Já ouvi muitas esquisitices sexuais na minha vida.
Ouvi, não as pratiquei, infelizmente, seja por falta de coragem, parcerias ou
álcool mesmo. Digo, porém, que uma das coisas mais esquisitas que já ouvi na
vida, foi num evento na Universidade Católica de Salvador, com o povo do meu
curso, quando um cara que conheci lá, chamado Eliseu, falou: “Poxa, fiquei tão
a fim de você e do seu namorado!” – coisa que Washington tinha insinuado,
também, mas assim, com todas as letras, foi a primeira vez.
Imagine só, por menor que seja nosso preconceito e
o peso do cerceamento moral na nossa vida, não é sem surpresa que a gente
escuta que alguém nos quer e ao nosso namorado simultaneamente.
No sábado o maior amigo do meu namorado atual
insinuou que queria ver a intimidade da gente. Depois disse claramente, pediu e
propôs ficar de voyeur e eu disse que não. Ele pediu para que pensássemos por
um tempo. Repeti o não e esclareci que sexo entre pessoas apaixonadas não
conquista plateia nenhuma.
O amigo do meu namorado disse que esperava alguma
coisa diferente, um sexo selvagem.
Bem, agora eu quero saber: o que é sexo selvagem?
sexo na selva? Sexo como animais? Se for, não me interessa porque não sou um
animal e gosto da ars erótica de que
fala a História da Sexualidade de Michel Foucault.
Vamos trocar em miúdos? Esse suposto sexo selvagem
é o sexo mecânico dos filmes pornográficos, é o sexo sem sensação para os
pares, feito de demonstrações e malabarismos para o deleite de terceiros, é o
sexo da submissão da mulher, onde o homem não faz nada pelo prazer dela, onde
tudo é plástico e chato, previsível, padronizado. Acho que os animais fazem
melhor que isso, seja em que selva for.
Ele, o amigo do meu namorado, deve ter se deixado
levar pelas narrativas dele, porque somos bons parceiros mesmo e vivemos coisas
incríveis, temos uma sintonia sexual admirável e temos muitas histórias para
contar (logicamente, não vou contar aqui). E no sentido dos nossos sentidos, na
exploração das potencialidades eróticas que o corpo permite, reciprocamente
somos loucos um pelo outro, donde já declarei que ele me domina pelo sexo. Minha
amiga me advertiu: “Cuidado: vicia, é pior que droga, dá mesmo uma dependência!”.
Alguém, em algum tempo e em algum lugar, separou o
sexo do amor. Para mim, se um acompanha o outro, melhora ainda mais. Mas para
os outros isso é entediante. Sexo com intensidade e carinho, com visível
paixão, certamente é decepcionante para os tarados.
Penso, porém, de onde sai tamanha coragem para um
amigo pedir ao outro para presenciar suas intimidades? E eu, que sou tímida,
será que não deixo transparecer que está fora de cogitação me exibir para
terceiros?
E por falar em timidez, coisas esquisitas e tensões
eróticas descabidas, conto a novidades deste semestre: Com a vida profissional,
perdi também a prática de conviver com seres heterossexuais masculinos,
conforme também já disse antes. Nesta semana que passou, por exemplo, perdi o
ar quando fui cercada por alunos que procuravam flerte, a pretexto de me pedir
indicações de livros, ficarem sozinhos comigo e me olharem mais de perto. O
primeiro me pediu as indicações dos livros, e lá estava eu, dando-lhe as
referências, quando o outro interrompeu: “– E esses seus olhos, são seus mesmo?”.
Nem respondi, porque o terceiro disse: “– Se os olhos não forem, as pernas, com
certeza, são!”.
Como qualquer pessoa, tenho ego. Lógico que me
senti lisonjeada. Mas me senti muito mais constrangida e envergonhada... Não
dou aula a heterossexuais, não sei como é isso. E desde o semestre anterior tem
sido um aprendizado.
O menino mais ‘atirado’ é muito bonitinho mesmo,
mas de onde é que eles tiram que a gente, profissional, vai se desmoralizar na instituição
para pegar aluno? Eu perderia o rebolado no dia seguinte, viveria a certeza de que todo mundo sabia, nem pensar! Aceito o flerte como parte integrante das relações do
conhecimento, da universidade, do contexto... Mas, olha, o mundo está esquisito
mesmo. E as pessoas, ainda mais!
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