
Tenho uma amiga linda. Linda, competente, inteligente e admirável: não lhe falta nada, pois ela foi presenteada com a beleza interna e externa. Ela é uma sereia!
Contudo, ela está de mal de mim. De mal: como aquelas crianças de cinco anos, que ficam correndo na rua, de pés descalços, com caldo de manga escorrendo pela barriga, brigando para não dividir seus brinquedos, puxando os cabelos das
amiguinhas...e torcendo para chegar o domingo e ter festinha de aniversários para ir. Bem assim!
Interessante é que, diante de tamanha
criancice, perguntei a ela porque do afastamento. Ela não quis responder. Forcei e ela se limitou a dizer superficial e laconicamente que eu falei mal dela junto aos seus inimigos.
Nem preciso
dizer que não tive sequer o benefício da dúvida.
Nem preciso dizer que ela se negou a discutir o assunto ou a verificar a veracidade do dito e do suposto.
Ok!
De fato, sai com uma inimiga da Sereia, que é minha amiga. Não vejo onde uma coisa exclui a outra, uma vez que não perdemos tempo com assuntos transversais aos nossos próprios. Tampouco eu não me sentiria bem num papel duplo. Pelo contrário, quem me odeia sabe que o que eu tenho a dizer é na cara - não mando recados e não gosto de mal entendidos.
Também, verdade seja dita: sou uma pessoa atrapalhada. Já levei minha melhor amiga à casa da amante do pai dela - obviamente, eu não sabia de nada: nem que o pai de
Jau era o namorado
de Dona Kena, nem que todo mundo sabia do caso. Resultado: a mãe (e o pai) de minha melhor amiga me odeia porque acha que eu quis expor todo mundo, e Dona
Kena sustentou o mesmo raciocínio - mas pelo menos, posteriormente, chamou os
neurônios à
ativa e viu que não faria sentido e que tudo não passou de um equívoco.
Diz-me com quem andas...é, esta minha melhor amiga teve psicose pós-parto, recentemente.
A irmã dela, maníaco-depressiva, tentou o suicídio, é
sexólatra e saiu do hospício recentemente. Adivinhem quem foi a primeira pessoa para quem ela ligou ao sair do
manicômio? eu mesma! e me sinto lisonjeada, porque não sou
Louquética à toa. Até parece música de
Falcão (não o
dO Rappa, gente, o do
Black people car, o
cearense): "Quando eu saí do sanatório/era pleno m
ês de
agosto"...
Bem, dizer melhor amiga é meio
excludente, não é? mas é para frisar a qualidade da amizade.
Meu melhor amigo se apaixonou. É, João Neto mudou muito com a paixão - é que passa a ter outro círculo de atenções, outras coisas a viver...e o laço da amizade afrouxa um pouquinho. Mas, muda.
Bem, quanto á minha amiga, lembrei de uma dessas fábulas
internéticas em que se
fala sobre o fato de São Jorge estar eternamente matando o dragão. Ora, mas que gerúndio! Nunca matará este dragão? é o processo que interessa, o estar a matar?
Então alguém sentenciou que São Jorge aprendeu a se dedicar a matar o dragão. Ele não sabe amar. Se ele deixar de matar o dragão, a existência dele perde o sentido. Ele só sabe fazer isso.
Também lembro que os Estados Unidos sempre viveram de construir um inimigo, um opositor: num princípio, era o Comunismo. Beleza: Guerra Fria para distrair os ânimos, filmes e ideologias derramadas para lascar com o
time do Comunismo.
Aí a experiência Comunista/Socialista ruiu. O que seria dos Estados Unidos sem os seus inimigos? O desejo de potência fala alto: é preciso ter inimigos. Então, vieram os Extraterrestres...a
idéia não perdurou, mas rendeu boas lendas urbanas e filmes para Hollywood.
Atualmente, o inimigo dos Estados Unidos é o terrorismo. Ainda bem: real ou fictício, eis uma razão para viver!
Acho que a sereia, assim como São Jorge e como os Estados Unidos, não sabe viver sem inimigos. É preciso fabricar um. Aqui estou!
Amigo é coisa para se
guardar debaixo de sete palmos?