Louquética

Incontinência verbal

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Receitas suspeitas, curas duvidosas.


A paz é uma construção. Às vezes, o zumbido do vizinho, os burburinhos, os barulhos, as fofocas, nada atinge a gente... Às vezes, realmente, não há o que nos atinja, mesmo que haja contas a pagar e certo desespero pelas incertezas da vida...Quando a paz vem de dentro, não tem jeito!
Já falei mal da medicamentalização da vida, aqui neste blog e por aí, pela vida real.
Devo admitir, contudo, que tenho um certo fascínio pelos medicamentos. A começar pelas anestesias: acho fantástica a ilusão sensorial que ela provoca. Pense aí o que é ter a sua carne cortada, ter alguém retalhando sua carne e você não sentir nada!
Ludibriar a dor física e não sentir. Acho incrível! É um desafio: você sabe que estão mexendo em seu corpo, tirando coisas, retirando coisas, cortando, costurando...Mas a anestesia simplesmente lhe deixa imune à dor - seja você total ou parcialmente deixado consciente.
Mas duvido que se possa explicar o bem-estar através de um medicamento.
Duvido que haja anestesia para as causas reais dos desconfortos psíquicos. Por outro lado, do jeito que meus amigos, conhecidos e inimigos A-DO-RAM remédios de tarja preta, mais exatamente os anti-depressivos, eu imaginava que eles, além de paralisar fisicamente uns desses amigos e inimigos, mantendo-os eternamente sonolentos e lentos, pudesse realmente anestesiar a depressão.
Na saída do Centro espírita, perguntei a uma amiga esquizofrênica, louca por remédios: os anti-depressivos tiram a depressão? deixam a pessoa feliz?
Não era uma pergunta irônica: eu queria me convencer do contrário.
Para ser sincera, eu penso da seguinte maneira: o tarja-preta tira a sensação física da depressão. assim como quem bebe álcool fica desinibido, alegre ou sonolento. Entretanto, penso eu, que isso se faz porque o usuário evita tratar a causa. Sendo assim, elemina o sintoma incômodo, a angústia e, claro, varre para baixo do tapete a causa. No meu ponto de vista, aqui por oura hipótese particular, no geral a causa da depressão está associada a coisas difíceis de encarar e tal dificuldade se mostra em tamanho proporcional ao ego inflado da pessoa. Desta forma, ela não encara os fracassos, a inveja, as dores, as coisas que ela causou, os desejos de vingança, as maledicências...E como o ego imenso não lhes permite enfrentar a causa ou admitir suas próprias responsabilidades no quadro e as mediocridades em geral (tipo esse povo que nos aconselha a perdoar sempre, enquanto essa mesma pessoa é um poço de rancor, dor de cotovelo e ressentimentos não assumidos), fogem para os remédios.
Obviamente, há causas e causas, tipo luto e vicissitudes contra os quais não se tem arbítrio ou potência de decisão. Mas, no geral, é o que penso, ressalvando que tem que também se esconda sob a máscara da depressão e similares apenas para chamar a atenção, se fazer de frágil e obter atenção estrategicamente. Aqui, falo de coisas genéricas, mas o rol é grande.
Descontados os casos de esquizofrênicos e os que têm enfermidades psíquicas desse porte, remédio é moda quando deveria ser um recurso auxiliar.
Mas então perguntei se anti-depressivo tirava a depressão. Minha amiga citou três e me disse que não!
Ora, como se entende isso? seria o mesmo que um anti-inflamatório que não combatesse a inflamação, sonífero que não desse sono. Mas aí ela disse que o que em geral acontece é ficar dopado e que eu esquecesse o lítio e teorias de elementos químicos em baixa.
Não dá para esquecer porque na TPM somos todas vulneráveis aos efeitos dos hormônios e seus desdobramentos neuro-químicos - ódio, insônia, apetite ou perda de apetite, desordens gástricas, impaciência generalizada...Porque somos, sim, compostos por instâncias psíquicas que se sobrepõem à química; mas somos também afetados pelos fatores químicos que se desequilibram. Um ser humano é um organismo complexo. Todavia, não há remédio para coisas que ultrapassam o receituário médico.
Há dores internas subjetivas cuja intensidade faz gritar e sofrer tanto quanto uma dor física. Para essas a gente quer anestesia, a gente roga a Deus e aos médicos um socorro que bloqueie a dor...Somos humanos e temos urgência e queremos comodidade...Mas essa comodidade não existe, é falsa anestesia que sempre vai precisar ser retroalimentada e, por conseguinte, constituir um vício.
A paz a gente constrói...Pode não durar muito, mas vale a pena.
Isso vai se repetir sempre, porque a vida tem altos e baixos, intermitências, alternâncias, felicidades sem prazo determinado...

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