Louquética

Incontinência verbal

domingo, 23 de agosto de 2015

Contatos descartáveis


Se o desespero é um péssimo conselheiro, a carência é bem mais. Foi pensando nisso que questionei como fui capaz de ficar de rolo com um cara apenas para aplacar as agonias da carne e, hoje em dia, chego a esquecer a cortesia que eu deveria ter, para com ele, por questões de respeito!
A gente costuma dizer que precisa esquecer alguém. No entanto, há pessoas que, para a gente esquecer, não é necessário o menor esforço; aliás, a gente só percebe que esqueceu além da conta, nesses momentos em que examina a consciência.
Pois é. Coitado! Não porque um serial fucker como ele vá dar bola a uma mulher a menos no cardápio, mas porque eu sei que comigo era diferente. Um dia ele me disse: "O que uma mulher como você poderia querer com um cara como eu?". E eu tenho vergonha de confirmar estereótipos, mas, vá lá, ia querer me divertir.
Ao passo que a gente presume uma espontaneidade para o amor, não sei de onde vem essa convicção, certeza e verdade interior que nos capacita a dizer: "Esse eu nunca iria amar!". E, como foi entre mim e ele, assim se deu.
O máximo que eu já pensei nele, foi durante a ansiedade que antecede ao primeiro encontro; Depois eu pensei com medo dele ter gravado nossas intimidades sem que eu percebesse; Depois, pensei que alguém poderia saber... E continuo livre, solteira, independente. Logo, se quero o segredo da pegação é porque ele não é um artigo de orgulho, nem quero minha privacidade nas mesas e conversas alheias.
Um dia ele me perguntou sobre um poema horroroso e óbvio que ele escreveu. Enrolei, dei voltas, me disse inapta para julgar...fiz o possível para não ter a sincera indelicadeza de lhe dizer que aquela porcaria nunca chegaria a ser poema...E disse alguma coisa que o consolou. Ah, o suposto poema se chamava 'Poeminha".
Ele continua se achando sábio e aspirante a escritor.
Largou mais uma vez o terceiro curso universitário que começou. Ao menos admitiu: "Não gosto desse negócio de estudar".
Em compensação, sabe tudo sobe "Velozes e furiosos", odeia Gregório de Matos, que segundo ele diz muita pornografia; ama musculação e se um dia a massa cerebral dele se equiparasse à muscular, eu diria 'aleluia". Eis mais um estereótipo: " Bombado e fútil", tipo Johnny Bravo.
Ele não seria uma homem fino nem se tivesse um bilhão de dólares, mas tem certo convencimento sexual que às vezes o trai...Ele questiona tamanho, diâmetro...apesar de 'se achar'. Mas, no meu desespero, serviu muito bem, apesar de silenciosamente eu confirmar todas as desconfianças dele...Na carência, foi bom instrumento de vingança...Aplacou a fome, consolou...E tenho que admitir que talvez tenha sido isso: foi instrumento. Pelo menos, não perdeu nada comigo.
Eu só queria ter sido cortês...Agora ele já deve ter descoberto que se nessa história tem um cafajeste, eu não sou diferente dele...Que pena! Eu queria ter disfarçado! Acho que respeito e gratidão são coisas imprescindíveis que devem ser deferidas a quem já nos deu sexo.
Aí, ontem, ouvindo a banda tocar a música Garoto de Aluguel, do Zé Ramalho, só pensei nele, apesar de ele não ser profissional da área sexual, nem garoto de programa. Vai o trecho:

Baby!
Nossa relação
Acaba-se assim
Como um caramelo
Que chega-se ao fim
Na boca vermelha
De uma dama louca
Pague meu dinheiro
E vista sua roupa

Deixe a porta aberta
Quando for saindo
Você vai chorando
E eu fico sorrindo
Conte pras amigas
Que tudo foi mal (tudo foi mal!)
Nada me preocupa de um marginal...

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