Muitas
são as identidades que nos atravessam, por isso não me prendo à postura
glamourizante de minha formação acadêmica.
Acho
que posso ficar discutindo coisas e temas que realmente gosto, diretamente
ligados à minha formação, como a representação literária e narrativa; e também
brincar com os temas de meu tempo.
Em
meu tempo de formação e mesmo agora, já consolidada minha experiência no Ensino Superior, as pessoas esperam certos estereótipos. Já se foi o tempo em que o intelectual
respeitado precisava ser básico ou desleixado, porque o cuidar da aparência era
futilidade, era marca de aburguesamento.
Nos
cursos de pós-graduação, sim, segue valendo: quem pesquisa cultura popular
precisa adotar um visual mais Bráulio Bessa, algo mais Mercado de Arte Popular,
sem dispensar chapéus ou sandálias de couro, que é para dar mais credibilidade
a si mesmo; quem pesquisa África ou temas étnicos ou correlatos, precisa usar
batas, uns dreadlocks, uns cabelos temáticos (sim, é ironia minha, mas acontece
com frequência), assim como o público de Bacharelados Interdisciplinares em Humanas
precisam ostentar tatuagens e indumentárias de religiosidade identificável,
tanto quanto os de Direito precisam de ternos; e os de Saúde, de roupas branca.
É
claro que eu estou rindo, bem mais da realidade palpável do que de minha ironia.
Isto porque acho engraçado as pessoas estranharem que professor possa, queira
ou goste de andar arrumado. O tema voltou aqui porque exatamente um colega
professor, de Direito, brincou com um meme que trazia um gato todo desgrenhado na
hora da aula quando a transmissão era apenas por áudio; e todo penteadinho e
arrumado, quando a aula era com vídeo e áudio. Ele retrucou, disse que eu era
constantemente arrumadinha; e depois admitiu que ele também era. A gente riu
muito porque, no fim das contas, é claro que a aparência é um texto lido pelos
outros em conformidade com parâmetros determinados; mas como as pessoas
depositam nisso suas leituras sobre quem é humilde, quem é metido, quem é
convencido e etc.
Diminui
a credibilidade intelectual se você é arrumado, se é bem-humorado, se esboça
simplicidade em alguns outros gostos – fica aquilo, do preconceito, de que
intelectual não tem tempo para cuidar do exterior; que a aparência é algo
supérfluo; que mulher bonita ou arrumada só pode ser fútil...
Prossigo achando engraçado. E, mal comparado, até no supermercado, eu não escolheria uma embalagem amassada, danificada. Escolheria um item simples e higiênico, desde que qualificado, mas antes de tudo, escolheria por rótulo, conteúdo e qualidade.
Analogia desproporcional? Talvez, mas não injusta.
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