As pautas sobre o
corpo geralmente giram em torno do direito pleno do indivíduo a ele. Isso
significa o controle que recai majoritariamente sobre o corpo das mulheres,
desde a reprodução até às formas de apresentação pessoal, nas várias culturas,
determinando as vestes, o tamanho das unhas e a cor com que pintá-las, o tamanho
e a forma dos cabelos e até os bem intencionados do Youtube gastam seu
tempo para criar vídeos sobre o que usar aos 40, 50, 60...
E, sim, há plateias
para tudo isso. E sabe por que? Porque as mulheres não querem se sentir
ridículas, anacrônicas, sem noção...E, de fato, se propõem a aprender a como se
comportar e a o que usar, que estejam em conformidade com aquilo que se espera
delas. Isso também significa que não sabemos ter as idades que temos e que
teremos, porque a verdade é apenas que o tempo passa, prossegue...E daqui a
pouco a gente se toca sobre a idade que tem, embora o corpo não corresponda aos
estereótipos etários. Era para aos 30, sermos balzaquianas (lembram da obra de
H. Balzac, “A mulher de 30 anos”?).
Dá para entender:
nossas avós e muitas de nossas tias, casavam até os 15 anos. Com 20, já tinham
uns 3 filhos...os desgastes com a vida doméstica e familiar, o contexto social
diferente e ainda mais endurecido moralmente, os poucos recursos da indústria
da estética e tantos fatores que não caberia enumerar agora, faziam as mulheres
se transformarem em senhoras muito cedo. A expectativa de vida também, sob
essas questões, ajudava a firmar o citado estereótipo (isso inclui uma
pluralidade de aspectos positivos e negativos, como os de ordem sanitária, as políticas
de saúde pública, os avanços na Medicina, índices de violência contra as
mulheres, etc.).
Uma mulher pode se
sentir bem consigo mesmo em roupas de qualquer tipo, tamanho, cor...se essa for
a escolha dela. Como sociedade, passamos muito por cima das liberdades individuais.
Roupa certa é aquela com que você se sente bem. Nos casos determinados, em que
há formalidade, roupa certa é a que esteja condizente com a ocasião, porque os
ritos sociais têm esse precedente – biquíni para a praia; vestido para o
casamento; traje a rigor em contexto específico...
Mas, o que mais me
afeta é mesmo o controle sobre os nossos cabelos. Poxa, não se pode envelhecer
e querer usar franja; não se pode ser negra e ter cabelos loiros; não se pode
querer ter o cabelo em conformidade com a vontade da dona, jamais. A vigilância
social exige e decreta o permitido e o vetado. E ninguém quer se sentir
ridículo. Vigio muito a minha tia, de 76 anos, que tem lindos cabelos loiro médio,
longos: hoje ela se sente muito bem por poder ter o cabelo de acordo com a
vontade própria, com a escolha própria, valendo-se de versatilidade nas
escolhas de penteados e apresentação pessoal.
Cabelo bonito é cabelo
bem cuidado. Pontas duplas, manchas de tintura, ressecamento, aspecto sujo, é
tudo que se pode evitar. O resto é censura.
Até uns 10 a 12 anos,
essa mesma tia minha, só usava calça, para esconder as varizes. Descobriu, depois
de muito tempo, que os vestidos são confortáveis e podem servir ao mesmo
propósito de ocultar as varizes que tanto a entristecem...Criativamente,
combina peças e acessórios e, o que é melhor, parece bem feliz hoje em dia,
como se tivesse alcançado a independência.
Tem isso também de
vigiar o que as mulheres calçam...esqueci completamente, mas sei que rende
outra pauta.
Eu, por exemplo, não uso sapatos crock, porque acho feio, horrendo. Não visto body nem macacão: em mim, acho horrível, ridículo...em mim! Acho que não combina comigo, não necessariamente pelo corpo, mas pela pessoa. Já calça sarouel, eu não gosto mesmo, do pleno direito de não gostar e achar feio, pois me passa a impressão de que a pessoa está de fraldas ou sofrendo de varicocele. São minhas escolhas, minhas impressões, voltadas à minha vida.
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