Louquética

Incontinência verbal

sábado, 19 de setembro de 2015

Tímido destemido


Há que se perguntar o que dá nas pessoas para se encherem assim de coragem e derramarem, sem nenhuma preliminar, o quanto nos desejam. Vou ficar a me perguntar - porque a ele eu perguntei e obtive uma resposta insuficiente - o que deu nele. Ora, vai saber por que o cara acorda e, de repente, aciona os meios digitais disponíveis e...Pluft! Joga ladeira a baixo a conversa toda. Isso levando-se em conta que nossa conversa nunca excedeu a Literatura, as construções textuais e os temas da atualidade, embora eu não seja professora dele e, ressalto sem a menor sombra de mentira ou hipocrisia: Nunca peguei, fiquei, namorei, transei ou dei amasso em alunos meus. Flertar, já flertei - nunca passou de conversa; me interessar, já me interessei - nunca passou de idealização...
Sei é que o cara, como bom heterossexual praticante, um macho jurubeba no estilo descrito por Xico Sá, mandou logo, com todas as letras que queria ficar comigo ontem.
Como não poderíamos mudar da água para o vinho, ainda questionei se ele não confundiu meu número com outra mulher homônima, já que ele é também homônimo de outro querido meu e esta seria uma coisa possível.
Não! ele me deu um ultimatum, falou, blablablou o que podia e me jogou na berlinda ética porque ele é muito mais novo que eu e isso conta para mim. Desde o aniversário da mãe dele, em maio, em que eu estava com mais uma amiga - e ele, com a então namorada -, para mim estávamos congraçando como família e, ao notar o traquejo social entre todas as partes, achei que ele estava feliz pelo nosso entendimento geral, pelas compatibilidades...Sabia que ele via em mim coisas que via também na namorada, mas isso foi uma observação sem a menor malícia. Eu deveria saber que isso significava não apenas intersecções entre mim e Laura, a namorada dele, mas o fato de haver um padrão de preferências dele.
Este, sim, embora eu não seja um objeto vendável, declarou por outros meios que eu era um desejo de consumo. Só pude ficar chocada, petrificada, sem reação...E a pergunta interior saiu de mim, indaguei, também com todas as letras, o que deu nele? que precedente eu abri, para que ele se sentisse confortável para declarações tão ousadas? agi dentro do arquétipo da mãe e falei mesmo: "Oh, moleque, que tom é esse? Que palavras são essas?"...E ele naturalizou a coisa, falou que o surto de coragem veio por acaso, porque concluiu que fazia tempo que havia a admiração por mim e que ele achava aquela admiração falsa, não por não existir, não por não reconhecer como admiráveis minhas 'coisas' de intelectual, mas porque me achava desejável, fazia tocaias com o olhar, nutria simpatia de longa data e queria mesmo me pegar, me beijar e etc. E o 'et coetera', então, tinha tudo que um etc. pode ter.
Pasma, pedi para pensar, para entender, para me recompor do choque. Ele disse que não! que se eu fosse pensar, iria ponderar, pensar demais e ser consequente, com medo de sentir culpa. E que se fosse para pensar, que eu pensasse em frente a ele, dali a duas horas, porque ele também se resolveria.
Fui. Ele chegou. Saí do meu carro e entrei no dele. Tentamos começar a conversa, mas não renderam palavras muito suficientes. Aceitei o beijo. Aceitei o abraço e o carinho. Devolvi uma parte, depois, já gelada de nervosismo e vergonha. Ficamos. Ficamos juntos, Poucas palavras de duas pessoas tímidas...O coração dele estava mais acelerado que os meus pensamentos... Mas o que será que deu nele?

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