Louquética

Incontinência verbal

domingo, 11 de outubro de 2015

Terceira Pessoa



Nunca seremos donos do outro. Nunca! Vigiar um telefone, investigar atitudes e contatos suspeitos, velar pelas redes sociais, nada disso garante a fidelidade e não passam de exercícios ridículos para dar a ilusão de controle. Se não estamos a salvo do ciúme, a verdade é que a ameaça da traição sempre rondará, sempre estará à espreita, em olhares furtivos, em pensamentos, em desejos nunca suspeitados, nas viagens mentais do outro...Não adianta vigiar. Vigiar, na verdade, serve apenas como um alerta para que o outro seja cuidadoso.
A ilusão da união estável não traz a estabilidade que as pessoas querem, seja no matrimônio formal, seja nas declarações análogas...Talvez, sim, a burocracia de um divórcio, os desgastes da partilha dos bens, os dissabores administrativos de uma separação segure os mais cômodos no enlace. A verdade é que não há garantias.
Tenho assistido aos programas que mostram relacionamentos fora do convencional e, em alguns casos, está evidente que as pessoas se machucam, que não estão preparadas para suportar às claras aquilo que é, pois, desde sempre, um comportamento velado.
Mas em outros casos, tudo bem: os casais se amam, se gostam, se respeitam...E por uma questão de sinceridade levam seus pares para onde todos possam se divertir sexualmente, sem mentiras. Em muitos casos as pessoas querem apenas sexo com outra pessoa que não seja o seu parceiro habitual..Em outros, o sujeito comprometido busca viver romances, se envolver, ter paixões, viver as adrenalinas dos relacionamentos em começo...Por isso falam tanto em tédio, em cansaço...Nem sempre é o cansaço da pessoa com quem se está, mas o cansaço da repetição e da falta de aventuras.
Machado de Assis, em sua Literatura - tal como tantos outros, tal como Flaubert - expunha em traços a vulnerabilidade dos afetos, a traição...Ora em Missa do Galo, quando o marido e Conceição saía nas noites de terça, a pretexto de ir ao teatro, quando até mesmo 'as escravas riam à socapa' por saber que teatro era eufemismo para a pulada de cerca do personagem com uma viúva. Mas, é isso: bons casamentos e boas relações são, em muito, movidos a teatros.
Gente fiel, cuja fidelidade não advenha dos terrorismo religiosos e coisas afins, são quase inexistentes. A sinceridade funciona melhor que a fidelidade...
Mas o que se quer é isso: que sejam cuidadosos no trato com seus casos; que aprendam a ter segredos, que não deixem pistas.

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