Louquética

Incontinência verbal

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Relacionamentos: day after!


Parece esquisito quando a gente assume que não quer compromisso. Dá a entender que, de fato, procuramos aventuras, galinhagem ampla, geral e irrestrita. Certo, estou advogando em causa própria, assumidamente.
Só quem esteve num relacionamento de segurança máxima - é análogo à prisão: seja porque te prendem, sejam porque você se condiciona a ficar por ali, porque mesmo insatisfatório te dá algumas garantias - bem, só quem passa por essas coisas entende.
Lembro do Ultraje a rigor cantando Independente Futebol Clube e do quanto é bom pertencer a si mesmo. É preciso muita paixão para a gente querer se entregar a ponto de nem mais pertencer a si mesmo e a ponto de nosso bem-estar depender de estarmos bem com quem a gente ama, e é lindo também, mas dá um trabalho!
Tenho tanto medo dos efeitos colaterais das paixões!
Se fosse só o caso do apaixonado ficar com cara de otário , ficar sem noção, dar todas as bandeiras do mundo e achar que ninguém percebe; se fosse só o caso de ficar com o coração acelerado, de ter acessos de nervoso, de ficar fazendo malabarismos para agradar ao outro e se deixar iludir com qualquer argumento ou desculpa sem a menor lógica que o objeto de nossa paixão nos dá, tudo bem...mas isso é só a porta de entrada! a longo prazo, a gente sai arrebentado!
Para quem não entende minha fase atual, explico que morro de medo de construir história. Não quero me apaixonar de novo: quero ser feliz um pouquinho, me divertir, aproveitar que saí da prisão de segurança máxima e viver a diversidade das possibilidades que a vida me der.
Devo sofrer muito no Dia dos Namorados: não vou ter ninguém para quem escolher um presente, minha noite não será especial, não vou escolher a lingerie comemorativa da noite, não vou encomendar cesta de café da manhã, não vou mandar torpedos, nem mensagem, nem bolar presentes criativos.
Também não ganharei flores mas, por outro lado, não sofrerei as decepções decorrentes da negligência do sujeito que poderia nem se importar com a data, dizendo que essa invenção capitalista do Dia dos namorados não tem nada a ver e é um dia como qualquer outro. Além disso, eu poderia estar com um idiota que me desse um presente esquisitão e que eu teria que fazer "carinha de quem tá gostando demais". Pensem só: se o cara desconhece que eu adoro rock e MPB, que eu dou os ossos da alma pelo Parachutes do Cold Play e por tudo que é coisa do Radiohead (e da Song 2 do Blur) e me aparece cantarolando uma música sertaneja. Haja Deus!
Deveria haver seguro pós-relacionamento, para garantir o usufruto da corporeidade, do contato físico...sem essa parte a gente fica vulnerável, em desespero de causa. Muitas vezes tendemos a confundir a ausência do legume com a saudade da horta (viram como eu fui sutil e delicada? eu poderia ter dito "confundir a falta do pepino com a saudade da horta" ou até "confundir a falta da linguiça com a saudade do porco", mas como sou uma moça educada, gentil, bobinha e inocente, nem sequer pensei nestas coisas). Para quem bebe, pior ainda, porque terá que acordar e voltar para casa, aturando ressacas morais pelo resto da semana.
Mas é ótimo ser especial para alguém. O amor dói, mas é gostoso (ah, seus tarados, sei que vocês pensaram em muitas coisas que doem, mas são gostosas!kkk!!!).
O chato, quando a gente pensa em tudo isso, é notar que o período após o relacionamento é de reestruturar a vida, recobrar a individualidade, pensar o cotidiano não mais em par...isto se o relacionamento foi durável ; ou se foi curto , mas intenso ...
Então, dá um cansaço e um medo de começar tudo de novo! Putz, vem aquela fase do jogo - ih, tem que dosar as coisas, tem que tomar cuidado para não virar instrumento da vaidade do outro, tem que tomar cuidado para não deixar o outro convencido, seguro demais, tem que ter saco para as criancices de ordem variada, tem que pisar devagar em terreno pantanoso para não afundar, tem o jogo do orgulho, tem que esconder os afetos, tem que aturar tanta coisa e entrar no jogo...negócio mais cansativo!
Jogo bom é o da sedução: a neurose da espera, a troca de sinais para termos certeza de que somos correspondidos, os sonhos, os códigos, a sutileza para chegar em quem desejamos e vice-versa...mas o resto, cansa!
Por outro lado, reafirmo: não há solidão pior do que estar em companhia de uma pessoa sacana. E, claro, há pessoas que até sozinhas estão em má companhia.

Um comentário:

  1. Incrível, Mara, quando li esse seu texto imaginei-o no blogue! É o lugar dele, de verdade, em decorrência de ser um texto bem-humorado, espirituoso e inteligente.

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