Louquética

Incontinência verbal

quinta-feira, 9 de abril de 2009

O Evangelho, segundo Lucas

Nunca tive olhares extra-profissionais sobre os meus alunos... é interessante esta história sobre serpentes, maçãs, pecados e Paraíso: se o criador não fosse dar idéia, se não fosse lá dizer que não tocassem num determinado fruto, se não chamasse a atenção dos dois mortais sobre seus limites e suas trangressões, certamente o mito do Pecado original não teria razão de ser.
Estou sozinha há um bom tempo. Para minha sorte, passei no doutorado e isso me ajuda a sublimar o que não tenho, os outros desejos não contemplados. Fora isso, "tenho em mim todas as dores do mundo", como disse o poeta.
Eis que meu amigo Nery começou a sexualizar minha relação com meu aluno.
Verdade seja dita, sempre achei o rapaz bonitinho. Opinião estética que nunca me levou a suplantar a ética das relações profissionais.
Ok, Nery fez o papel de Deus e de suas advertências, isto é, chamou minha atenção para onde eu nada via.
Brinco com ele, sempre brinquei coloquialmente, porque não sou professora chata e formal. Antes de tudo isso, mui tranquilamente chamava-o de hamster - imagine, um ratinho branco. Será que isso não é metáfora do laboratório que faria com ele? será que não é metáfora deste lugar de cobaia?
Não consigo transubstanciar meus alunos em seres sexualizados
Dizem por aí que se a gente não transar com os amigos, vai transar com quem? com os inimigos? Bom, para mim não é bem assim: a única vez em que transgredi, me deu a maior ressaca moral, mas nenm era amigo e aluno. E ressaca moral não se cura com Engov, não dá para tomar um Eno e seguir a vida! Transar com amigo tem sabor de incesto, de coisa errada e de culpa...a menos que seja a amizade erótica criada por Millan Kundera em suA insustentável leveza do ser. Mas eu deveria ser menos careta, deveria ser menos complicada...mas não sou. Não ultrpasso a barreira da ética profissional. Poxa, se ele me propuser de novo ficar comigo é capaz de eu pedir duas fotos três por quatro, comprovante de residência, raio X do tórax, mil papéis, mil burocracias...ai, como eu sou complicada.
Ele não pensa em nada disso, limita-se a me dizer: "Você não gosta de aventuras?". Eu digo (Fragmentos de um diálogo quase amoroso, Barthes): "É, como motocross: a aventura é boa, mas a gente sempre se arrebenta". Covarde, hein? ou não será só covardia? acho quie, simplesmente, não é esse o meu terreno, haja vista haver tantos outros homens neste planeta. Com aluno, não dá. Fico perplexa por ter parado para pensar a respeito!

Um comentário:

  1. Sei que não se escolhe de quem se gosta, mas tem gente que tem um dedo "podhi", ou têndencia para o mais difícil, o mais complicado, ou impossível mesmo. Há quem diga que o mor é fácil, nós é que o complicamos. Mas, pergunto-me sempre.. será que há algo simples na vida? Se até mesmo o estar vivo pressupôs uma batalha, o permanecer, outras maiores ainda. O fato é que dificuldades podem virar grandes obstáculos a depender de nossas escolhas, de nossos gostos... Nós perdemos tempo com o exterior, com rótulos, gastamos outro tanto de tempo com discursos que parecem intelectualizados, mas, no fim, deixam-nos sozinhos, mas com a consciência tranquila... Será? Enfim, "eta vida besta meu Deus" (Drummond)


    (João Neto)

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