Louquética

Incontinência verbal

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Conto de desencantos


Quando a gente se interessa por alguém não somente torce para ser correspondido como também tendem a ficar revoltado, enraivecido, inconsolável e inconformado quando somos rechaçados. Reconheçamos: o outro também tem escolha e nós podemos não ser a melhor opção do momento.
Hoje dei um fora meio 'fora' dos meus planos. Eu não queria ficar com ele. Ficamos há quase dois meses, num contexto de viagens, de desejo, de reciprocidade...
Ele veio à minha cidade, ficar na casa de amigos em comum. No começo da notícia, quando eu soube que ele viria, limpei a casa, comprei papel de parede novo, lençóis novos, arrumei tudo... E então, quando ele chegou, fui me afastando emocionalmente, nas poucas ocasiões sociais que nos uniu em termos geográficos.
Poxa, que sujeito bom, mas desinteressante. Que falta de glamour, que desaplauso, que chateação ambulante, que paranoias insuportáveis, que falta de investimento no bem-estar de nós dois.
As coincidências foram se encarregando de me proteger dele. Aos poucos, a certeza de que nunca passaria daquela vez anterior.
Hoje eu disse não. Disse com o poder da escolha, com a opção, com a convicção e jamais faria sexo compensatório pela viagem e distância, jamais agrediria minha vontade real.
O microscópio de exame do homem, após a perda do encanto, é cruel: vi um homem alto, desengonçado, sem tato na relação, sem atração, sem sensualidade, sem o menor sex appeal, tão desejável quanto um pedaço de isopor.
O contexto anterior o favoreceu. O atual, não.
Ele não veio aqui por minha causa, ele aglutinou motivos (acadêmicos, comerciais, etc). Eu não tenho que ser anfitriã em tudo: não quis que ele viesse à minha casa, não beijei, dei um abraço único na recepção a ele... E ali acabou. Não digo isso com orgulho: nunca precisei sambar no ego dos outros para me envaidecer. Odeio jogos bestas, mas era aquilo.
Também odiei vê-lo falar mal da pessoa que realmente me interessou, que é lindo, inteligente, bem sucedido na vida intelectual, formado em três cursos. Poxa, eles são amigos. Eu disse: "Ótimo, hein? é seu amigo íntimo e você está aqui falando isso dele. Caramba!!!"
Nesse momento foi sepultado o último fio de empatia entre nós.
Não quero. Não quero nem lembrar.

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