Louquética

Incontinência verbal

terça-feira, 22 de julho de 2014

Desejo: necessidade e vontade!


Não perco meu bom humor com facilidade. De fato, gosto de irritar a existência, sendo feliz com coisas simples e tirando muito do pouco, como bem cabe aos teimosos. Para uma pessoa como eu,cuja paciência é item que não veio de fábrica, mas um adicional, esta atitude de esperar antes de responder, de segurar um pouco o impulso homicida quando me fazem uma grosseria e de dar uma segunda chance a fim de entender a outra parte, é mais que um ganho: é o supra-sumo da paciência possível. Mais que isso eu não consigo.
 Mas tenho cá minhas teorias pessoais. Penso mesmo que quem quer a gente, fica com a gente.
Se mora longe, junta tostões, trabalha mais para obter folga depois, planeja, sonha e espera e, quando a chance se mostra no caminho, a pessoa aproveita a oportunidade. Isso, talvez, tenha  se configurado assim porque foi com as sessões de psicanálise que aprendi que os desejos podem ser levados a sério, na mesma proporção em que desejamos. Assim, envidamos esforços na realização deles. Logo, se eu desejo uma pessoa, vou querer realizar meu desejo de estar com ela. A dose, porém, a gente estabelece. Eu, hoje em dia, não jogaria fora a oportunidade de desejar e ter.
Por isso perdi a paciência.
Por isso perdi o interesse: eu estava ali. Ele estava também. As propostas dele foram feitas, eu aceitei...E ele nunca fez por onde as coisas se realizarem.
Dei um tempo. Desta vez, fiz a proposta. A resposta sempre priorizou o obstáculo, o impedimento, a dificuldade...E por isso julguei que era pretexto demais para não realizar as coisas e os desejos. Aí, não tenho paciência e, pronto: descarto o candidato.
Já o outro, o do Coração Tosco, acha que qualquer idiotice (às vezes palavras duríssimas) que escrevo, são coisas profundas...Às vezes ele acha minhas grosserias poéticas - ah, perdão pela quebra do bom tom da conversa, mas meu coração fica dizendo palavrões, do tipo: "Puta que o pariu!"...
Penso que o de Coração Tosco, na verdade, tem medo de se envolver. E como ele perdeu a oportunidade de se fazer amar por mim, meu desencanto me diz que eu nunca o amaria - não por escolha, mas porque se tivesse que ocorrer, já teria ocorrido; porque não fiz projeções nem instalei sonhos com ele. Dali não passa.
Mas isso de ele achar minhas grosserias poéticas, porque são duras verdades escritas com palavras bem escolhidas, apesar de espontâneas, revela que as companhias femininas dele têm outro perfil intelectual - isso não é bom nem mal, é diferente. Torno-me diferente pelo repertório de palavras...
Nesses últimos dias a vida mudou, sem mudar nada: eu que mudei  e piquei a mula pela BR 116 Norte, a fim de ir numa universidade pública do interior ministrar um curso cuja remuneração deve sair só daqui a seis meses. Peguei a estrada sob chuva, numa pista única de sentido duplo. Que aventura!
Na volta, ainda tive que me virar com um carona bêbado, amigo meu, que desligava o meu limpador de pára-brisas, a fim de que eu batesse o carro, capotasse ou me acidentasse, já que sem enxergar a estrada este seria o destino mais óbvio...
Penso nisso: se a pessoa quer morrer, por que quer companhia? Ele não podia morrer numa boa, sozinho, em paz, como um suicida digno? parece que não: queria me levar junto. E eu não estava muito a fim de morrer na sexta-feira  - dia, aliás, em que meu primeiro comandante nos meus tempos de militar, morreu. Cheguei a Feira e recebi o telefonema de que fazia minutos que ele tinha morrido. Eu gostava dele, mas não fui ao enterro. Não vi necessidade.
Sei que sexta e sábado dirigi pela BR 116 Norte e sobrevivi. Dirigir cansa porque sou tensa e responsável.
Mas há um tempo eu não dirigiria. Constato que o que aplico, em minha teoria pessoal, ao desejo; aplico à necessidade. Desta forma, se a gente tem a necessidade, procura um meio de satisfazê-la, usa a necessidade como estímulo, vai segue e realiza o que há a ser feito.
Como cantaram os Titãs: "Desejo é necessidade e vontade!"

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