Vejo algumas pessoas que se queixam de que
a clientela do tarô se zanga e se revolta quando a leitura das cartas contradiz
seus sonhos, seus planos, seus interesses. Entendo isso. Acho que quem recorre
a oráculos está em busca de respostas e de clareza, mas que no fundo pagam para
obter boas notícias e confirmações de suas premissas. Nem sempre isso vai ocorrer, aqui considerando crentes,
charlatães e profissionais sérios do ramo – porque não me referi às cartomantes
clássicas que agiam e agem mais por intuição e performance teatral, do que pelo
poder intuitivo ou mediúnico. Mas, o preâmbulo não é para tratar de cartas,
tarôs ou cartomantes e, sim, para os que reagem mal e de forma histriônica a
conclusões, ilações e previsões que contrariam seus próprios interesses. É tipo
essa gente que se revolta contra resultado de pesquisa eleitoral: desqualificam
o instituto de pesquisa, caso o resultado não favoreça o candidato que ela
profere. Pois, bem: a corrida eleitoral aqui no Estado da Bahia, seja por
estatística, seja por leitura de contexto, desenha um cenário favorável à
vitória de ACM Neto nas urnas. Eu não fico nem um pouco feliz por isso, todavia
preciso encarar que a realidade projetada será essa, independentemente de meu
gosto pessoal.
Ao colocar a análise na mesa, inclusive
sublinhando que ACM Neto tem a seu favor o império das comunicações – herança de
família, bem gerida, reprodutora da Globo, além de aparatos variados de marketing,
dinheiro, estratégica e influência – as pessoas enlouquecem de revolta. Um
aluno meu ficou estupefato. E eu achando engraçada a forma como as pessoas
tratam o tema, como se fosse questão de torcida. E não é... Do outro lado, os
bobos de sempre, defendendo que o resultado de eleições são sempre culpa das
elites...Como se nós tivéssemos mesmo uma elite tão cheia de gente, uma parcela
tão grande da sociedade tão cheia de dinheiro. Não: o povo vota com a elite
porque se identifica com ela, com seus ideais, com seus sonhos.
Vendedores de lojas de grife se sentem
ricos como seus próprios clientes; empregada doméstica de casa de profissional
liberal, de empresário, se sente privilegiada, dá razão ao patrão, vota como
ele vota porque é dali que vem seu emprego. Portanto, o pobre mesmo, o pobre raiz,
louva o empresariado, porque acredita que um empresariado forte que tenha lucros
pesados é o suficiente para garantir empregos e salários para as classes mais
baixas. Posso apostar que pobre nem sabe que é pobre; da mesma forma que negros
e pardos nem sabem que o são.
Pobre tem outros valores, ainda mais
quando são vinculados a alguma instituição religiosa: querem mais é agenda
moral, com vigilância de comportamentos sexuais e todo rigor da palavra
bíblica. Isso importa mais que o pão ou o preço da gasolina! Acho que sociólogos
de outrora devem ficar desolados com o perfil do povo brasileiro atual.
Em um ano sem carnaval, mas com futebol e
eleição em lide, a cara que o Brasil vai mostrar em 2022, com ou sem pandemia,
será uma máscara para nunca mais a gente
esquecer.
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