Louquética

Incontinência verbal

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

O amor que estava aqui...


Há um tempo me perdi de mim e só agora estou de volta. Agora, que eu digo é recentemente, não exatamente hoje nem ontem.
Não acredito que só se ame uma vez na vida, mas acredito que todos os amores são singulares e, no máximo, repetimos certos erros ou hábitos. Acho que o poema de Drummond (Consolo na praia)dizia algo equivalente, embora quem sou eu para me equiparar a ele!
Vamos, não chores...
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu
O primeiro amor passou
O segundo amor passou
O terceiro amor passou
Mas o coração continua.

Pois é, tenho essa paz e esse alívio por não amar ninguém, mas um dia, toda a minha vida se resumiu ao nome do homem a quem eu mais amei. Esse "mais" é tão superior a qualquer coisa que eu possa expressar!
Ele me deu tudo o que não tinha: a calma para os meus desesperos; o restabelecimento da confiança em mim mesma ; a plenitude da sexualidade. Eu tive fome e ele me deu comida, eu tive sede e ele me deu água, eu tive frio e ele me aqueceu.
Ele me deu lindas músicas para eu ouvir - e não era a beleza das músicas românticas, apenas, mas a beleza da alegria de outras composições; ele fez o dia mais lindo e do céu, a aquarela infantil da qual ele me pedia, por telefone, para identificar cores e localizar estrelas...sim, ele sempre manipulou a distância, esses 370 km que se impunham entre nós como um carrasco.
E pensar que ele me encontrou destruída, numa relação em ruínas, escorada em nossos hábitos comuns e na acomodação da mediocridade...ele me fez mudar tudo. "Você só me fez mudar/mas, depois, mudou de mim!"
Um dia, um dia mesmo, pouco tempo depois de tudo começar,acabou a relação. E o pior: não acabaram os meus sentimentos. Veio, então, o preço pela felicidade anterior. Ah, que juros altíssimos: passei quase três anos pagando o saldo. Até que quitei agora, recentemente, conforme eu disse.
E foi num dia recente que ele me disse, por telefone e por MSN: "Aquele homem que você conheceu, não existe mais".
Relutei, mas depois vi que estava morto o homem a quem eu amei. Não são só olhos desencantados de quem deixou de amar e que, pelo fato de o amor ser cego, recuperou sua capacidade de ver com clareza: ele morreu. O que ficou foi um cara com algumas paranóias religiosas e muitos desacertos profissionais, alguns escândalos depois dele experimentar seu momento Yuppie, de ocupar merecidos lugares de destaque na Fundação: pequenos escândalos, grandes tragédias - ainda bem que eu não estive relacionada a nada disso. Soube do caso justamente na noite em que eu abria o EREL, há dois anos...
Hoje ele me fala das consequências e diz que tem muito a agradecer a Deus por ter sobrevivido a tudo. Traduzindo: ele sublima as perdas, brinca de Pollyana Menina, revertendo as coisas para vislumbrar suspostos lados bons...realmente, não é mais a mesma pessoa.
Gosto dele. Gosto dele: também nunca pensei que falaria que gosto dele como quem diz que gosta de vermelho ou de suco de morango!
Assim é a vida, mas o coração continua!

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