Como qualquer um cristão desamparado das certezas,
examino a vida, o pós-vida, as respostas que nunca me chegarão e volto ao ponto
em que meu amigo Chuck me disse meio assustado que a vida, para mim, era um
suplício. Deixo apenas a ressalva do passado ateu e suicida do meu amigo, que
atualmente é bem vivo e católico (tendo sido messiânico também nesta
transição).
Sim, a vida é, para mim, um suplício. Isso não me
impede de ser feliz, de me sentir feliz... E ainda assim, nunca alimentei
desejos suicidas. Contudo, se fosse uma escolha voluntária, eu preferia não
existir, não ser.
Também o meu ex, num dado contexto, perguntou se eu
apreciava ter nascido. E eu lhe disse que não. Porém, já que estou viva, faço o
possível por mim, batalho para ser feliz com a felicidade possível, tenho
alegrias em minha vida e jamais tive medo real de enfrentar uma angústia.
Lógico, se eu pudesse evitar as angústias, não sentiria nenhuma. Mas se elas
aparecem, enfrento, dou conta da minha vida.
E como ser humano comum e filho de Deus que até já
propôs ao Criador um recall de seres humanos, agora aduzindo a algo citado por
Divaldo Franco na palestra dada na quarta-feira, durante a semana espírita (ele
dizia que há religiões que, em linhas gerais pregam isso), penso que há algum
contrassenso em ver um Deus que criou, deu errado, destruiu, fez de novo, deu
errado, se arrependeu e, enfim, eis-nos aqui.
Esquisito um Ser perfeito criar seres imperfeitos,
falhos, maus, errados... Ainda que sob o pretexto religioso do livre-arbítrio.
Pois, então, esse negócio é muito mal explicado. Não obstante, Deus não dá
respostas claras e deixa aos fabricantes de respostas absolutas uma
oportunidade incrível de criar consensos, enrolar os tolos, iludir os frágeis e
deturpar o que for possível.
Acredito em acasos. Também acredito em causa,
efeitos, desdobramentos, consequências... Casualidades e causalidades, porque a
vida é múltipla. Às vezes, Deus intervém. Quase sempre, ele não se mete, nem
seus aliados. Como eu já disse, a única coisa que eu julgo estar na
determinação divina é o dia da morte. O resto é tudo incerto, livre e
indeterminado.
Penso, porém, que cada um de nós flexiona os dogmas
religiosos sob os moldes de suas análises. Repudio quem é incapaz de
questionar, quem aceita a resposta pronta e fica satisfeito, como a gente
quando está apaixonado pela pessoa errada e repete o clichê que diz que “O
coração tem razões que a razão desconhece”.
Penso, também, na agonia de existir. Gente, este
inferno nunca passa! A gente vem ao mundo, ganha um crachá de pecador e muitas
dívidas no currículo, que vão do Pecado original, passa pelos pecados ‘nada
originais’ próprios à vida e deságua em prováveis dívidas de vidas passadas. Anagrama
ingrato, né? VIDA/DÍVIDA.
E isso nunca acaba. E a gente vive se vigiando, com
medo do desamparo divino, de padecer no Inferno... Ser humano não é fácil e é
um risco constante, mas o pior é que isso nunca acaba e ainda inventaram a tal
da Eternidade. Feliz é a pedra, que simplesmente existe. Um dia, se desgastará
e deixará de existir, sem maiores preocupações.
Sou muito encanada com isso de ser cremado: eu,
hein? Voltar ao pó, virar cinzas, não se dar à graça sequer de alimentar um
verme, de se decompor e gerar fogo fátuo, como as luzinhas que eu via, quando
criança, à noite, no cemitério da cidadezinha que morei no interior de Alagoas...
O problema é que até chegar a morte, a gente tem
que se virar com a vida que a gente tem, batalhar para que ela melhore, cuidar
de si, cuidar um pouco dos outros, trabalhar, perder tempo, se perder, rir nos
raros momentos em que a vida parece valer a pena e ir seguindo em frente,
sempre sem respostas. Não adianta estudar: não há respostas, nem hipóteses satisfatórias...
E sempre dá um medo que esse povo louco esteja certo e a gente esteja amarrado
na infinitude de existir, morrer, voltar... Tudo tem um tempo de ser. Ideia de
eternidade me enlouquece, qualquer que seja a eternidade. Deus me livre!
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