Louquética

Incontinência verbal

domingo, 20 de dezembro de 2009

Crocodilo: o mito e o homem


Algumas comparações entre seres humanos e bichos são muito ofensivas...para os bichos, claro!
Estou pensando agora num amigo crocodilo.
Poxa, que coisa!chorar as lágrimas do prazer de saborear a presa (assim o faz o crocodilo) é uma metáfora excelente no intercâmbio dos significados entre a Natureza e o ser humano. A traição e a dissimulação são termos que acompanham o que queremos dizer ao chamar alguém de crocodilo.
Não trabalho no zoológico, mas no meu trabalho tem um crocodilo.
Crocodilo do sexo masculino, pessoa aparentemente ética, que dispõe da confiança de todos nós, homens e mulheres. Profissional competente, se bem que confuso...
Falemos, pois, sobre o crocodilo.
Em primeiro lugar, eu gosto dele. Daí porque a decepção em ter descoberto a imensurável traição. Não foi uma traição só feita contra mim, mas às duas amigas que lá estavam.
Falávamos, há uns dias, acerca das injustiças sob certos processos. Criticávamos o fato de que para os serviços que requerem Responsabilidade e não têm retorno financeiro, sempre são dadas pessoas a serem indicadas. Em contrapartida, os serviços que geram ganhos vão para certos privilegiados e, novamente, víamos que a vida prática realmente divide os sujeitos entre PREFERIDOS e PRETERIDOS.
O crocodilo acompanhou a narrativa, se mostrou favorável aos argumentos e aos pontos levantados, disse desconhecer dada seleção interna para um serviço com remuneração que, claro, contemplou os preferidos.
Confiamos nele.
Confiamos nele e vimos que nossas angústias eram bem parecidas.
Que crocodilo solidário e compreensivo!
Faço uma pausa mental agora, pensando em quanto expus de minha vida a ele, por confiar, por ter nesta pessoa uma referência de ética e idoneidade moral...conselheiro espiritual, também, pois que eu achava que ele tinha muito o que me ensinar...ah, ninguém imagina o tamanho da decepção!
A traição, quando vem do inimigo ou do desafeto, é inócua, não causa surpresa: já esperamos. E se vem, melhor ainda: reforça e justifica nossos ódios.
Mas a traição do amigo mostra que ele nunca foi amigo.
Amigo imaginário.
Quando a máscara caiu e aquele de quem ele era informante entregou tudo - por desconhecer o jogo duplo ou pela recíproca não ser verdadeira, isto é, o crocodilo puxa o saco esperando um retorno que aparentemente ele não terá - vimos que ele, o tempo inteiro, participava do esquema, ele fora convidado a integrar o grupo dos preferidos...ali, na frente de todas nós que sabíamos além do que os demais sabiam... bem, a máscara dele caiu, mas foi a minha cara que quebrou.
Vou lamentar isso por muito tempo.
A decepção causa uma dor imensa que é, ao mesmo tempo, perplexidade!
Três vezes perplexa, posso afirmar, porque faço minhas as decepções das amigas em questão.
A prudência faz a gente calar a boca e não ser irresponsável em nossos comentários, mas penso numa quarta pessoa. Ah, meu Deus, coitada! ela também confia nele...e uma pessoa dessas, não é amiga de ninguém!se um dia ela descobre o crocodilo, será mais uma a lastimar as inconsistências dessa amizade da Família Feliz.
Às vezes sou eu que penso na minha intolerância às confraternizações e nas inimizades que vão se somando ano a ano, período a período. Vejo, contudo, não apenas a minha parcela de culpa, mas essa busca idiota pela autenticidade dos sentimentos.
Não vejo sentido em compartilhar momentos, abraços e presentes com quem não gosta de mim ou com quem eu não gosto...aí fico perplexa com a Família feliz - olha, sou neurótica o suficiente para achar que toda felicidade é suspeita. KKK!!!
Esse negócio de relações perfeitas, gente perfeita, coisas perfeitas...ai, ai!
Poxa, eu gostava dele. Na verdade, eu gosto dele, mas não será mais meu amigo. Nunca mais. Ele não vai saber disso nunca, até porque, para um bom traidor meia amizade basta e eu julgo que ele nem faça questão de ser benquisto por mim...
Eu posso até ter uma boca grande, mas o crocodilo...

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