Louquética

Incontinência verbal

sábado, 15 de março de 2014

Cuba Livre?


Estou numa cidade longe para cachorro, uns 600km longe de minha casa. para cá, como eu, vieram outros profissionais, dos quais alguns médicos cubanos.
Falávamos - eu e mais dois professores - da situação vergonhosa que o Brasil criou ao remunerar com diferença os médicos cubanos, passando para eles não somente valores abaixo do que se paga a um médico no Brasil como também repassando ao governo cubano percentuais altíssimos, forçando, por conseguinte, os médicos cubanos a custear a estada no Brasil com mil a três mil reais.
Um de meus colegas, ao deparar com um deles na sacada do hotel, questionou a este respeito, adotando postura favorável ao profissional que estava perto de nós e citando a coragem da medica (Ramona?!) que denunciou tais disparates.
Incrível foi ouvirmos o médico discordar da colega e afirmar que ela errou pois os problemas deles com Cuba não devem ser discutidos fora da pátria. Além disso, afirmou que os que vieram para o Brasil, de antemão, sabiam as regras do jogo e concordaram em vir.
No contexto, ele se mostrou radical e alienado, surpreendendo a todos nós, que temos em alta conta a consciência política dos cubanos em geral e destes médicos em especial. Ficamos, pois, decepcionados.
Não era ali mera discordância, porque todo mundo tem direito a isso: era o desejo do nosso interlocutor de não enfrentar as falhas das políticas Cubana e Brasileira, como fazíamos nós.
Todos que viemos para longe, o fazemos porque precisamos de dinheiro, temos responsabilidade, ética e qualificação profissional em nossas áreas. Isso não nos impede de ver os defeitos, os lapsos, os equívocos. Que visão curta acerca de todo um contexto!
Os problemas do Brasil não afetam somente o Brasil: não estamos isolados, não somos isentos de erros, não somos perfeitos... Se quiserem dizer que a comunicabilidade entre os países ultrapassa questões econômicas, acertarão em cheio. Com isso, o estado da grama do vizinho nos afeta muito. E se este vizinho faz uma visita à nossa casa, afeta muito mais.
Logicamente, respeitamos as fronteiras entre terrenos e propriedades da vizinhança. Porém, se no vizinho há barulho, isso nos atinge; se as condições sanitárias do vizinho não forem adequadas, sofremos a consequência e dentre as mais parcas e grosseiras analogias que podemos fazer, nada chegará perto da direta afirmação de que países que constituem pactos de toda espécie expressam seus laços recíprocos e as consequências do relacionamento entre as partes. Traduzindo em bom português: ficamos mesmo decepcionados pelo fato do médico condenar a colega de pátria e de profissão por ter jogado no ventilador as atrocidades vividas. Preferem o silêncio, aprenderam a calar e minimizar o impacto das ações. Que pena!
Tomara seja ele uma exceção no tocante ao pensamento geral sobre o caso. Independentemente de regimes políticos e nacionalidades, sempre é triste qualquer forma de desrespeito e a impossibilidade de confrontar versões dominantes, além da força que faz calar opiniões.
Pelo jeito, Cuba Libre é só uma bebida brasileira à base de rum e Coca-Cola...

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