Louquética

Incontinência verbal

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Para terminar


Não sei por que é difícil terminar, declaradamente com alguém, se previamente sabemos que arrastar o corpo do morto só tornará desfigurado o que, por si só, já não existe. O fato é que eu gostaria de sair devagarinho; eu não gostaria de dar o golpe de misericórdia, mas o discreto beijo frio da morte e fazer com que ele percebesse que ali jaz o que outrora houve.
Até meu ficante, diante de minha distância, meu silêncio e minhas maneiras vagas de declinar de oportunidades de encontros, não se tocou que acabou o caso...E como sequer era namoro,  a ausência de empolgação e disposição em vê-lo, também eram coisas sintomáticas, eram palavras mudas e sérias.
Acho que esse negócio de terminar é similar àqueles lances da amizade que a gente não assume, quando tem problemas, por temer perder o amigo, despertar raiva, criar contendas...Mas as coisas ali estão, em estado latente. Isso, por sua vez, reporta a que também que termina, quem dá a palavra do término, sofre. Sofre porque não gostaria de fazer sofrer; sofre porque se põe no lugar do outro; sofre porque percebe que o amor acabou, ou o interesse, ou qualquer razão que sustente o relacionamento, mas aquela pessoa irá fazer falta; sofre por tudo de bom que até ali sustentou a relação e por tudo o que se foi. Mesmo quando o outro é, para nós, um fardo...Sempre tememos ser maus, exercer vilania, parecer louco ou monstruoso...É um luto. Eu, contudo, luto para que tudo acabe bem, mas acabe - sem gritos, sem apelações, sem muitas perguntas...Contanto que acabe com poucas palavras e muita compreensão, sem que o outro se sinta rejeitado...O interesse acabou. Acabou. Acabou-se!

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