Precisei
atender à generosa convocação para uma publicação de artigo. Devido à
exiguidade do prazo, achei que deveria me valer de algo já escrito e nunca
publicado, a fim de poupar tempo e esforços.
Eis-me
diante da criticidade que o tempo impõe: abri o velho artigo escrito. Gostei do
que li, mas entendi que o romance que dava corpo à minha análise não trazia
substrato para despertar interesses. Era um bom livro, de conhecido autor latino-americano,
mas um tanto quanto restritivo, daquelas leituras para poucos, para públicos
específicos, com tema desgastado, apesar de continuar na moda. Então, desisti e
resolvi começar do zero.
Começar
do zero, para mim, significou ler novamente um outro livro. Li com muito gosto.
Adorei ler. Foi trabalhoso e consumiu tempo, mas me deu um extremo prazer,
porque amo Rubem Fonseca.
O
romance José, escrito por Rubem Fonseca em 2011, compõe-se de um
exercício de memória articulado na ficcionalização da narrativa. Desta forma,
há um pretenso relato biográfico, que mescla fatos históricos, pessoais e
culturais, às multiplicidades de artimanhas da verossimilhança, traçando um
instigante jogo no plano das fronteiras entre estas partes.
Olha,
a quem acha que deve trabalhar com aquilo que gosta, eu só posso dizer: se você
puder, faça isso mesmo. Nada melhor. Até o sacrifício de começar tudo de novo e
o gasto de compor cada parte, cada análise, de sair catando referências, de
formatar páginas, etc., tudo vale a pena.
Se
fosse em um outro contexto, em que eu precisasse seguir cartilhas para
conquistar uma vaga, um lugar, eu poderia ceder ao meu objetivo e ‘casar por
interesse’, mas se posso me valer da espontaneidade de minhas escolhas, lá vou eu,
recomeçando a escrita, recalculando a rota. Acho que eu me devia isso: escrever
sobre o livro de Rubem Fonseca e, depois, escrever sobre A insustentável
leveza do ser, que é o livro da minha vida, o livro primeiro dentre todos
os livros, aquele que é paixão de leitura e deslumbramento narrativo. Mas, deste
último, sempre começo a escrever e largo, porque sou instada a fazer coisas
obrigatórias que me tiram da rota.
Devo
dizer que o livro de Rubem Fonseca, José (2011), foi o livro mais bonito
que eu li em uma década. Não sei traduzir minha impressão com outro adjetivo,
porque todos seriam pouco. Um livro apaixonante, lindo, surpreendente para quem
já leu muito as obras de Fonseca...Para mim, valeu o trabalhoso retorno à
elaboração do artigo. Fica a minha dica: escreva sobre obras que tenham
respaldo afetivo para você. Livro é boa companhia, precisa ser um livro amigo,
amado.
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