Louquética

Incontinência verbal

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Parábola dos equívocos




O que há com esses homens? Não bastasse a constante, infinita e eterna legião de cafajestes, dos tantos que um dia tentaram iludir às mulheres com promessas falidas, agora está na moda a canalhice explícita em que apenas se solicita às mulheres que não criem expectativas, que dali não passará, que não sonhem com a página dois...
Se é ruim iludir alguém, pior ainda é incentivar este alguém a procurar logo vacinas preventivas contra sentimentos mais sérios, mais reais, mais consistentes e sentenciar nas entrelinhas que tal pessoa não tenha ilusões, não sonhe, não espere, não planeja, o que é o ápice da castração. Eu que não quero viver sem sonhar, pois penso como já citei certa vez tal o poeta, que “Y los sueños, sueño son!”.
Não é assim que se faz um adulto, nem uma relação entre adultos, nem um acordo entre adultos. Nem sei onde fica o botão onde se desliga ou liga a ilusão e a expectativa. E como não sou de lata, acho que nem há como se prevenir. A menos, claro, que a gente evite as pessoas, os contatos e as situações. Porém, se assim fosse não haveria amor platônico e Amelinha nem poderia cantar que Deus “...Fez até o anonimato dos afetos escondidos”, pois quantas vezes amamos em segredo?! (da mesma música ainda me toca o verso seguinte: “E a saudade dos amores que já foram destruídos”). E assim é: a gente ama, desama, se quebra e se refaz.
Talvez houvesse, sim, um traço de orgulho e ego porque amor sempre pode acontecer das duas partes. Que quererá um homem com tais advertências? Eles, os homens, têm como determinar o grau de envolvimento com alguém? E como evitar paixões?
No decorrer da vida, em especial nos meus últimos relacionamentos, cheguei a ouvir coisas semelhantes, com pequenas variações. Simplesmente aciono meus rancores, dispara dentro de mim algo do tipo: “Quem ele pensa que é, para presumir que vou me apaixonar e sofrer por ele? E por que somente eu estaria suscetível, e não ele?” e disso tiro uma ferida narcísica que me faz largar o sujeito menos pela advertência que pela incapacidade implícita de me fazer sonhar. É como andar num caminho cheio de placas de advertências: não previnem, não salvam ninguém do perigo, apenas despertam a atenção, talvez o medo, talvez a desistência do caminho ou a sensação de que o trajeto não vale a pena, pois há outros, bem menos complicados.
Quando fiquei com um Babacantropus erectus de Neanderthal, em novembro do ano passado, sei que agi como quem escolhe carne no açougue. Pior que isso: aderi ao preceito de que para comer o hambúrguer não é preciso conhecer a vaca de que ele foi feito. Mas era um acordo tácito: gostei da carne dele, ele gostou da minha. Encerrada a degustação, cartas claras na mesa e respeito ao seu despedir, sem promessas futuras, sem ligações, porque o fortuito é desta forma mesmo: fortuito.
Esquisito, porém, é ir vivendo intensamente as coisas e dali a pouco decidir que há pessoas para amar e outras para compartilhar rápidas sensações de bem-estar. Neste ínterim, meu primo enfiou o pé na jaca com a minha amiga, no jantar que sacrificadamente articulei para eles. Eu, de pivô. Eles, desejantes... Em poucas palavras, lapsos, descuidos, foi tudo por água abaixo.
No caminho ele deixou claro para mim quais eram as intenções com ela. Ele, que se apaixonou pelo nome dela, sem sequer ter visto a cara. Ao ver, junto a ilusão, a projeção e o desejo...E pouco tempo depois, sepultou qualquer possibilidade de avanço no contato. O que será que há com os homens, hein?

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