Louquética

Incontinência verbal

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

O poder do estereótipo


Vou viver eternamente inconformada, protestando contra os estereótipos. Os sexuais, então, estão no topo do que eu detesto. Vamos a eles: que convicção é esta de que toda e qualquer mulher gosta de ser chamada de vagabunda, levar tapas no traseiro e ter o cabelo puxado na hora do sexo? E diga-se, ainda, sexo com muito palavrão!
A massificação da cultura, inclusive a cultura comercial sexual, faz com que as pessoas copiem comportamentos. Em sociedades reprimidas, os palavrões equivalem a gestos de liberdade, de privacidade, de extenuação do que se quer falar. Acompanhado dos tapas na bunda mulher e todo o ritual previsível e obrigatório, dá ao homem a certeza de que ali não há amor, é só instinto, liberdade... A depender do homem, associará à ideia de sexo selvagem, que seria, em termos práticos, a aceleração aeróbica do sexo, sempre quantitativo e bruto - que os animais selvagens não se ofendam com tal sandice. Coitado! Pensa que é isso que ele quer e que ela merece!
Quando o André Sant'Anna descreve, em um dos seus contos, o sexo do Executivo de Óculo Ray-Ban, é exatamente isso: a mecanicidade do sexo, repetitivo, previsível, chato, comandado por modelos externos.
A ars erotica de Foucault não tem espaço nesse negócio. Ser carinhoso é ser babaca, ser discreto é ser frio, ser natural é ser fraco. E como há a necessidade de xingar a mulher de puta, talvez implicitamente haja o consenso de que só se pode gozar livremente com uma, ou com quem assuma esse papel. Nós, mulheres, aprendemos que devemos ser damas na sociedade e putas entre quatro paredes. Com isso, também temos medo da naturalidade, das escolhas e das preferências...Não pode! temos que ser liberais. Ser liberal é obedecer ao que é designado pelo comportamento coletivo. Na imposição geral, pelo menos vamos às sex shop, comprar coisinhas para apimentar as relações sem gosto, para vencer a concorrência com as outras, nesse mundo de tão poucos heterossexuais disponíveis.
Casamento em crise? a mulher vai aprender dança do ventre, comprar fantasias, aprender coisas novas visando a prender o homem, escorregadio para outros leitos...Que pena! Tanto esforço e pouco gozo. Quem nunca passou por isso ou disso foi testemunha?
Outro estereótipo é tocante à convicção de que a mulher que gosta de dormir abraçadinha ao par, após o sexo.
Depende do sexo.
Ainda assim, é uma questão de educação o homem tomar a iniciativa de ir embora sem, entretanto, ser grosso ou parecer que o interesse era somente o sexo. Assim, se acabou o sexo, acabou a visita. Verdade seja dita, sexo bom tende a causar sonolência... Consequentemente, virá a preguiça de se vestir, se arrumar, pegar o carro, o caminho...
Queria que meus pares soubessem a hora de ir embora.
Moro sozinha, Gosto de morar sozinha. Gosto de companhia, mas não gosto de quem me sufoca ou delonga a presença pelo meu lar.
E minha privacidade? E meu bem-estar? Se não há indicativos ou pedidos para que o homem fique (ou a mulher, também, lógico), vale o bom senso e obviamente, a partida.
Por mim, cada um que se lasque em palavrões, em estereótipos, no que quer que seja, desde que saiba que cada ser humano é um, tem suas propensões, não corresponde ao que se fala em falso consenso.
Quem é esperto tem que ter feeling para perceber a configuração individual das mulheres. Imagine se o contexto não ajudar e o cara propuser algo em más palavras? Pode até ser contornável, mas duvido que seja perdoado de fato. O limite entre o sexo livre e a repetição mecânica e insípida de modelos impostos pela indústria do sexo é pequeno. Livre é quem tem escolha e assume preferências.

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