Louquética

Incontinência verbal

quinta-feira, 14 de julho de 2016

E o passado fez as malas...


Eu nunca consegui terminar uma relação sem sofrer junto com o Outro, exceto nas raríssimas vezes em que me arrependi por ter começado a relação.
Nessa de me desvencilhar dos paralelos, li há pouco uma indireta de V., para mim, uma transcrição de Guimarães Rosa, a se conformar com o fim. No caso dele, o fim de meus sentimentos - e o consequente fim das massagens no ego dele, porque ele adora ser paparicado.
Com F eu inventei que tiraria o fim de semana para ficar mesmo com outra pessoa, porém inespecífica. e parei de manter contato, para não alimentar o que eu não queria de jeito nenhum.
Mas o ex, o que se pensou namorado, ah, esse gosta de uma autocomiseração, se faz de desentendido, faz cara de cachorro na chuva, faz ameça, roga pragas...Olha, vou aproveitar e dizer com todas as letras e quem tiver juízo que tome por conselho: se uma relação fica nesse ponto, se já contabilizou vários vai-e-vem, se no último vai a pessoa não foi, desista. Lembre como era sua vida antes dessa pessoa. Você existia? Respirava? Comia? Pois é, depois dela você ainda pode. Não alimente relações doentias e também não se escore em tarja-preta para resolver seus problemas. Remédio controlado não é drops, não é bala para distrair das dores, a vida toda, exceto se você tem esquizofrenia.
Tristeza não é depressão e depressão não cura com remédio: o  remédio é localizar a causa da tristeza e procurar solução.
Ninguém quer lembrar que foi estuprada pelo tio, nem que teve família negligente, nem que admitir que tem vergonha por ter achado gostosa a carícia sexual feita pelo primo; também ninguém quer admitir que tem inveja da irmã e da amiga; que detesta a própria família; que se acha feia; que se sente inferior; que se acha burra; que tem mágoa dos pais; que odiou a primeira vez no sexo; que fez coisas de que se arrependeu; que se acha fracassada; que se sente preterida por não ter provas vivas do amor de alguém por si; que quis ser rainha da festa junina da escola; que odeia o próprio corpo, que tem vergonhas, dores, ciúmes. Ninguém quer falar disso. Isso, no geral, está sob as crises psíquicas das pessoas, ao lado de coisas positivas como a conquista de um cargo, de um título, de um bem, porque sabe que será cobrada pelo sucesso. Diz o ditado: "Prego que se destaca, leva martelada". Que ninguém pense que a vida de quem tem sucesso é fácil.
Mesmo gente cuja beleza é invejável, tem conflitos - sabe que a acharão metida, que se aproximarão por causa da beleza, mas não por amor verdadeiro...
Tem os que só sabem ser felizes se casados e os que pensam que felicidade só mediante maternidade. Ou seja, todo mundo tem conflito. todo mundo tem problema. Apenas varia.
Qual o pior deles? Todos.
Dor é dor, não importa a natureza: o tamanho da dor é o mesmo. E aí, Vai tomar um Rivotril ou uma providência?
O citado moço não aguenta passar pela dor e pela angústia da perda.
Escondo meu poeta dele. Escondo, no geral, minha vida toda, por menos que possa parecer. Ontem, mesmo, um povo de meu ex-trabalho no mundo militar, teve a cara de pau de perguntar onde estou, o que faço e quanto ganho. Assim mesmo. E eu dei respostas claras e indiretas ainda mais claras, porque não admito uma coisa dessas: é gente demais especulando meus passos. Sei que virão calúnias pesadas depois que eu me desvencilhar do moço dramático.
Hoje foi demais: repeti que a gente estava há meses afastados, que eu não sentia amor, que eu não queria ele...Não tem jeito: ele sempre volta, ignorando a conversa e o término. Penso em ir embora de minha casa e de minha cidade. Já dei passos para isso. Quando um não quer, mas o outro insiste, é preciso ir embora. Uma pena.
Eu gosto dele, mas não para relacionamento de homem e mulher.
Ele não sabe passar pela dor. A gente evita, eu sei. A gente desvia. Mas como um homem pode querer a presença de uma mulher que declara seu desamor? Como a gente pode forçar o outro a nos amar? Como pode ter ódio por coisas que não dependem da vontade?Mas não adianta: ele nega a realidade e não vê que o sonho acabou e é hora de despertar.

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