Louquética

Incontinência verbal

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

A boca do poeta, parte III


Disse eu, em postagem anterior, que o ano já acabou. Sim, já acabou. Como novela que se finda, sempre os últimos capítulos podem incluir personagens novos ou embaralhar as probabilidades e mistérios do final. Assim foi comigo: "estava à toa na vida", tentando me distrair de uns fracassos causados por minhas más escolhas, e então Ele me apareceu.
Devo dizer que Ele me encontrou e que eu jamais O busquei nem dei por Sua existência, apesar de estar geograficamente perto de mim, mediada por um séquito de amigos em comum. Nunca O vi na vida e, Dele, jamais ouvi falar.
Ele se aproximou. Só achei estranha a atenção demasiada por mim, a curiosidade sobre meus passos e o fato de que Ele estava sempre invisível para os outros, no Facebook, mas sempre disponível para mim.
Ele é bonito, escreve maravilhosamente bem, tem poemas bons e outros, nem tanto. Porém, vai ao nível dos demais da geração dele.
Nos dias anteriores ao contato físico, eu pensava: se é bonito, inteligente e criativo, deve ter algum defeito bravo. Deve ser baixinho. Deve ser feio ao vivo. Deve ter alguma coisa ali de errado. E caso não tenha diretamente, posso esperar um distúrbio psíquico, um traço terrível de (mau) caráter...E se assim não for, eu que me prepare para disputar espaço com as tantas outras do harém do poeta, porque eles são assim. Eu já disse aqui que os poetas sempre me enganam e que eu nunca mais cairia nos enlaces líricos laudatórios de nenhum outro, pois já me bastavam os que eu já tinha ficado - que suponho que desconfiem, mas eu nunca contei nem ao meu amigo mais confiável. Destes, um em especial se tornou segredo ultrassecreto porque descobri que minha amiga era louca por ele. Deus me livre que ela saiba: iria causar uma mágoa desnecessária. Mas quando se é poeta e lindo, ainda que medíocre, não tem jeito: é fascínio puro.
Voltando ao meu caso de agora, ficamos conversando sobre poesias e ele me desafiou em algo. Eu disse que se a vitória fosse minha, ele me pagaria em chocolates; ele disse que para ele, pagamento em café.
Troquei as respostas em ato falho: PAGAR um café, no contexto, virou TE PEGAR num café. Ato falho freudianamente captado e ele enlouqueceu para a gene se ver, na noite da terça,
Protestei apenas quanto à indisposição, porque eu estava com uma cólica infeliz. Elegante, ele disse que me daria um Advil e carinhos, porque não queria adiar o prazer de minha companhia.
Eu fui. Fui armada de cinismo até os dentes, pensando que, na verdade, eu tenho uma pessoa no coração, mas que dali não passa. Fui por ser corrompida pela beleza Dele e pela sutil promessa dos prazeres do encontro. Fui tão dissimulada, que fui no carro dos outros e não no meu...
Mas eu não traria ele à minha casa. Não iria à casa dele. Tenho péssima impressão sobre a casa dos homens, abatedouros de reputação duvidosa, que sempre estragam o clima, por conterem o palimpsesto das damas passadas, de outros gozos, de outras mulheres, de outros encontros...E nada pior do que uma mulher se sentir mais uma na lista das tantas. Eu nunca faria isso com um homem.
Trazê-Lo à minha casa, seria incluí-lo em minha vida...E isso, não.
Ao vivo ele é tão lindo (ou mais) que na vida virtual. Se posso me queixar de algo, é tão somente do perfume que ele usa, porque sou sensível e entendida sobre perfumes. O dele tinha péssima qualidade - não péssimo cheiro - mas a péssima qualidade de um perfume masculino me faz ficar com a impressão olfativa das notas de saída e não com as de fundo...é como se a pessoa usasse álcool diluído em perfume. Um cheiro horroroso qualitativamente. Gosto tanto de perfumes que sonhei recentemente com o cheiro de Vezzo, da L'ácqua di Fiori, num homem atraente. Vezzo significa vício, é um cheiro forte, marcante, para quem pode. Nos demais, cabe cheirar a Armani, desde que não seja o Code, que é adocicado demais; ou adotar cheiros masculinos como os do Lapidus. Pronto! Se usar Malbec, Kaiak ou outros cheiros comerciais do dia-a-dia, está lascado comigo - cheiros comuns, vulgares, impessoais.
Conversamos na praça, muito, muito...Depois, claro, a boca do poeta: sempre encantadora. E como ele beija bem!
Dei um bocado de voltas, de carro com ele, depois, discutindo a cidade e a poesia; os lugares, a vida...E paramos no Ville gourmet, na área mais suspeita do estacionamento para conversas, análise e namoro.
Ótimo o poeta. Excelente abraço também. Desde sempre, ele cita meu nome; ele fala meu nome: homem experiente sabe que a mulher adora ouvir seu próprio nome, mantra agradável que nos personifica.
Ele tem abraço acolhedor e mente criativa.
Ele tem boca criativa e é cativante. Em todos os sentido, foi um prazer estar naquela companhia...
Fui levá-lo em casa, já de madrugada, invertendo os papeis: pois é, não ofereço minha vida a ninguém; não quero compromisso, nem rolo...episódios bons, sempre!

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