Louquética

Incontinência verbal

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

O retrato de Dorian Gray : molduras modernas


Não tenho como fugir de minha sedução pela obra mais conhecida de Oscar Wild, O retrato de Dorian Gray. Digo isso sem levar em conta o peso literário, mas o próprio fascínio quase que personificado que o livro exerce sobre mim...sobretudo certos aprendizados, seja perscrutando o cinismo e a hipocrisia presentes na narrativa sob a voz do lord Basil Hallward, seja na apropriação plural que podemos fazer de certas passagens do livro:
"Todo impulso que nos empenhamos em sufocar incuba no nosso espírito e nos envenena. Peque o corpo uma vez, e estará livre do pecado, porque a ação tem um dom purificador. Nada restará então, salvo a lembrança de um prazer; ou a volúpia de um arrependimento. A única maneira de se livrar de uma tentação é ceder-lhe. Resistamo-lhe, e a nossa alma adoecerá de desejo do que proibimos a nós mesmos, do que as suas leis monstruosas tornaram monstruoso e ilegítimo."
Mas, como não amar esta passagem? como não ter aquele encanto da identificação? como não dar razão à afirmação tão apropriada dessa voz narrativa?
Eu gostaria muito que os meus amigos gays lessem este livro; eu gostaria muito que as minhas amigas que pertencem a seitas religiosas extremistas lessem e entendessem; eu gostaria que muitas pessoas pudessem ler, ver e entender o tamanho significado contido em tão poucas linhas!No fundo, o convívio com os desejos não é nada fácil, se não conseguimos admitir a existência dele.
Como Dorian gray, também somos narcisos e ficamos perplexos ante à ferida da efemeridade existencial: no fundo, não passamos de seres passageiros e o que acontece é que a gente vai passando. O tempo passa, o tempo passa por nós e nós vamos passando o tempo e passando com o tempo...
Pensamos que o ano acaba - que nada! a cada ano nós acabamos.
Somos filhos de Chronos - reclamos de falta de tempo, como quem reclama de um Pai ausente. Não, o tempo está ali, te comendo. Lmebremo-nos de Machado de Assis: "matamos o tempo; ele nos enterra".
Dorian Gray digladia com o tempo. Todos nós que queremos ser eternamente jovens; todos aqueles que inventam um não-tempo traduzido em vida eterna sabe o temor que o tempo gera. Contudo, respeitando o devir - que é também um passar de tempo - sonho com tempos diferentes!

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