Louquética

Incontinência verbal

terça-feira, 7 de julho de 2015

Pegada!


Andei falando que queria namorar alguém, há um tempo. O caso nem era esse, porque, para ser sincera, não sinto falta de nenhum namorado e isso vem claramente à medida que dispenso meus candidatos, fujo deles, invento desculpas... Vejo que eu queria viver coisas que os namoros não dão, que a estabilidade emocional não proporciona e talvez eu seja a chata da questão, aquela pessoa que tal o Pessoa "até amaria o lar, desde que não o tivesse"...
Ah, vamos traduzir em miúdos, evitando as conotações políticas ou feministas sob as quais escondo minhas escolhas reais e as razões a elas correspondentes: cacete, eu nunca casaria com ninguém. Não, não casaria. Quando eu falo em namoro por tempo indeterminado é pura enrolação para não apertar o nó do relacionamento em qualquer coisa que seja casamento. Morar junto é casamento. Dormir junto, todos os dias, é casamento. Namoro que se arrasta por mais de cinco ou dez anos, é casamento.
Então fico de cabelo arrepiado ao ver que C., minha amiga, já está morando com o namorado que ela conheceu há um mês e que começou a namorar há três semanas. No caso dela eu entendo: precisa fugir do lar - aquele inferno suburbano com parentes complicados e as incertezas materiais de cada dia.
Mas eu não preciso fugir. E tenho casa. Tenho o lar que não é pessoano, mas é meu. Alguns dirão que sou metida a auto-suficiente, outros me julgarão egoísta, mas no fundo eu sou romântica, eu torço tanto pelo amor, que sei que ele não sobrevive ao cotidiano e à partilha de odores, problemas, espaços...Quem ama separa - separa os mundos em privacidades distintas.
Passei o fim de semana com 'ele', matando a fome do corpo, pensando um monte de besteiras que só o medo de um futuro juntos podem justificar; com medo que esse negócio se delongue, com medo que os dias se repitam...
Quando eu disse que, para mim, amor é constância, sei que sou inconstante e que talvez eu não tenha boas doses de amor para dar para ninguém, que sou um ser que se entedia com facilidade, que enche o saco com a mesmice, que quer distância e que não teme estar sozinha, apesar de não cultivar intensa solidão.
Confundo facilmente as coisas, porque sou movida a paixão. Era bom pensar em Vinicius antes de dormir - eu precisava da fantasia, da verdade, do tumulto interior, de bons motivos para me arrumar e sair ao sol. Aí o negócio passa e vem o luto que eu luto para não se intensificar - ainda mais eu, que não sou muito de fazer marketing pessoal com depressão estratégica para atrair penosos carinhos...
E no fim da história, fico lá, tipo os versos de Xico Sá: "Para curar um amor platônico, só uma trepada homérica".

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