Às vezes eu paro e fico olhando o retrato dele, em
busca de alguma certeza, ou para me chamar novamente à realidade e dizer a mim
mesma que ele é somente um ser humano como outro qualquer e que o amor, a
paixão, tudo não passa de uma construção maluca e idealizada que as mentes vulneráveis
criam e atribuem ao coração.
Ele não se sente seguro comigo, nem eu com ele: por
isso não me decido, deixo a água rolar, mas temo que tudo vire uma enchente. E
essa nossa atordoante sinceridade, onde vai parar? Porque falo o que penso e o
que faço e ele também. Como se minha vida fosse somente isso! E a sempre
presente afirmação dele de que não há espaço para ele em minha vida. Não
entendo isso. Não entendo a briga porque digo ao nosso amigo em comum, quando
indagada, na frente dele, que quero o namoro por tempo indeterminado porque
gosto de minha liberdade, de fechar a porta e ouvir música ou estudar; de ter
segredos; de ter escolhas; de dormir até morrer... de esperar por ele, de buscar por ele, de sentir a falta e as ansiedades.
Somos ciumentos: após o aniversário dele, fiquei
sem dormir, como sempre. No dia seguinte estávamos loucos para nos encontrar,
mas havia o sono, o cansaço e as urgências da vida prática. Decidimos que
ficaríamos em casa, cada um na sua. Não telefonei mais depois das oito da noite.
E no domingo passei o dia evitando ligar, talvez esperando que ele ligasse... Até
que ele ligou, perguntando o que eu
estava fazendo. Eu disse que estava assistindo ao primeiro episódio da terceira
temporada de Revenge, no Canal Sony,
e que estava jogada no sofá, sonolenta, isso era cerca de 15 ou 16 horas... Em bom idioma baianês ele disse: “Então,
ontem o reggae foi bom!”, indicando que meu sono era o saldo da festa que eu supostamente
fui. Não fui à festa alguma sem ele e confessei que também achei que ele não
ficou em casa coisa nenhuma. No fim, li tudo isso como desconfiança e ciúmes
recíprocos. Depois achei bonita a nossa humanidade expressa nesses defeitos.
Na noite anterior, ele, que vive me falando de
medo, reclamou porque eu disse ter medo de me envolver ainda mais: “Com as
outras pessoas você não teve medo. Por que só comigo precisa ter?”. De onde será
que ele tirou que eu não tive medo de gostar de alguém além dele?
Errei muito, porém coloquei a culpa no Cupido.
Perdi o jeito de viver histórias de amor. E esta
era somente uma história de paixão sexual, de sintonia sexual... E talvez ainda
seja e a intensidade tenha feito a gente confundir tudo. Se 'quando bate fica', está ficando mesmo!
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