Louquética

Incontinência verbal

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Os pecados da opinião


Costumo esconder minha forma particular de pensar as coisas, às vezes por medo de explicá-la mal, às vezes para evitar o desgaste das discussões intermináveis. Mas eis que me tornei espírita, feliz pela escolha.
Lugar comum é isso de dizer que as pessoas só vão para as religiões, em geral, e para o Espiritismo, em especial, movidas pela dor. Meu amigo íntimo até suscitou isso comigo. Eu, contudo, disse o que aqui volto a afirmar: não. Eu nunca iria a para qualquer religião mediante desespero. Foi por isso que flutuei. Tem que ser uma escolha, não uma tábua de salvação porque a vida vai mal.
O que seríamos nós? cópia das atrizes, atores, celebridades e afins, que detonam a vida nas drogas, no sexo, na promiscuidade moral e para fazer a reabilitação social, afirmam ter se convertido a uma religião ortodoxa para, em seguida, galgar uma carreira como apresentadora infantil, cantora gospel, comentarista esportivo, ou deputado e deputada?
No meu caso, minha vida já esteve péssima e o lugar da fé era um; o da religião, outro. Por isso fiquei sem templo e sem vínculo exclusivo.
Mas no tocante ao fato de me tornar espírita e me esquivar de uma opinião - esta opinião pode mudar conforme eu siga estudando, obtendo outros dados e outros acessos a ângulos então ignorados -  minha turma de estudos kardecistas estava discutindo a origem do mal. Para 90% deles, o mal foi criação do homem, escolha dele.
Dos outros que manifestaram a opinião contrária, certo é que não tinha argumentos. Era aquele velho "não, porque não!".
Eu fui omissa.
A discussão pegando fogo...quem iria se lembrar de mim?
Mas na minha opinião, sim, Deus criou o Mal, tal como a figura arquetípica do fruto proibido no Paraíso. Criou o mal para que tivéssemos escolha entre ele e o seu oposto. E também porque o mal pode ser dosificado. Deste modo, o egoísmo pertence ao quadro do Mal; entretanto, se você não se servir dele na dose necessária, ficará sem amor próprio e sem senso de preservação. Veja: há quem julgue que a auto-estima consiste em se aceitar tal como se é. Mas se aceitar como se é não significa não procurar melhorar. Assim, se sou gordo, aceito que há beleza em mim e que eu não vou acatar maus comentários nem me inferiorizar por fugir a um padrão estético. Se, porém, eu cuido de mim e da minha saúde, se sou desleixado em vários aspectos, isso não significa ter auto-estima alguma. Aí, o cuidar de si, colocando o eu (ego) em primeiro plano, vai oscilar do mal para o bem conforme a dose e a aplicação;
Outros elementos creditados ao Mal, cuja lista escaparia às possibilidades de discutir adequadamente numa página de blog, poderiam se arrolados agora. Mas,  em suma, é isso: talvez o Mal, para ser considerado enquanto Mal, advenha do uso e da proporção com que é empregado pela humanidade. Talvez a função última não tenha sido causar danos, mas aí, sim, entrariam a intervenção humana degradante, que apaga os limites entre coragem e violência; entre egoísmo e autopreservação; entre independência e individualismo maléfico; entre alheamento e privacidade, dentre ouros pares possíveis.
Mas isso é como que uma tese particular e insipiente, que não se pretende eterna e por sua falibilidade, ficou guardada e quieta no cantinho das opiniões veladas...

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