Não é porque as
pessoas têm tudo que não lhes falta nada.
Sempre invejei
quem teve condições favoráveis a si, tipo uma família amiga, com gente educada,
letrada, harmoniosa; ou mesmo quem teve uma família pobre, de pais analfabetos,
mas educógena, que valorizasse o estudar e a cultura letrada...Quem nasceu
bonito, rico, inteligente...Mas nem assim se tem tudo. Mesmo quando essas
coisas existem, em todo ser humano há uma falta.
Tem gente que
pensa que essa falta se completa com um filho; outros pensam que a falta se
compensa com casamento, com um amor a qualquer custo...ou com dinheiro...
A única coisa
que nunca nos faltará é essa falta. Universal.
Tem muitos
conhecidos meus (e até ex-amores) preenchendo a vida com seus vícios – em sexo,
cocaína, álcool, manias de grandeza e outras drogas.
No momento minha
falta também está bem evidente: é que um ex-namorado veio me fazer cobranças
afetivas de uma década atrás.
Ele guardou o
ódio. Ódio conservado em barril de carvalho, curtido e nunca envelhecido. Jogou
na minha cara. Ódio 100% puro, concentrado. E o efeito foi corrosivo, porque
nem o amor por outro, responsável por nossa separação real, existe mais. O ódio
do ex, sim, existe intacto.
Jogou em minha
cara as lágrimas e as dores.
Eu amava aquele
a quem chamo de Ex-Grande Amor da Minha Vida. Não foi escolha. Acho que foi a
Florbela Espanca quem disse algo como: “Ama-se a quem se ama e não a quem se
quer amar.” Ele não entende isso.
Aconteceu com
uma aluna minha também: o marido foi embora. Ficou quatro anos em outro Estado.
Casou com outra. Ela deduziu que ele seguiu em frente, tudo acabado, vida que
segue...Constituiu outro relacionamento. Ele soube. Veio cobrar a conta como
quem cobra a anuidade de título de dívida contraída e foi violento.
Em verdade, vos
digo que uma briga de palavrões e ofensas trocados fere menos que essa vazante
de ódio.
Um xinga, o
outro xinga e pronto. Cada um se recolhe com seu desagravo.
Mas esses
exercícios de ódio doem mais.
Penso que, de
tudo que vivemos, ele só conservou a memória afetiva do sofrimento quando eu me
apaixonei por outro. Das incontáveis desfeitas, humilhações, traições que eu
sofri, até chegar a este ponto de me apaixonar por outro homem, ele não lembra.
Mesmo quando ele
casou com outra e eu inventei de seguir em frente, num novo affair, ele achou que eu pertencia a
ele, que traí. Fui fiel e burramente fiel durante o relacionamento da gente e
por muito tempo. Traí em outras ocasiões, por puro chumbo trocado.
Geralmente as
pessoas não perdoam o fato de não mais as amarmos.
Juro: até Vini,
nessa semana, gravou dois áudios para mim, a fim de dizer que estava com
saudades.
Não eram
saudades como nunca fora amor: é saudades de ser amado e paparicado por mim.
Esse povo tem ego sensível. Eu também tenho ego.
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