. Já viu os memes dizendo isso?"Eu não sou obrigada!"...Eu deveria saber disso e respeitar isso em mim. Eis o limite que nos diz que é hora de dizer não.
O não nem sempre é sob a forma da palavra negativa, mas quando a gente já não suporta, não aceita e não negocia certos sacrifícios em favor do convívio.
Tenho uma amiga que não reconhece os próprios erros, que pensa estar sempre certa, que exige extrema paciência de nós, mas que especialmente comigo é ofensiva. Sempre tem um pretexto, seja porque cheguei cedo ao lugar marcado, seja porque cheguei tarde, seja porque optei por não ir...Sempre serei chamada de individualista.
Não saio de minha casa para ser ofendida. Chega!Vamos parar por aqui. E desta forma, digo que ela fique em paz e que me deixe em paz, porque é o que eu quero.
Há um tempo eu li a Reforma Íntima, o livro espírita tão necessário a qualquer ser humano. Não tenho autoridade no Espiritismo, ainda estou começando meus estudos e seria leviano me revestir da profundidade do conhecimento que eu não tenho, mas vou aqui dizer o que ficou para mim desse livro da Ermance Dufaux: guardamos muitos vícios em nós. O meu vício particular é o carinho alheio, só para dar um exemplo.
Todo mundo tem defeito; e o vício e a falha, se a pessoa consegue admitir a si mesmo que os tem e quais são, ajudam a determinar o encargo espiritual e psíquico que a pessoa carrega. O vício é ligado às ações repetitivas.
Então, em meu caso, eu sempre perdoo. Seja o amigo, o namorado, a criatura que for.
Perdoar é sempre bom. Esquecer é complicado.
À medida em que repito o perdão para a mesma falha alheia, faço apostas na mudança daquela pessoa. Apelo ao bom senso, espero pela consciência, aguardo que o reconhecimento do delito leve à extinção da causa dele.
No caso de minha amiga, isso não aconteceu nem acontecerá. Repeti com ela o que eu já havia feito com um namorado, que eu repeti com um aspirante a namorado também. Eles nunca iriam mudar. Neste caso, quem precisa mudar sou eu.
Se me submeto às mesma situações, deixo impune a quem desculpei e perdoei. A pessoa não cessa o agravamento, não muda de atitude. Assim sendo, eu preciso mudar minha postura para que algo se transforme.
Aqui eu falo superficialmente de tudo. Mas vamos em frente: a amiga em questão me deixou um recado no Facebook. Eu nem ia ler. Acabei lendo. Em meu coração, a flor do perdão surgiu, perfumando o ambiente. Não sou bruta: não se pode exterminar uma flor. Mas essa flor se torna uma erva daninha que sempre voltará a brotar, para comover, para confundir e para que eu me deixe envolver sem perceber os espinhos.
Não. E o meu não significa que eu não quero mais essa pessoa em minha vida. Se tanto suportei foi devido ao sentimento que nutro pela amiga citada. Para suplantar as dores e as ofensas, só um amor de amigo verdadeiro. Contudo, é hora de cessar a festa dos desaforos.
Fazer a reforma íntima é agir diferente. É também notar que certas coisas pelas quais a gente passa, foi porque a gente abriu o precedente. Não digo que para tudo a gente faça um cavalo de batalha, que não releve uma coisa ou outra, que não barganhe ou negocie aqui e ali, que seja concessivo em favor do convívio...Mas isso tem um limite. Somos nós que devemos estabelecer esse limite, isto é, a gente precisa notar qual é esse limite, até onde vamos e até onde permitimos que alguém vá.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Incomodados e Tolerantes


Eu acho que tolerância é bem diferente de respeito. Tolerar é suportar, calado, algo que nos incomoda. Respeitar é mais que isso, muito mais que isso e tem a ver com uma dimensão humana difícil de explicar, mas que aglutina vários valores, sentimentos e sentidos.. Mas, escorregando essa conversa que em muito parece circunscrita às questões de todo tipo de preconceito - e sim, caberia, porque tolerância é bem pouco, é quase um rito de educação burocrática, quase uma solicitude com a 'visita na sala' - vou aqui, confessar, que tenho sido tolerante.
Tenho sido tolerante com um indivíduo que está na minha sala, no meu sofá, conversando com a novela e me interceptando, no caminho da minha quietude, para cobrar minha opinião, para partilhar as tensões da novela das oito...E eu o tolero, porque devo ser anuente com  o contexto dele e sacrificar meu bem-estar, exaurir minha paciência para suportar o incômodo.
Isso é tolerar. Tolerar não anula minha raiva, minha vontade de dar um grito e mandar aquela peste calar a boca, porque eu gosto de ficar sozinha, em minha casa...que ele se comporte como visita.
Tolero minha amiga esquizofrênica Cyda. Sim, são muitas as amigas esquizofrênicas e suicidas. Mas esta frequenta o mesmo Centro Espírita que eu, faz curso no mesmo turno que eu...E na entrada e na saída tenho que tolerar o papo louco e repetitivo; e sou forçada a emitir opiniões sobre coisas que não me interessam; sou forçada a esboçar memórias de nosso tempo de UEFS, que eu já não tenho...
Esquizofrênica, louca: são os quinze minutos mais enfadonhos e torturantes do mundo...Um desgosto do qual não posso me desfazer por causa da boa educação e do dever de causa de ser espírita. Foi por isso que eu vi que tenho feito mal a minha lição: tolerar não é ser bom. Não o faço por hipocrisia, mas por covardia social...Dá vontade, também nesse caso, se dizer claramente: eu não quero te dar carona porque além de me forçar um caminho que eu odeio, também odeio a sua companhia chata, sua loucura inconveniente, essa sua mania de colar na minha existência e, aliás, você é um verdadeiro obsessor encarnado.
Mas a gente dá um desconto e engole o sapo. Eu rezo para que ela não vá ao Centro Espírita no momento em que lá estou...e nas raríssimas vezes em que isso acontece, ela me pergunta se eu senti a falta dela, se eu percebi que ela não foi.
Se eu pudesse, diria: "Claro que eu percebi que você não foi! a noite foi tão boa por isso!". Mas não dá.
Fico na meditação, antes do curso, pedindo a Deus para ela me deixar em paz, para ir perturbar outra...E até que ela vai, pois perturba a presidente do Centro.
Tem coisas que eu pensei que perdoei...Fiz todo esforço para isso...E não foi por hipocrisia que declarei meu perdão: eu acreditei que perdoei, até ser contestada pela razão.
Como espírita, eu tento. Eu penso que consegui o que tentei. No fundo sei que a sinceridade é louvável. Não aquela sinceridade que se confunde com a má educação e a inconveniência, mas esta de que me revisto para admitir que preciso perdoar, mas que minha vontade não se concretizou na realidade. Não foi por querer, não é deliberado. É muito sincero, sim, admitir que certas coisas e pessoas são toleráveis - como uma dor suportável, um desprazer temporário e outros termos comparativos àquilo que não nos dá satisfação.

domingo, 12 de julho de 2015

Ninguém garante!


Não morro de paixão pela tecnologia.
Admiro as invenções da humanidade, os ganhos qualitativos nas áreas de saúde, cultura, comunicações, as facilidades todas advindas com os aprimoramento em cada setor. Tenho, porém, uma particular antipatia com celulares e computadores - todos: do celular de outrora ao smartphone de hoje, do computador de antes aos laptops presentes. Eis-me qui, escrevendo em um, cujo funcionamento é cenozóico, apesar do preço absurdo, apesar de novo...
É isso: alta tecnologia descartável. Não dura nada! frágil e descartável (tal como nossos eletrodomésticos, superiores, maravilhosos e vulnerável a qualquer ferrugem, a qualquer umidade, a qualquer esboço de instabilidade).
Mas, sim, a gente se sente o maior palhaço maravilhado por recursos tecnológicos caríssimos, em indicativo de provável e franca burrice absoluta concentrada: se esses aparelhos são isso tudo que apregoa o deslumbramento dos nossos amigos e o que dizem as propagandas, por que há tanta necessidade de oferecer garantia extra, à qual pagamos antevendo que a cobertura da garantia original do produto é insuficiente? E que fabricante é esse que só se garante por poucos meses? E que perfeição é essa, como no caso dos carros e motos, que sempre convocam consumidores a recall? É, somos meio cegos. Esses indícios já seriam suficientes para que a gente recuasse na substituição de um aparelho por outro.
Já declarei que acho de um pão-durismo absurdo a pessoa abdicar de ter um telefone fixo em casa e as demais tecnologias básicas da sobrevivência do lar - internet rápida, TV por assinatura e telefone fixo são o básico mesmo! - mas sou a pessoa mais pão-duro do mundo no que toca à copra de smartphones (celulares em geral). Não, não dou mais que R$ 600 em um. E este é um alto preço para algo que não vai ultrapassar nove meses de vida útil, se muito.
Aí vejo meus chegados deslumbrados pagando R$ 2.000 ou mais num smartphone...E eu não estou nem aí se é um S9, se voa e se faz massagem por telepatia. São descartáveis. E do que adianta ter um mega celular e a pessoa viver traficando ou mendigando um sinal de wi-fi pelo amor de Deus?
Isso é um deslocamento bruto no sentido do consumo. Muda qualquer idiotice na composição do produto, de modo a parecer que o modelo anterior é ultrapassado, acresce no valor do novo telefone móvel e lá vai a pessoa, que quer parecer 'in', comprando, por mais que seja necessário dividir em 12 vezes sem juros explícitos.
Fico infeliz com meus computadores: não apenas vão durar pouco, como vão ser vítimas de mercenários de manutenção.
Tive um desses em minha vida: o cara confiável, amigo de meu amigo, que fazia a manutenção do meu computador e já avisava que me veria em três ou quatro meses. Era uma profecia: o computador travava e eu recontratava o serviço.
Claro, né? o sujeito confiável fazia reparos com prazo determinado, programando o tempo de validade de programas, para que a escravidão nunca deixasse de ser retroalimentada. Gente fina! E isso só passou quando um amigo assumiu o controle da manutenção e ele mesmo fez o serviço, de graça, para mim.
Gastamos muito em coisas que também já receberam o nome de bens duráveis, tipo carros e eletrodomésticos como geladeiras, freezers, televisão...Hoje, o bem durável dura tão pouco que até saem das fábricas quebrados e esta é a razão do recall. 
A verdade desconfortável é essa: não há garantias!

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Receitas suspeitas, curas duvidosas.


A paz é uma construção. Às vezes, o zumbido do vizinho, os burburinhos, os barulhos, as fofocas, nada atinge a gente... Às vezes, realmente, não há o que nos atinja, mesmo que haja contas a pagar e certo desespero pelas incertezas da vida...Quando a paz vem de dentro, não tem jeito!
Já falei mal da medicamentalização da vida, aqui neste blog e por aí, pela vida real.
Devo admitir, contudo, que tenho um certo fascínio pelos medicamentos. A começar pelas anestesias: acho fantástica a ilusão sensorial que ela provoca. Pense aí o que é ter a sua carne cortada, ter alguém retalhando sua carne e você não sentir nada!
Ludibriar a dor física e não sentir. Acho incrível! É um desafio: você sabe que estão mexendo em seu corpo, tirando coisas, retirando coisas, cortando, costurando...Mas a anestesia simplesmente lhe deixa imune à dor - seja você total ou parcialmente deixado consciente.
Mas duvido que se possa explicar o bem-estar através de um medicamento.
Duvido que haja anestesia para as causas reais dos desconfortos psíquicos. Por outro lado, do jeito que meus amigos, conhecidos e inimigos A-DO-RAM remédios de tarja preta, mais exatamente os anti-depressivos, eu imaginava que eles, além de paralisar fisicamente uns desses amigos e inimigos, mantendo-os eternamente sonolentos e lentos, pudesse realmente anestesiar a depressão.
Na saída do Centro espírita, perguntei a uma amiga esquizofrênica, louca por remédios: os anti-depressivos tiram a depressão? deixam a pessoa feliz?
Não era uma pergunta irônica: eu queria me convencer do contrário.
Para ser sincera, eu penso da seguinte maneira: o tarja-preta tira a sensação física da depressão. assim como quem bebe álcool fica desinibido, alegre ou sonolento. Entretanto, penso eu, que isso se faz porque o usuário evita tratar a causa. Sendo assim, elemina o sintoma incômodo, a angústia e, claro, varre para baixo do tapete a causa. No meu ponto de vista, aqui por oura hipótese particular, no geral a causa da depressão está associada a coisas difíceis de encarar e tal dificuldade se mostra em tamanho proporcional ao ego inflado da pessoa. Desta forma, ela não encara os fracassos, a inveja, as dores, as coisas que ela causou, os desejos de vingança, as maledicências...E como o ego imenso não lhes permite enfrentar a causa ou admitir suas próprias responsabilidades no quadro e as mediocridades em geral (tipo esse povo que nos aconselha a perdoar sempre, enquanto essa mesma pessoa é um poço de rancor, dor de cotovelo e ressentimentos não assumidos), fogem para os remédios.
Obviamente, há causas e causas, tipo luto e vicissitudes contra os quais não se tem arbítrio ou potência de decisão. Mas, no geral, é o que penso, ressalvando que tem que também se esconda sob a máscara da depressão e similares apenas para chamar a atenção, se fazer de frágil e obter atenção estrategicamente. Aqui, falo de coisas genéricas, mas o rol é grande.
Descontados os casos de esquizofrênicos e os que têm enfermidades psíquicas desse porte, remédio é moda quando deveria ser um recurso auxiliar.
Mas então perguntei se anti-depressivo tirava a depressão. Minha amiga citou três e me disse que não!
Ora, como se entende isso? seria o mesmo que um anti-inflamatório que não combatesse a inflamação, sonífero que não desse sono. Mas aí ela disse que o que em geral acontece é ficar dopado e que eu esquecesse o lítio e teorias de elementos químicos em baixa.
Não dá para esquecer porque na TPM somos todas vulneráveis aos efeitos dos hormônios e seus desdobramentos neuro-químicos - ódio, insônia, apetite ou perda de apetite, desordens gástricas, impaciência generalizada...Porque somos, sim, compostos por instâncias psíquicas que se sobrepõem à química; mas somos também afetados pelos fatores químicos que se desequilibram. Um ser humano é um organismo complexo. Todavia, não há remédio para coisas que ultrapassam o receituário médico.
Há dores internas subjetivas cuja intensidade faz gritar e sofrer tanto quanto uma dor física. Para essas a gente quer anestesia, a gente roga a Deus e aos médicos um socorro que bloqueie a dor...Somos humanos e temos urgência e queremos comodidade...Mas essa comodidade não existe, é falsa anestesia que sempre vai precisar ser retroalimentada e, por conseguinte, constituir um vício.
A paz a gente constrói...Pode não durar muito, mas vale a pena.
Isso vai se repetir sempre, porque a vida tem altos e baixos, intermitências, alternâncias, felicidades sem prazo determinado...

terça-feira, 7 de julho de 2015

Pegada!


Andei falando que queria namorar alguém, há um tempo. O caso nem era esse, porque, para ser sincera, não sinto falta de nenhum namorado e isso vem claramente à medida que dispenso meus candidatos, fujo deles, invento desculpas... Vejo que eu queria viver coisas que os namoros não dão, que a estabilidade emocional não proporciona e talvez eu seja a chata da questão, aquela pessoa que tal o Pessoa "até amaria o lar, desde que não o tivesse"...
Ah, vamos traduzir em miúdos, evitando as conotações políticas ou feministas sob as quais escondo minhas escolhas reais e as razões a elas correspondentes: cacete, eu nunca casaria com ninguém. Não, não casaria. Quando eu falo em namoro por tempo indeterminado é pura enrolação para não apertar o nó do relacionamento em qualquer coisa que seja casamento. Morar junto é casamento. Dormir junto, todos os dias, é casamento. Namoro que se arrasta por mais de cinco ou dez anos, é casamento.
Então fico de cabelo arrepiado ao ver que C., minha amiga, já está morando com o namorado que ela conheceu há um mês e que começou a namorar há três semanas. No caso dela eu entendo: precisa fugir do lar - aquele inferno suburbano com parentes complicados e as incertezas materiais de cada dia.
Mas eu não preciso fugir. E tenho casa. Tenho o lar que não é pessoano, mas é meu. Alguns dirão que sou metida a auto-suficiente, outros me julgarão egoísta, mas no fundo eu sou romântica, eu torço tanto pelo amor, que sei que ele não sobrevive ao cotidiano e à partilha de odores, problemas, espaços...Quem ama separa - separa os mundos em privacidades distintas.
Passei o fim de semana com 'ele', matando a fome do corpo, pensando um monte de besteiras que só o medo de um futuro juntos podem justificar; com medo que esse negócio se delongue, com medo que os dias se repitam...
Quando eu disse que, para mim, amor é constância, sei que sou inconstante e que talvez eu não tenha boas doses de amor para dar para ninguém, que sou um ser que se entedia com facilidade, que enche o saco com a mesmice, que quer distância e que não teme estar sozinha, apesar de não cultivar intensa solidão.
Confundo facilmente as coisas, porque sou movida a paixão. Era bom pensar em Vinicius antes de dormir - eu precisava da fantasia, da verdade, do tumulto interior, de bons motivos para me arrumar e sair ao sol. Aí o negócio passa e vem o luto que eu luto para não se intensificar - ainda mais eu, que não sou muito de fazer marketing pessoal com depressão estratégica para atrair penosos carinhos...
E no fim da história, fico lá, tipo os versos de Xico Sá: "Para curar um amor platônico, só uma trepada homérica".