Louquética

Incontinência verbal

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Futuros fartos de dúvidas


Volto ao mesmo ponto que, para mim, é bem interessante: Minha amiga, me dizendo que o namoro dela à distância, não tem futuro. E está namorando há dois anos...O que pode ser futuro, então, se eles já têm dois anos de passado?
Tenho amigas - e amigos - que só sabem casar. Não sabem namorar e paquerar: conhecem hoje, casam amanhã. E se for preciso se separar, em dois meses tudo se resolve e se parte para outra.
O que será que faz com que as pessoas casem? Não pode ser amor, porque amor é bicho mais tranquilo, ponderado...é desvairado no começo, mas quem ama não faz essas coisas, apenas deseja estar perto do outro. Porém, um perto bem perto que não seja o perto todo dia, que leva à exaustão.
Contratos e causas administrativas é o que me parece mais crível: certamente que as pessoas se gostam, tenham simpatias e interesses recíprocos...Daí pensam em administrar uma vida em comum, com papeis definidos e supostas garantias contratuais. Eu queria muito que qualquer relação pudesse ser chamada de relação estável. Mas nenhuma tem garantias.
Tenho um caso particular próximo, de casamento feito para agradar a uma das partes; com o clássico filho na hora certa da crise; com contratos financeiros que prendem um ao outro, nos financiamentos a perder de vista e a ficar de olho no desenrolar disso tudo. Dois seres tristes ligados por um hífen, que é o filho de onze anos.
Também meu amigo suicida e depressivo casou: achou um par em quem se apoiar para carregar o fardo da existência. Fez duas descendentes, para ser âncora e prendê-lo à terra firme, sempre que bater a tentação de não querer existir.
Um terceiro amigo fez o mesmo: segurou a angústia depois da vida em comum.
Para mim, isso são constatações apenas. Por mais que soe doloroso, condoído...É que não testemunhei casamentos saudáveis. Tenho, na verdade, três exceções a esse respeito, mas são aqueles amores ímpares, movidos por impulsos, por acordos tácitos e uma certa calma interior de quem fez a escolha madura ainda na juventude. São, pois pessoas lindas, com capacidade plena de escolha: um escolheu ao outro.
Mas, o que será que incomoda tanto {a minha amiga, na perspectiva de futuro? Futuro é isso? escolher o outro e aturá-lo até que a morte os separe?
Isso parece muito com os amores eternos que temos aos 14 anos...Um eterno que dura três meses...
Por que tanta ânsia de futuro, quando o futuro já se faz, revelado no transcurso do passado?
Tem coisas boas em casar. Minhas amigas dizem: "Casar é bom, mas ser solteira é melhor".
Gosto e tive relações duráveis. Nem sempre vivi a vida louca de então. Casar, eu nunca quis. Porém, quis ter quem eu amo perto de mim. Cada um com a sua vida; cada vida próxima uma da outra...
Tatiana está solteira. Mal me arranjo com a ideia. Tatiana solteira, adjetivo improvável. Mas ela, após década com o mesmo ser humano, terminou e sentiu o luto. justo agora, no fim do doutorado. Na minha cabeça, ela nunca mais terá alguém. Porque não se abrirá para nada que possa ocorrer.
Se houvesse garantia de alguma coisa; se não fossemos ansiosos por fidelidades impossíveis, se não fossemos seres de carência...Bom, tudo seria diferente.
Também me espanto  com minha própria frieza: se der certo, ótimo. se não der certo, tchau...E não demora muito para o amor recente virar asco ou ser alvo de atitudes de orgulho, desprezo ou omissão. Mas eu não era assim. Ainda sou sensível, afetuosa e sentimental...Será isso o desapego?
O que me irrita é o desrespeito. Não dar certo, romper, terminar, ignorar, ok...Mas desrespeito, nunca! Não quero nunca ter esse ímpeto.
Também desacelero: não cogito o futuro. Não bateu ainda essa vontade de pensar para além dos dias presentes...O futuro se desenha e, por enquanto, não tem contornos nítidos.

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