Louquética

Incontinência verbal

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

O lado B


Ele não gosta de psicanálise. Atribui à ciência de Freud ( e Lacan) os repentinos surtos de decisão de suas ex-namoradas em largá-lo. Todas: entram na Psicanálise, saem da vida dele.
Acusou as analistas (sim parece que as análises eram ' de mulher para mulher') de incentivarem o término e não se preocuparem com a situação do homem. Ele contou que a ex mais recente o tratou como se ele não tivesse sentimentos e que, com certeza, isso era coisa da psicanálise, que faz as mulheres acharem que homens não sentem nada, não têm sentimentos.
Num certo sentido, há razão: ficamos mais esclarecidos no tocante ao conhecimento das armadilhas de nosso inconsciente, reagimos, jogamos fora o que não nos apetece e  outras coisas (e pessoas) que vamos mantendo por perto por mero medo de deixar para trás e vir o arrependimento.
De perto ele não é assim tão sagaz, tão maravilhoso, tão impávido e tão infalível: é só um homem com medo das mulheres que podem crescer à sua vista; é um homem em suas falhas. No mais, não tem fair play, não sabe lidar com contrariedades e talvez ache que o mundo existe somente para agradá-lo.
Temos o mesmo signo e quilômetros de distância em questões mais graves, mais profundas... E no que temos de igual, isso me afasta porque não sou do tipo que quer namorar o próprio espelho.
Falando na Psicanálise, acho que minha analista tinha razão: os homens desistem logo das mulheres de 'difícil manutenção'. Uma vez conquistada a mulher, se o tipo psicológico de mulher de que falamos for independente em sentido amplo, ela precisa receber elementos que reforcem a conquista. Isto é a manutenção: conquistar e manter. Diz a analista que isso dá trabalho e desencoraja os homens. Mesmo as aparentemente frágeis, dão trabalho.
Vi como ele desmoronou quando lhe dei um 'não' para algo que eu não queria. Foi o mesmo 'não' que dei ao Ex-Grande Amor da Minha Vida, isto é, não foi um caso pessoal. Diria o mesmo não a qualquer homem, na mesma situação. E meu 'não' é realmente um não.
De lá para cá, ele mudou. Creio que de fato se irritou comigo, me achou chata,enfim... E não teve mesmo fair play.
Ficou ainda mais irritado quando soube que eu tinha um blog e quando eu me recusei a lhe dar pistas deste endereço: disse-lhe que era minha privacidade, minha escolha. E ele achou que se os conteúdos daqui estão abertos a qualquer visitante, por que não estariam a ele, se mesmo o acaso poderia jogá-lo aqui nesta página?
E eu, também nisso, disse-lhe que não. Disse que havia coisas que eu ficcionalizava, que mesclava fatos reais a coisas fictícias, que me furtaria a ser sincera se as pessoas da minha vida real passassem a frequentar esta página e que isso seria inibidor das minhas histórias.
Endossando a irritação, ele pirou quando presumiu que o blog era confessional... Ora, é e não é. E foi por causa dele e outros pequenos elementos que tive que retirar o nome verdadeiro de um par de pessoas a que já me referi. Tive medo que a partir disso ele me achasse na web.
Mas, como eu poderia ser livre para falar mal e sinceramente das pessoas, sabendo que todas vêm aqui ler? tem gente que se deduz como personagem de meus textos. Umas acertam, outras, não. Porém, sempre posso negar. De resto, são apenas as minhas versões dos fatos, é o que acho, o que penso, o que desejo... E deixo muita coisa de fora...
Em outras situações, quero só falar de Literatura, de elementos cotidianos... E nunca escolhi assuntos específicos, únicos e definitivos.
Só agora vi que desde 2009 escrevo aqui. Não costumo contar o tempo. Conto, porém, as dificuldades em escrever em tempos de ocupação ou de guerra com a tecnologia, quando meu computador me falta. Mas eis que o tempo passou.
Os segredos realmente secretos, cabeludos, sem nada politicamente correto, eu escrevo em meu diário físico, nos vários que tenho e que vez por outra um namorado pega para fuçar minha intimidade. Mas são universos diferentes.
Aqui também há segredo; e o segredo maior é a correlação entre a personagem e o sujeito da vida real.
Na vida real, não quero ninguém me enchendo o saco por minhas preferências, escolhas, experiências, por minha opinião...Na vida real, sempre se pode mentir mais para garantir a paz nas relações sociais. Ele deveria saber: "Você diz a verdade/ e a verdade é seu dom de iludir./Como pode querer que a mulher/vá viver sem mentir?"

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