Louquética

Incontinência verbal

domingo, 6 de outubro de 2013

"Existirmos, a que será que se destina?"




Como qualquer um cristão desamparado das certezas, examino a vida, o pós-vida, as respostas que nunca me chegarão e volto ao ponto em que meu amigo Chuck me disse meio assustado que a vida, para mim, era um suplício. Deixo apenas a ressalva do passado ateu e suicida do meu amigo, que atualmente é bem vivo e católico (tendo sido messiânico também nesta transição).
Sim, a vida é, para mim, um suplício. Isso não me impede de ser feliz, de me sentir feliz... E ainda assim, nunca alimentei desejos suicidas. Contudo, se fosse uma escolha voluntária, eu preferia não existir, não ser.
Também o meu ex, num dado contexto, perguntou se eu apreciava ter nascido. E eu lhe disse que não. Porém, já que estou viva, faço o possível por mim, batalho para ser feliz com a felicidade possível, tenho alegrias em minha vida e jamais tive medo real de enfrentar uma angústia. Lógico, se eu pudesse evitar as angústias, não sentiria nenhuma. Mas se elas aparecem, enfrento, dou conta da minha vida.
E como ser humano comum e filho de Deus que até já propôs ao Criador um recall de seres humanos, agora aduzindo a algo citado por Divaldo Franco na palestra dada na quarta-feira, durante a semana espírita (ele dizia que há religiões que, em linhas gerais pregam isso), penso que há algum contrassenso em ver um Deus que criou, deu errado, destruiu, fez de novo, deu errado, se arrependeu e, enfim, eis-nos aqui.
Esquisito um Ser perfeito criar seres imperfeitos, falhos, maus, errados... Ainda que sob o pretexto religioso do livre-arbítrio. Pois, então, esse negócio é muito mal explicado. Não obstante, Deus não dá respostas claras e deixa aos fabricantes de respostas absolutas uma oportunidade incrível de criar consensos, enrolar os tolos, iludir os frágeis e deturpar o que for possível.
Acredito em acasos. Também acredito em causa, efeitos, desdobramentos, consequências... Casualidades e causalidades, porque a vida é múltipla. Às vezes, Deus intervém. Quase sempre, ele não se mete, nem seus aliados. Como eu já disse, a única coisa que eu julgo estar na determinação divina é o dia da morte. O resto é tudo incerto, livre e indeterminado.
Penso, porém, que cada um de nós flexiona os dogmas religiosos sob os moldes de suas análises. Repudio quem é incapaz de questionar, quem aceita a resposta pronta e fica satisfeito, como a gente quando está apaixonado pela pessoa errada e repete o clichê que diz que “O coração tem razões que a razão desconhece”.
Penso, também, na agonia de existir. Gente, este inferno nunca passa! A gente vem ao mundo, ganha um crachá de pecador e muitas dívidas no currículo, que vão do Pecado original, passa pelos pecados ‘nada originais’ próprios à vida e deságua em prováveis dívidas de vidas passadas. Anagrama ingrato, né? VIDA/DÍVIDA.
E isso nunca acaba. E a gente vive se vigiando, com medo do desamparo divino, de padecer no Inferno... Ser humano não é fácil e é um risco constante, mas o pior é que isso nunca acaba e ainda inventaram a tal da Eternidade. Feliz é a pedra, que simplesmente existe. Um dia, se desgastará e deixará de existir, sem maiores preocupações.
Sou muito encanada com isso de ser cremado: eu, hein? Voltar ao pó, virar cinzas, não se dar à graça sequer de alimentar um verme, de se decompor e gerar fogo fátuo, como as luzinhas que eu via, quando criança, à noite, no cemitério da cidadezinha que morei no interior de Alagoas...
O problema é que até chegar a morte, a gente tem que se virar com a vida que a gente tem, batalhar para que ela melhore, cuidar de si, cuidar um pouco dos outros, trabalhar, perder tempo, se perder, rir nos raros momentos em que a vida parece valer a pena e ir seguindo em frente, sempre sem respostas. Não adianta estudar: não há respostas, nem hipóteses satisfatórias... E sempre dá um medo que esse povo louco esteja certo e a gente esteja amarrado na infinitude de existir, morrer, voltar... Tudo tem um tempo de ser. Ideia de eternidade me enlouquece, qualquer que seja a eternidade. Deus me livre!

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